Negócios / Empreendedorismo - Mudança climática: estudo da KPMG identifica quatro riscos às empresas
Estudo da KPMG International, intitulado Climate Changes Your Business,
identificou quatro riscos às empresas relacionados à mudança climática:
normativo, reputacional, físico e de litígios. Concluiu-se também que tais
riscos devem pesar cada vez mais no futuro. Eles se materializam,
independentemente dos índices atuais de alterações no clima.
A pesquisa é baseada em análise autorizada de 50 estudos publicados que abordam
os riscos comerciais e os impactos econômicos no geral da mudança climática em
âmbito setorial. Dos quatro riscos apurados, o mais citado (presente em 72% dos
relatórios) foi o relacionado à legislação.
Empresas e setores que falham em se adequar a um ambiente empresarial mutante
criado por novas leis e normas enfrentam desvantagens competitivas, ao mesmo
tempo em que incertezas regulatórias dificultam o planejamento das empresas. Já
o risco físico foi abordado por metade dos estudos analisados. Entretanto, a
maioria deles se refere exclusivamente a impactos diretos em eventos
relacionados ao clima. O potencial indireto e os riscos de longo prazo são menos
discutidos.
Os estudos analisados provêm de uma variedade de fontes com reputação, a maioria
do setor financeiro. Ficou claro que os riscos à imagem e à reputação das
empresas e de litígios são minimizados. Eles aparecem em 28% e 14% dos
relatórios, respectivamente.
Risco normativo
Conforme publicado no estudo, a mudança climática é cada vez mais vista como uma
grave falha de mercado, que deve ser corrigida por meio de intervenção do
Estado. Como resultado, legisladores de todo o mundo estão criando normas. Em
princípio, essa intervenção pode ser classificada em:
- Legislação tradicional, como autorização e requerimento de eficiência
energética para produtos e processos;
- Regulação de mercado, como os créditos de carbono e tarifas de
combustíveis;
No nível internacional, o Protocolo de Kyoto, que expira em 2012, é o principal
regulamento. Na conferência de 2007, realizada em Bali, na Indonésia, a
comunidade internacional começou a trabalhar em um sucessor para o protocolo, o
que deve ser definido no próximo ano.
"O problema do aquecimento global está longe de ser ignorado. Milhares de normas
que objetivam aliviar o desafio dual referente à segurança energética e à
mudança climática estão sendo analisadas por responsáveis pela criação de leis
no mundo todo. As políticas têm como meta assegurar, entre outros objetivos, um
combustível mais eficiente para os veículos, melhorias no uso energético tanto
em residências quanto em empresas, uso crescente de energia renovável e mais
confiança na energia nuclear", revela o economista chefe da Agência
Internacional de Energia, Fatih Birol.
Seis setores em risco
A pesquisa da KPMG deu uma pontuação de risco a cada setor, levando em conta
também o grau de preparação para assumir os impactos do aquecimento global. A
agilidade de resposta foi medida usando-se dados compilados na mais recente
rodada concluída do Projeto independente de Divulgação de Carbono, em 2007.
Concluiu-se que seis grandes setores industriais encontram-se em "zona de
perigo", devido aos riscos de mudanças climáticas, ou seja, receberam pontuação
elevada no tocante aos riscos que enfrentam, mas uma pontuação reduzida em
termos de sua prontidão para enfrentá-los. São eles: aviação, saúde, turismo,
transporte, petróleo e gás e serviços financeiros.
Isso sem falar que, de acordo com o estudo, todos os 18 setores incluídos no
relatório (até mesmo os três considerados como situados na "zona de segurança")
não estão suficientemente preparados para lidar com as recentes dificuldades
associadas ao aquecimento global.
Riscos subestimados
"Observamos setores de negócios ligados à economia global e constatamos que há
enormes diferenças entre eles, em termos da relação entre riscos de mudanças
climáticas e a prontidão para atendê-los. As indústrias podem se encontrar
relativamente seguras, na zona de perigo, ou situar-se na faixa intermediária;
mas não importa onde estejam, os riscos tendem a ser subestimados em todos os
casos", afirma o sócio da KPMG e líder da área de Sustentabilidade no Brasil,
Alexandre Heinermann.
A recomendação é para que as empresas fiquem mais atentas aos riscos físicos,
normativos e reputacionais, bem como ao risco emergente de litígios. Entretanto,
o escopo e impacto potencial desses riscos parecem estar subestimados em todos
os setores.
Setor em perigo tenta se preparar
O relatório agrupou os setores em três áreas, em função dos riscos que enfrentam
e de sua agilidade. As classificações representam efetivamente o que as próprias
instituições financeiras e os setores de negócios pensam sobre os riscos de
mudanças climáticas.
Enquanto o setor de petróleo e gás está bem mais preparado do que qualquer outro
setor na 'zona de perigo', os problemas relacionados às mudanças climáticas que
este setor enfrenta o tornam o mais arriscado de todos os 18 analisados. Já
transporte é um setor com menos riscos, mas seu nível de prontidão é o pior de
todos.
Aqueles que estão na zona de segurança (setor químico, de alimentos e bebidas e
telecomunicações), por sua vez, podem vivenciar uma segurança aparente.
"Considere, por exemplo, um setor como alimentos e bebidas, que, supostamente,
apresenta baixo risco. Acontecimentos recentes mostraram que esta indústria está
altamente vulnerável a riscos climáticos, como aumentos nos custos de insumos
agrícolas. Portanto, a idéia de que este setor está relativamente protegido dos
efeitos de mudanças climáticas provavelmente reflete que os riscos foram
subestimados", acrescenta Heinermann.
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