Saiba mais sobre as vantagens e desvantagens dos fundos de curto prazo,
referenciados, renda fixa, multimercados, ações, cambiais e dívida externa
Apresentação da Análise do Perfil do Investidor: seleção consciente do fundo
Escolher o fundo de investimento certo para colocar seu dinheiro não é tarefa
simples. Muitos produtos possuem nomes enigmáticos - como fundos referenciados,
por exemplo - ou então nomes fantasia que não revelam as reais características
do produto - é óbvio que o "fundo diamante" vendido pelo seu banco não foi
batizado dessa forma porque investe em pedras preciosas. Pedir ajuda ao gerente
tampouco costuma ser produtivo. A maior parte dos responsáveis por uma agência
bancária está preparada para gerenciar sua conta corrente, mas não para dar
aconselhamento sobre investimentos. O investidor ainda pode recorrer ao
prospecto do fundo para obter mais informações, mas nem tudo que estará escrito
ali será inteligível.
Cientes das dificuldades dos clientes, os bancos brasileiros deram um passo à
frente em 2010 e passaram a oferecer questionários para o investidor avaliar
qual a sua tolerância ao risco de investimentos. Conhecido como Análise do
Perfil do Investidor (ou API), esse teste foi desenvolvido para mostrar se o
cliente do banco tem perfil conservador, moderado ou agressivo -
clique aqui, faça o teste e descubra em qual categoria você se enquadra. Ao
final do questionário, o banco apresenta uma sugestão da carteira de
investimentos mais adequada ao perfil identificado.
"Se o investidor tomar uma decisão contraindicada, estará assumindo os riscos
a despeito de todas as orientações", explica Eduardo Dotta, professor de fundos
de investimento do Insper. Neste caso, ele assinará um termo se
responsabilizando pela escolha. Apesar de parecer aterrador, o efeito no mercado
foi contrário. "Sem a ferramenta, quem era rotulado como conservador ficava
ressabiado de aplicar parte do patrimônio na renda variável, ainda que isso
fizesse sentido pela inexistência de compromissos financeiros mais imediatos",
diz Marcos Villanova, coordenador da Comissão de Distribuição de Produtos de
Varejo da Anbima (a associação dos bancos de investimento) e diretor de
Investimentos do Bradesco.
O teste, no entanto, não dará ao cliente subsídio para encontrar o fundo mais
adequado entre todas as opções do mercado. Afinal, um banco não vai recomendar o
produto do rival mesmo que ele seja melhor. Com o intuito de facilitar a
comparação entre os investimentos de diferentes instituições financeiras, a
Comissão de Valores Mobiliários (CVM) decidiu uniformizar as milhares de opções
oferecidas pelos bancos, distribuindo os fundos em sete grandes classes. No
Brasil, é possível aplicar em fundos de curto prazo, referenciados, renda fixa,
multimercados, ações, cambiais ou de dívida externa. O nome do fundo sempre fará
menção à classe em que ele se encontra - mesmo que haja também um nome fantasia.
Abaixo o Portal EXAME explica como funcionam esses produtos - e para quem cada
um é indicado:
1. Curto Prazo
Os fundos de curto prazo buscam acompanhar as variações das taxas de juros,
investindo exclusivamente em títulos públicos federais prefixados ou privados de
baixo risco de crédito. As restrições para a compra de ativos com prazo de
vencimento longo fazem com que a carteira fique menos sujeita à variações na
negociação dos títulos. Em geral, a rentabilidade destes fundos está atrelada à
Selic ou à taxa média de empréstimos feitos entre os bancos, conhecida como CDI
(Certificado de Depósito Interbancário). Com um prazo máximo de resgate dos
papéis de 375 dias e prazo médio de carteira de no mínimo 60 dias, os fundos de
curto prazo são considerados investimentos conservadores e de baixíssimo risco.
Indicação: Como é fácil converter os títulos destes fundos
em dinheiro, quem opta por esta aplicação quer mesclar a garantia de resgate a
curto prazo com a certeza de não se expor aos riscos e oscilações do mercado.
