Apesar da queda dos juros, produto é indicado para investidores de qualquer
perfil que não planejem manter o dinheiro aplicado por muito tempo
Fundos DI também podem ser aconselháveis para quem está começando a investir
Quem nunca investiu num fundo pode, muitas vezes, não saber por onde começar.
Assim como a pessoa que está aprendendo a nadar, o investidor iniciante deve
primeiro pôr os pés na água e avançar aos poucos antes de dar um mergulho em
águas profundas. Para se familiarizar com esse novo universo, pode ser uma boa
opção aplicar em fundos referenciados. Entre os quais, está o tradicional DI, um
investimento de retorno cada vez mais baixo, mas praticamente garantido. Porém,
as primeiras lições nunca devem ser esquecidas: mesmo os investidores mais
experientes e arrojados sabem da importância de manter uma parte dos recursos em
fundos mais conservadores.
Fundos referenciados são fundos de renda fixa que aplicam, no mínimo, 95% do
seu patrimônio em papéis pós-fixados que acompanham determinado indicador de
desempenho, o chamado benchmark. Isto é, a grande maioria de seus
ativos tem preço sujeito à flutuação do mercado, subindo ou descendo de acordo
com o índice que baliza o fundo. Por exemplo, existem fundos que seguem a
variação da taxa Selic (taxa básica de juros) e do CDI (taxa média de empréstimo
entre instituições financeiras), de índices de inflação (como o IPCA ou o IGP-M)
ou do câmbio (no caso de moedas como o dólar e o euro).
São investimentos de baixo risco de inadimplência, uma vez que no mínimo 80%
da carteira deve ser composta por títulos públicos federais (Letras Financeiras
do Tesouro) e títulos privados de baixo risco, como debêntures (emitidos por
empresas) e Certificados de Depósitos Bancários (CDBs, emitidos por bancos). "Os
títulos de menor risco de oscilação são os que seguem o CDI e a taxa Selic",
explica Marcelo de Jesus, gerente nacional de fundos de investimento da Caixa
Econômica Federal. No entanto, alguns referenciados podem operar também títulos
de crédito privado mais arriscados, porém mais rentáveis.
De qualquer forma, os fundos referenciados são considerados conservadores,
ideais para objetivos de curto e médio prazo, como uma viagem ou a compra de um
carro. Especialistas costumam dizer que essa aplicação é voltada para todos os
tipos de investidor, do mais conservador - que não pode ou não quer lidar com
perdas no curto prazo - até o mais arrojado - que tem boas reservas, visa o
longo prazo e busca maior rentabilidade em investimentos mais arriscados.
Quando o fundo DI é vantagem
De todos os referenciados, sem dúvida os fundos DI indexados à CDI/Selic -
são os mais tradicionais, conservadores e normalmente menos rentáveis. São mais
seguros até do que os fundos de renda fixa que aplicam também em papéis
prefixados. Podem ser uma boa opção para quem está começando a investir, ou
mesmo para quem já investe em renda variável, mas quer manter uma posição
conservadora. Mas é preciso prestar atenção a algumas condições de mercado que
podem tornar os fundos DI realmente desvantajosos.
Como esses fundos se beneficiam de um cenário de alta na taxa de juros,
quando a Selic está baixa pode ser mais vantajoso aplicar na caderneta de
poupança. Especialmente porque, ao contrário da poupança, sobre os fundos de
investimento incidem impostos e a taxa de administração. Especialistas
recomendam que, para um fundo DI, a taxa não ultrapasse 1% ao ano. Por isso,
embora haja fundos com tíquetes de entrada baixos, de 30 a 50 reais, suas taxas
de administração podem ser tão altas que pode valer mais a pena aplicar na
poupança ou, melhor ainda, em outro tipo de fundo de renda fixa.
Mas mesmo para fundos com taxas "aceitáveis" é preciso levar em consideração
o cenário econômico na hora de escolher entre as aplicações conservadoras mais
rentáveis. Por exemplo, considerando-se que a rentabilidade da poupança é de
cerca de 6% ao ano, um fundo com taxa de administração de 1% ao ano e Selic a 9%
ao ano terá rendimento líquido um pouco acima da poupança para aplicações de
todas as faixas do Imposto de Renda (alíquotas de 22,5% a 15% regressivas de
acordo com o tempo em que o dinheiro está aplicado). Ou seja, para aplicações de
até 180 dias, na faixa de imposto mais alta, o rendimento líquido será de 6,14%,
no limite do rendimento da poupança. Mas se a taxa Selic cair a 8%, até quem tem
aplicações de mais de dois anos, pagando IR de 15% sobre os rendimentos, sai
perdendo em relação à poupança, com rentabilidade de apenas 5,89%.
