Produto oferece diversificação e vantagem tributária; só taxa de administração
pode ser empecilho
Luis Stuhlberger, da Hedging-Griffo: fundo de fundos inclui melhores gestores
No futebol brasileiro, o técnico da seleção é o único que pode contar com os
melhores jogadores do país. Pelas conhecidas limitações orçamentárias, nenhum
clube pode se dar ao luxo de montar um time apenas com foras-de-série como
Neymar, Robinho, Kaká, Júlio Cesar e Luis Fabiano. Já no mercado financeiro, a
coisa é bem diferente. Várias instituições financeiras podem escalar os melhores
gestores para gerir os recursos de seu portfólio. Um único fundo de um banco
pode dividir o dinheiro de seus quotistas entre um multimercado do Credit Suisse
Hedging-Griffo, um long-short da Polo Capital, um fundo de ações da Geração
Futuro, um multimercado macro da Gávea Investimentos e um fundo de arbitragem do
Pátria.
Esse time de craques do mercado pode ser reunido dentro dos chamados fundos
multigestores, ou "fundos de fundos". São produtos que oferecem uma
possibilidade dupla de diversificação. Como qualquer outro multimercado, os
"fundos de fundos" investem em diversos ativos, como títulos públicos, crédito
privado, contratos cambiais, derivativos e ações, entre outros. Além disso,
esses fundos podem reunir os gestores mais especializados do mercado em cada uma
dessas classes de ativos. E, se não quiser concentrar suas apostas em um único
gestor para o mercado de ações, por exemplo, o "fundo de fundos" ainda pode
contratar o serviço de vários especialistas em bolsa.
Existem várias vantagens em montar sua estratégia de diversificação por meio
de fundos multigestores. A principal é poder convocar os craques que geralmente
só jogariam para plateias mais abastadas. Com "apenas" 100.000 reais no bolso,
não é possível investir em algumas das melhores casas de gestão do país, como
Polo Capital, Gávea Investimento ou JGP. O investimento inicial mínimo exigido
por determinados gestores chega a superar 1 milhão de reais. Já por meio de
"fundo de fundos", é possível entrar nesse jogo. A XP Investimentos, por
exemplo, oferece esse produto com um investimento mínimo de 1.000 reais.
Optar por um fundo multigestor é uma opção inteligente também para quem busca
investir com segurança no exterior. Existem casas especializadas em procurar os
melhores gestores estrangeiros. Uma seleção bem-feita é especialmente importante
porque em países como os Estados Unidos os níveis de transparência na divulgação
de informações dos fundos não são tão grandes como no Brasil - a pirâmide
montada por Bernard Madoff é a maior prova disso. Arthur Mizne, sócio do M
Square Fund, por exemplo, já conversou pessoalmente com 2.500 gestores de fundos
de investimento no exterior, entendeu suas estratégias e selecionou os que
apresentam os resultados mais consistentes. "Sempre visito os gestores
procurando motivos para não investir com eles.", diz Mizne. "Só aplico dinheiro
quando fico totalmente convencido da capacidade de alguém ganhar dinheiro."
Seleção
Esse processo de seleção é complexo mesmo para a escolha de "fundos de
fundos" no Brasil. Aquiles Mosca, estrategista de investimentos do Santander
Asset Management, diz que o banco possui um comitê responsável por fazer uma
auditoria completa nos resultados apresentados por diversos gestores, enviar um
questionário para entender como o executivo investe, entrevistá-lo para avaliar
a consistência de seu processo de tomada de decisão, analisar os controles de
risco e acompanhar constantemente a performance de centenas de fundos.
Após escolher os fundos em que o dinheiro será investido, ainda será
necessário acompanhar o desempenho da aplicação periodicamente e verificar se o
gestor está cumprindo o que foi prometido. "Meu trabalho é verificar se o gestor
está fazendo o trabalho dele", diz Marcelo Caldeira, responsável pela área de
fundos de fundos da XP Investimentos. "Se ele não estiver, eu tenho que resgatar
os recursos."
Essa, no entanto, é só uma parte do trabalho. Alcindo Costa, executivo sênior
de fundos multigestores do HSBC, diz que o processo de seleção de gestores toma
70% de seu tempo. Os demais 30% são gastos em discussões com o comitê de
investimentos do banco para analisar os produtos mais adequados para investir de
acordo com o cenário econômico traçado. A tese do HSBC é que não adianta
selecionar o melhor gestor de ações do Brasil se o viés da bolsa é de baixa.
Nesse caso, o banco vai procurar o gestor de algum produto que seja indicado
para um ambiente de desvalorização das ações.
Benefício tributário
Os fundos multigestores também acabam oferecendo aos quotistas um benefício
tributário que não está disponível para quem monta sua carteira por conta
própria. No Brasil, os fundos multimercados são tributados de acordo com uma
tabela regressiva do Imposto de Renda. A alíquota máxima é de 22,5% do ganho
obtido para aplicações de até 180 dias e a mínima é de 15% para as superiores a
dois anos. Então, quando o gestor do "fundo de fundos" tira recursos de uma
aplicação e coloca em outra, o tempo do investimento continua correndo para fins
tributários. O IR será pago de acordo com o prazo total em que o dinheiro ficou
aplicado no fundo multigestores. Já quando a pessoa física saca diretamente o
dinheiro de um fundo e o transfere para outro, terá de pagar a alíquota de IR
correspondente ao prazo da primeira aplicação - logo, a mordida poderá
ser maior.
Por outro lado, o "fundo de fundos" costuma ter uma taxa de administração
mais alta que a média dos multimercados. Gustavo Cerbasi, o especialista em
finanças pessoais que mais vende livros no Brasil, explica que a taxa é mais
alta porque remunera tanto o profissional que escolheu os fundos em que o
dinheiro seria investido quanto o gestor propriamente dito. Essa forma de
remuneração é bastante incomum no exterior e pode gerar conflito de interesses.
Em tese, o profissional que escolhe o fundo onde o dinheiro será investido pode
selecionar aquele que lhe paga uma comissão maior - e não o que apresenta os
melhores resultados. Todos os gestores entrevistados por EXAME negam que essa
prática exista nos locais onde trabalham.
O valor das taxas costuma variar muito. Em um "fundo de fundos" mais
conservador, que busca um pequeno ganho em relação ao CDI, o ideal é que a taxa
de administração seja parecida com a de um fundo de renda fixa - ou cerca de 1%
ao ano. Já em um fundo mais arrojado que se propõe a buscar uma rentabilidade de
200% do CDI, por exemplo, não é nenhum absurdo se o gestor cobrar 2% de taxa de
administração mais taxa de performance equivalente a 20% do ganho acima do
benchmark. Isso, lógico, se os resultados do fundo tiverem sido realmente bons.
Por outro lado, se a performance for consistentemente ruim, talvez seja a hora
de você fazer seu papel de técnico da seleção e convocar outro gestor para seu
"fundo de fundos".