Ainda que a margem de rentabilidade seja pequena, o produto é interessante para
quem tem planos que devem se concretizar em menos de 12 meses, como o pagamento
das últimas parcelas de um carro ou de um apartamento. É importante lembrar que
investimentos de prazo mais curto pagam mais impostos. Quem deixar dinheiro
aplicado em um fundo por menos de um mês terá de pagar IOF (Imposto sobre
Operações Financeiras) - a alíquota varia de acordo com o número de dias. Além
disso, o Imposto de Renda sobre aplicações em fundos alcança 22,5% do ganho
obtido para aplicações de até 180 dias e 20% para investimentos de 181 a 360
dias. Por esse motivo, o professor Mauro Calil, especialista em finanças
pessoais, recomenda que o investidor prefira a caderneta de poupança a um fundo
de curto prazo sempre que planejar deixar o dinheiro aplicado por menos de 90
dias.
2. Referenciados
Apontam em seu nome o indicador de desempenhos que a carteira acompanha. Em
outras palavras, no mínimo 95% dos ativos devem seguir a variação de um
parâmetro específico, o chamado benchmark. O instrumento é usado para comparar a
rentabilidade entre diferentes investimentos. Fundos referenciados são
considerados seguros por terem um piso de 80% dos investimentos em títulos
públicos federais ou em títulos de renda fixa privados na categoria de baixo
risco de crédito. É nesta categoria que se enquadram os famosos referenciados
DI, que recebem o nome por acompanharem as mudanças das taxas de juros do CDI.
Por aplicarem recursos em títulos pós-fixados, isto é, com preço sujeito à
flutuação do mercado, os fundos DI registram valorização em momentos de alta nas
taxas de juros domésticos.
Indicação: A alta liquidez de um fundo DI vale a pena para
todos os perfis de investidor por ter a função de proteger o capital. Assim, os
agressivos podem reservar uma fatia mais gorda dos seus recursos em aplicações
de renda variável, mas ainda assim destinar 50% do capital em DI. Para os
conservadores, a porcentagem investida em fundos referenciados pode chegar a
90%. Os moderados podem optar pelo meio do caminho, destinando entre 60 e 70% do
seu patrimônio à aplicação. Vale ressaltar que eventuais aumentos na taxa de
juros forjam um cenário propício para ganhos financeiros com os fundos DI.
3. Renda Fixa
Investem no mínimo 80% dos seus recursos em ativos de renda fixa prefixados
(que rendem uma taxa de juros previamente acordada), ou pós-fixados. Como não
precisam acompanhar o desempenho das taxas de juros, estes fundos buscam
retornos adicionais em cenários de recuo nas taxas de juros. Isso acontece
porque existe a possibilidade de investimento de parte ou mesmo da totalidade do
patrimônio em títulos prefixados, ou seja, que irão render determinada taxa
independente das oscilações do mercado.
Indicação: Para quem procura a manutenção do poder de compra
em reais, os fundos de renda fixa podem ser uma boa alternativa, já que procuram
superar a inflação a longo prazo. Dividem a preferência dos investidores
brasileiros com os referenciados DI, e assim como estes, podem constituir boa
parte do portfólio de investimentos de quem aplica. A porcentagem de recursos
investida neste tipo de fundo varia em conformidade com o perfil do cliente.
Conservadores podem aplicar a maior parte do patrimônio nos fundos de renda
fixa, moderados entre 60 e 70%, e agressivos de 40 a 50%. A diferença é que, ao
contrário dos fundos DI, estes fundos tendem a apresentar valorização em
situações de diminuição da taxa de juros.
4. Multimercados
Alocam seus recursos em diversas formas de ativos, combinando investimentos
em renda fixa, câmbio, ações e derivativos (operações em que o valor das
transações deriva do comportamento futuro de outros mercados, como o de ações ou
de juros). O risco neste tipo de investimento varia de médio a alto: depende da
natureza dos papéis que compõem a carteira e da estratégia escolhida pelos
gestores para a administração do patrimônio. A procura pelas melhores
oportunidades para diversificar os ativos do fundo se assenta sobre o talento e
experiência desses profissionais, que devem combinar a aplicação do percentual
ideal dos recursos em cada um dos mercados e investir o dinheiro no momento mais
propício.