Em outras palavras, quando os juros estão muito baixos, até a poupança
torna-se mais interessante. Mas se há perspectiva de alta sustentada de juros,
então os DI podem ser mais aconselháveis. É claro que o objetivo do investidor
deve pesar na hora de tomar essa decisão, pois os juros podem estar baixos hoje,
mas terem perspectiva de aumento até o fim do ano ou mesmo no ano que vem, o que
favorece o fundo DI se a meta do investidor for de médio prazo, por exemplo.
O professor de finanças da USP e criador do site ComDinheiro.com, Rafael
Paschoarelli Veiga, alerta para outro fator que pode tornar os fundos DI
desvantajosos: o fato de ser possível hoje aplicar diretamente em títulos
públicos a taxas de custódia muitas vezes menores do que as taxas de
administração dos fundos DI. "Pode ser melhor, portanto, se o fundo tiver em sua
carteira alguns títulos privados, com mais risco e rentabilidade", diz.
A hora de diversificar
Para Antônio Segura, gerente executivo da área de varejo do Banco do Brasil,
num cenário de juros mais altos, os referenciados DI (indexados à CDI/Selic) são
boas portas de entrada para o investidor novato no universo dos fundos. Ele
aconselha um investimento inicial de, pelo menos, 500 reais, já que fundos com
tíquetes de entrada menores normalmente têm taxas de administração mais altas.
Depois de começar a aplicar, no entanto, é importante que o cotista consiga
poupar um pouco todo mês para investir. "O melhor é começar devagarzinho. Assim
o investidor não tem surpresas, aprende aos poucos e não se frustra com
possíveis baixas a ponto de perder a disciplina de poupar", observa Segura.
Mesmo que o investidor opte por começar por fundos de renda fixa mais
rentáveis, é bom ter em mente que não se deve abdicar totalmente dos
investimentos conservadores mesmo depois de se acumular certa experiência e
algum patrimônio. Antônio Segura frisa que ninguém deve ter todo o dinheiro
aplicado apenas em fundos de renda variável. "Se acontece alguma urgência, como
uma doença na família, em um momento de baixa na bolsa, por exemplo, o
investidor é obrigado a vender suas ações às pressas, podendo ter prejuízo em
relação ao investimento inicial", alerta. É para essas demandas imediatas que os
fundos conservadores são mais indicados, destinando-se os fundos sofisticados
para os investimentos de longo prazo.
Mas qual é o momento certo de começar a investir parte do patrimônio em
fundos que operem em renda variável? Na opinião do executivo do BB, primeiro é
preciso formar um "colchão de liquidez" de pelo menos 20.000 reais por meio de
investimentos mais conservadores. A partir daí, pode ser uma boa pedida começar
a pensar no futuro e se aventurar por fundos como multimercados e de ações, mais
rentáveis e voláteis. "O investidor pode passar para um perfil moderado,
destinando 30% dos recursos à renda variável e deixando 70% em fundos
conservadores. Com o passar dos anos, com mais patrimônio, pode aplicar até 70%
dele em fundos arrojados", diz Segura.
Os fundos referenciados, assim como os demais fundos de renda fixa, sempre
foram uma preferência do brasileiro, historicamente com um perfil mais
conservador. Sucessivas crises e planos econômicos fracassados tornavam quase
certas as perdas em investimentos mais arrojados. "Era muito mais seguro aplicar
nesses fundos. No passado, quase todo mundo conhecia alguém que tinha perdido
dinheiro com ações", explica o professor Rafael Paschoarelli Veiga, da USP.
Mas apesar de cerca de 40% do patrimônio líquido dos fundos no Brasil estarem
concentrados em renda fixa, a procura por renda variável vem crescendo. "A bolsa
brasileira se tornou forte há pouquíssimo tempo. O brasileiro está, lentamente,
aceitando correr mais riscos", completa Veiga. Seja como for, os fundos
conservadores, referenciados ou não, devem continuar sendo, ainda por um bom
tempo, as primeiras braçadas e o porto seguro dos investidores brasileiros.