Outro dia desses, conversava com alguns colegas sobre a importância do uso
adequado de exercícios vitalizadores em treinamento. Muitos de nós já tínhamos
ouvido dizer, mais de uma vez, que tais exercícios representavam a cereja de um
bolo, ou seja, algo que dá um toque interessante, ajuda a tornar mais apetitoso
o que vem pela frente, mas é perfeitamente dispensável. Não é bem assim. Um
vitalizador tem uma função essencial na preparação dos treinandos para todo o
conteúdo que será trabalhado e dar o tom do encontro, além de iniciar a
construção do vínculo saudável que deverá ser estabelecido entre treinandos e
facilitadores.
Segundo Albigenor e Rose Militão em seu livro Vitalizadores (1999,
Ed. Qualitymark), "a expressão vitalizar sugere dar vida ou tornar vivo". E
ainda que, o vitalizador tem as funções de "quebrar o gelo, ativar a memória,
estimular o raciocínio, exercitar a percepção, estimular a criatividade,
despertar para o trabalho em equipe", entre outras.
Portanto, um vitalizador pode ser utilizado sem ser desconectado do tema a
ser trabalhado. Utilizado no início ou ao longo do treinamento, permite criar o
clima adequado para introduzir ou resgatar falas específicas, para "despertar"
para o processamento do conteúdo teórico ou mesmo dos exercícios considerados
principais. Também pode ser propositalmente apresentado em formato aparentemente
desconectado do tema, quando o grupo aparentar cansaço em relação a este, quando
a conversa estiver pesada ou tensa, como que renovando as baterias para as
próximas falas. Tudo o que vem em seguida pode ser profundamente afetado pelo
clima criado, seja no início do treinamento, na retomada, após os intervalos ou
em outros momentos onde seja necessário "dar vida" ao grupo. Precisamos estar
atentos e perceber os momentos certos para essas intervenções.
Os selecionadores sabem muito bem a diferença nos resultados de dinâmicas
para seleção com e sem o uso de vitalizadores. Essa "pequena" diferença pode
fazer com que excelentes candidatos não se sintam suficientemente confortáveis
durante o processo e não consigam mostrar-se adequadamente ao selecionador.
De volta à história inicial da cereja, imagine que você está preparando um
bolo: definiu a melhor receita que conhece, separou os ingredientes na
quantidade correta, sabe em que ordem devem ser misturados e como devem ser
misturados, o tempo de assar etc. Mas, na hora de executar a tarefa, você pega
tudo direto da geladeira, mistura e coloca num forno frio... Os leitores que são
cozinheiros sabem que até pode funcionar, mas a probabilidade de dar errado ou
demorar muito para funcionar é grande (e nem sempre temos esse tempo, não é?).
Não há receita infalível. Imagine, então, se a temperatura não for
considerada...
Mais que uma cereja que só enfeita, o vitalizador representa a chama para
alcançar a temperatura adequada para os ingredientes, o forno pré-aquecido e que
ajuda a manter aceso o treinamento. Não estou dizendo que o conteúdo teórico ou
os jogos que virão em seguida são menos importantes. É claro que não. Porém, não
podemos nem devemos subestimar esse tipo de exercício, geralmente tão simples e
rápido. E por essa razão, devemos dedicar um tempo para que os treinandos possam
processar o que vivenciaram com essa atividade, como qualquer outra que
utilizamos.
Às vezes, ela só anima e quebra o gelo? Sim, e às vezes é isso que é
necessário. Animar: trazer alma, acordar o grupo que acabou de chegar bem
cedinho e ainda não despertou mesmo, ou retornou de um almoço, ou está pouco
motivado com o assunto, com o gestor ou com a organização, ou está cansado
emocional e fisicamente do treinamento, que pode estar mobilizando demais, em
sua tarefa de dizer às pessoas da necessidade de sair de sua zona de conforto.
Como em todas as dinâmicas, seu propósito sempre deve ser clarificado.
Vitalizadores podem e devem ser mais bem utilizados, caso contrário, poderão ser
vistos como brincadeiras e até mesmo perda de tempo; algo só divertido - como
cerejas decorando um bolo.
O espaço de treinamento pode tratar de assuntos sérios e ao mesmo tempo ser
bonito, leve e divertido, sim. A escolha e o manejo das atividades são cruciais
nesse caso. Fazendo uso com responsabilidade, seus treinandos provavelmente
ficarão mais confortáveis naquele espaço que foi feito para eles, e o dia será
mais prazeroso para todos.