Indicação: Para o investidor com horizonte de resgate de
médio a longo prazo, o fundo multimercado é uma alternativa interessante e pode
funcionar como um bom instrumento de poupança, independente do perfil. Se por um
lado as políticas destes fundos pressupõem exposição ao risco, por outro as
possibilidades de aumentar significativamente a renda são maiores. Isso porque
um multimercado congrega a possibilidade de ganhar mais dinheiro com ações, por
exemplo, à segurança de não ficar exclusivamente à mercê do mercado (devido à
presença de títulos que pagam juros na carteira). O conservador pode destinar 5%
do seu patrimônio à aplicação, o moderado de 10 a 20%, e o agressivo, cerca de
30%.
5. Ações
Com no mínimo 67% da sua carteira alocada em ações negociadas em Bolsa de
Valores, estes fundos estão sujeitos às mudanças de preços dos ativos e contam
com o potencial de valorização dos papéis na busca por rentabilidade. O risco
para o investidor é alto, apoiado na volatilidade e inconstância do mercado
acionário. Alguns fundos desta classe buscam seguir a oscilação na composição de
um índice do mercado acionário, como o Ibovespa ou IBrX. São os chamados fundos
passivos. Já os fundos ativos são aqueles em que o gestor toma decisões de
investimento a partir de suas análises para a macroeconomia e para determinados
setores e empresas.
Indicação: De uma forma geral, atraem investidores
agressivos que querem aumentar a margem de lucro sem a urgência de um retorno
imediato. Investir em fundos de ações significa aceitar riscos em troca da
chance de aumentar o capital em um prazo maior. Não são indicados para quem
precisará do dinheiro no curto prazo nem para investidores avessos ao risco.
6. Cambiais
Mantém no mínimo 80% do seu patrimônio em ativos atrelados, direta ou
indiretamente, à variação de preços de uma moeda estrangeira ou à mudanças na
taxa de juros (cupom cambial). Esses fundos não refletem apenas a cotação da
moeda, pois taxa de administração e imposto de renda são tributos abatidos do
patrimônio.
Indicação: São uma alternativa para investidores que buscam
preservar o poder de compra do seu patrimônio na moeda estrangeira a longuíssimo
prazo. Para viagens ao exterior, pode valer a pena simplesmente comprar dólares
ao invés de investir em fundos cambiais. Isso porque as taxas de administração e
IR ameaçam minar a rentabilidade do fundo. Com o dólar a 2 reais, por exemplo, o
investidor precisaria de 6.000 reais para comprar 3.000 dólares. Caso optasse
por aplicar o montante no fundo, o capital ficaria sujeito às variações
cambiais. Se o dólar chegasse a 3 reais (aumento de 50%) e a carteira
acompanhasse 100% da valorização, o investidor passaria a ter 9.000 reais.
Contudo, sobre o retorno de 3.000 reais incidiria uma taxação de 15% de IR, o
equivalente a 450 reais. A alíquota corresponde a um resgate feito após dois
anos. Na prática, o sujeito teria agora 8.550 reais e seus 3.000 dólares
iniciais teriam se transformado em 2.850 dólares.
7. Dívida Externa
Investem no mínimo 80% do seu patrimônio em títulos representativos da dívida
externa de responsabilidade da União. O restante pode ser aplicado em outros
títulos de crédito transacionados no exterior. A rentabilidade dos fundos de
dívida externa é determinada por uma combinação entre a taxa de juros paga pelos
ativos, o desempenho dos papéis no mercado internacional e a taxa de câmbio
entre o dólar e o real.
Indicação: Caso o cliente queira ter títulos negociados fora
da país em sua carteira, fundos de dívida externa podem render lucros a longo
prazo. De qualquer forma, o investidor assume o risco de ver a rentabilidade
afetada pelas variações do real frente ao dólar. Alguns bancos só oferecem esse
tipo de fundos a pessoas jurídicas.