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Investimentos / Fundos - Fundo de fundos permite aplicar com os melhores gestores de cada ativo 

Data: 23/04/2010

 
 
Produto oferece diversificação e vantagem tributária; só taxa de administração pode ser empecilho

Luis Stuhlberger, da Hedging-Griffo: fundo de fundos inclui melhores gestores

No futebol brasileiro, o técnico da seleção é o único que pode contar com os melhores jogadores do país. Pelas conhecidas limitações orçamentárias, nenhum clube pode se dar ao luxo de montar um time apenas com foras-de-série como Neymar, Robinho, Kaká, Júlio Cesar e Luis Fabiano. Já no mercado financeiro, a coisa é bem diferente. Várias instituições financeiras podem escalar os melhores gestores para gerir os recursos de seu portfólio. Um único fundo de um banco pode dividir o dinheiro de seus quotistas entre um multimercado do Credit Suisse Hedging-Griffo, um long-short da Polo Capital, um fundo de ações da Geração Futuro, um multimercado macro da Gávea Investimentos e um fundo de arbitragem do Pátria.

Esse time de craques do mercado pode ser reunido dentro dos chamados fundos multigestores, ou "fundos de fundos". São produtos que oferecem uma possibilidade dupla de diversificação. Como qualquer outro multimercado, os "fundos de fundos" investem em diversos ativos, como títulos públicos, crédito privado, contratos cambiais, derivativos e ações, entre outros. Além disso, esses fundos podem reunir os gestores mais especializados do mercado em cada uma dessas classes de ativos. E, se não quiser concentrar suas apostas em um único gestor para o mercado de ações, por exemplo, o "fundo de fundos" ainda pode contratar o serviço de vários especialistas em bolsa.

Existem várias vantagens em montar sua estratégia de diversificação por meio de fundos multigestores. A principal é poder convocar os craques que geralmente só jogariam para plateias mais abastadas. Com "apenas" 100.000 reais no bolso, não é possível investir em algumas das melhores casas de gestão do país, como Polo Capital, Gávea Investimento ou JGP. O investimento inicial mínimo exigido por determinados gestores chega a superar 1 milhão de reais. Já por meio de "fundo de fundos", é possível entrar nesse jogo. A XP Investimentos, por exemplo, oferece esse produto com um investimento mínimo de 1.000 reais.

Optar por um fundo multigestor é uma opção inteligente também para quem busca investir com segurança no exterior. Existem casas especializadas em procurar os melhores gestores estrangeiros. Uma seleção bem-feita é especialmente importante porque em países como os Estados Unidos os níveis de transparência na divulgação de informações dos fundos não são tão grandes como no Brasil - a pirâmide montada por Bernard Madoff é a maior prova disso. Arthur Mizne, sócio do M Square Fund, por exemplo, já conversou pessoalmente com 2.500 gestores de fundos de investimento no exterior, entendeu suas estratégias e selecionou os que apresentam os resultados mais consistentes. "Sempre visito os gestores procurando motivos para não investir com eles.", diz Mizne. "Só aplico dinheiro quando fico totalmente convencido da capacidade de alguém ganhar dinheiro."

Seleção

Esse processo de seleção é complexo mesmo para a escolha de "fundos de fundos" no Brasil. Aquiles Mosca, estrategista de investimentos do Santander Asset Management, diz que o banco possui um comitê responsável por fazer uma auditoria completa nos resultados apresentados por diversos gestores, enviar um questionário para entender como o executivo investe, entrevistá-lo para avaliar a consistência de seu processo de tomada de decisão, analisar os controles de risco e acompanhar constantemente a performance de centenas de fundos.

Após escolher os fundos em que o dinheiro será investido, ainda será necessário acompanhar o desempenho da aplicação periodicamente e verificar se o gestor está cumprindo o que foi prometido. "Meu trabalho é verificar se o gestor está fazendo o trabalho dele", diz Marcelo Caldeira, responsável pela área de fundos de fundos da XP Investimentos. "Se ele não estiver, eu tenho que resgatar os recursos."

Essa, no entanto, é só uma parte do trabalho. Alcindo Costa, executivo sênior de fundos multigestores do HSBC, diz que o processo de seleção de gestores toma 70% de seu tempo. Os demais 30% são gastos em discussões com o comitê de investimentos do banco para analisar os produtos mais adequados para investir de acordo com o cenário econômico traçado. A tese do HSBC é que não adianta selecionar o melhor gestor de ações do Brasil se o viés da bolsa é de baixa. Nesse caso, o banco vai procurar o gestor de algum produto que seja indicado para um ambiente de desvalorização das ações.

Benefício tributário

Os fundos multigestores também acabam oferecendo aos quotistas um benefício tributário que não está disponível para quem monta sua carteira por conta própria. No Brasil, os fundos multimercados são tributados de acordo com uma tabela regressiva do Imposto de Renda. A alíquota máxima é de 22,5% do ganho obtido para aplicações de até 180 dias e a mínima é de 15% para as superiores a dois anos. Então, quando o gestor do "fundo de fundos" tira recursos de uma aplicação e coloca em outra, o tempo do investimento continua correndo para fins tributários. O IR será pago de acordo com o prazo total em que o dinheiro ficou aplicado no fundo multigestores. Já quando a pessoa física saca diretamente o dinheiro de um fundo e o transfere para outro, terá de pagar a alíquota de IR correspondente ao prazo da primeira aplicação - logo, a mordida poderá ser maior.

Por outro lado, o "fundo de fundos" costuma ter uma taxa de administração mais alta que a média dos multimercados. Gustavo Cerbasi, o especialista em finanças pessoais que mais vende livros no Brasil, explica que a taxa é mais alta porque remunera tanto o profissional que escolheu os fundos em que o dinheiro seria investido quanto o gestor propriamente dito. Essa forma de remuneração é bastante incomum no exterior e pode gerar conflito de interesses. Em tese, o profissional que escolhe o fundo onde o dinheiro será investido pode selecionar aquele que lhe paga uma comissão maior - e não o que apresenta os melhores resultados. Todos os gestores entrevistados por EXAME negam que essa prática exista nos locais onde trabalham.

O valor das taxas costuma variar muito. Em um "fundo de fundos" mais conservador, que busca um pequeno ganho em relação ao CDI, o ideal é que a taxa de administração seja parecida com a de um fundo de renda fixa - ou cerca de 1% ao ano. Já em um fundo mais arrojado que se propõe a buscar uma rentabilidade de 200% do CDI, por exemplo, não é nenhum absurdo se o gestor cobrar 2% de taxa de administração mais taxa de performance equivalente a 20% do ganho acima do benchmark. Isso, lógico, se os resultados do fundo tiverem sido realmente bons. Por outro lado, se a performance for consistentemente ruim, talvez seja a hora de você fazer seu papel de técnico da seleção e convocar outro gestor para seu "fundo de fundos".



 
Referência: Portal Exame
Autor: João Sandrini
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