Você já parou para pensar em como toma suas decisões de consumo? Tente se
lembrar do momento em que viu determinado produto e decidiu comprá-lo. Deixe-me
ajudá-lo: o exato instante em que seu desejo falou mais alto trouxe, em sua
imaginação, diversas situações em que o uso do produto lhe conferia vantagens,
benefícios, satisfação e alegria. Tudo na sua cabeça, em ocasiões surreais, mas
suficientemente fortes. Momentos de forte emoção.
O estímulo varia de pessoa para pessoa, mas está sempre presente. O
sentimento de participação e pertencimento existente nas sociedades transforma a
compra em um hábito mais relacionado ao valor subjetivo e intangível de seu
legado que à real necessidade em torno do produto em questão. Ou existe alguma
lógica no dia-a-dia de alguém que gasta até 60% de sua renda em marcas e
produtos de luxo?
Eu compro, você compra, todo mundo compra...
Em outras palavras, compramos muito mais porque queremos do que porque
precisamos. E ai as coisas começam a se complicar. Apelando à tão maltratada
sabedoria popular, "querer não é poder". Comprar porque é bacana, dá
prazer e completa não garante continuidade profissional, melhores condições
familiares ou uma aposentadoria melhor. Não, isso só torna o presente
aparentemente mais rico.
A esta altura você está meio bravo comigo ou com uma ligeira culpa por ter
gasto tanto com algumas bobeiras e tão pouco com o que realmente interessa. De
repente mantém um guarda-roupa cheio de camisetas de grife, um bom carro na
garagem, mas reclama da falta de dinheiro para a reforma da cozinha e para o
curso de inglês dos filhos. Ou quem sabe você é do tipo que paga caro por muitas
horas em salões de beleza, mas deve no cartão de crédito e na faculdade. Um bom
observador e uma janela aberta podem conferir melhores exemplos.
A provocação incomoda, mas é capaz de fazer você refletir? Excelente! Sugiro
que mantenha a atenção e direcione seus pensamentos (a essa altura envolvidos
com as inúmeras compras dos últimos dias) para o texto. Você está
exatamente na situação que escolheu. Como toda interpretação está
sujeita a conclusões precipitadas, explico: escolhas são sempre reflexo de
prioridades. Ou da falta delas.
Priorizar é um passo essencial em qualquer área de nossa vida.
Sejamos francos e menos hipócritas ao menos uma vez: quem sustenta dívidas e/ou
vive com problemas financeiros sabe o que precisa fazer para mudar sua situação:
contabilizar as dívidas totais e negociá-las; anotar suas receitas e despesas;
cancelar cartões de crédito; consumir menos; economizar mais; aprender mais;
etc. Certas coisas são óbvias, mas mexem com coisas maiores que o bolso. Ego.
Orgulho. Família. Quem quer realmente se dar ao trabalho de sair da zona de (des)conforto?
Ao mesmo em tempo em que clamamos por práticas comprovadas para sair do
vermelho e investir com mais inteligência, relutamos em aceitar que a
responsabilidade de levar adiante novos hábitos financeiros é nossa, e só nossa.
Queremos que alguém ou alguma instituição apresente a solução. Se nada
acontecer, a culpa é do método, da abordagem, da difícil implementação, disso e
daquilo. Nunca da ausência de critérios e das prioridades difusas.
Eu poderia citar inúmeras razões para você usar seu dinheiro com mais
parcimônia e investi-lo com mais frequência. Hoje não. Afinal, você também já
sabe que os filhos custarão cada vez mais, que os juros no Brasil são
altíssimos, que a Previdência Social seguirá ruindo e que não importa o quanto
você tenha, nunca terá o que julga merecer (ou suficiente, se preferir), para
ficar em poucos exemplos.
No final, tudo se resume a que critérios e prioridades você está disposto a
discutir e implementar, ao que realmente interessa no decorrer de sua vida e nos
planos de sua família. Ao que você pretende construir em termos patrimoniais
e/ou deixar como legado. Claro que tudo isso pode ser uma tremenda bobagem,
especialmente se sua prioridade é apenas achar graça do presente. A depender do
critério, sua prioridade já deve ser fechar esta janela. Escolha. Viva.