Defenda-se - Fraudes: Lavagem de Dinheiro e Seus Perigos
Um pouco de
História
Segundo alguns a lavagem de dinheiro nasceu na China de
3000 anos atrás, quando mercantes adotavam, para proteger os próprios
patrimônios das garras dos governantes da época, técnicas muito parecidas ás
usadas hoje pelos lavadores.
Segundo outra escola o termo "lavagem de dinheiro" deriva do fato que nos anos
'20 e '30 os gangsters mafiosos americanos (entre os quais o famoso Al Capone)
tinham o habito de reciclar o dinheiro em espécie, que recebiam do contrabando,
prostituição, jogo ilegal e extorsão, através de redes de lavanderias (mas
também de caça níqueis) que eram usadas para justificar uma origem "lícita" para
o dinheiro.
A minha opinião pessoal (compartilhada por muitos) é que na realidade o termo
"lavagem de dinheiro" derive do fato que a operação de transformar dinheiro
ilícito (ou sujo) em dinheiro lícito (ou limpo) evoca o processo geral de
lavagem que, simplesmente, é a transformação de algo sujo em algo limpo.
O crime de "lavagem de dinheiro" iniciou a ser configurado internacionalmente só
nos anos '80, no âmbito do combate aos narcotraficantes. O FATF-GAFI (Financial
Action Task Force on Money Laundering), um dos principais organismos
internacionais de referência no combate à lavagem de dinheiro, e o principal
agente de integração e coordenação das políticas internacionais neste sentido,
foi criado em 1989 por iniciativa dos países do G-7 e da União Européia.
No Brasil a primeira lei que trate especificamente do crime de "lavagem de
dinheiro" é de 1998 (lei 9.613/98). No mesmo ano foi também criado o COAF
(Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão do governo preposto
especificamente ao combate à lavagem de dinheiro.
A Teoria Geral
A lavagem de dinheiro é aquele conjunto de processos, operações e atividades
que visam transformar dinheiro de origem ilícita, e portanto de difícil
aproveitamento, em dinheiro ou patrimônios com uma origem aparentemente lícita,
e portanto facilmente aproveitáveis.
A lavagem de dinheiro não é um ato simples mas um processo que se compõe
basicamente de três etapas. Às vezes as três etapas podem ser resolvidas numa
única transação mas é normalmente mais provável que apareçam em formas bem
separadas, uma por cada vez e ao longo de um certo período de tempo. As etapas
são:
- Colocação.
- Estratificação, Difusão ou Camuflagem.
- Integração.
Os pontos considerados mais sensíveis e delicados no processo de lavagem do
dinheiro são normalmente os seguintes:
- Entrada do dinheiro em espécie no sistema financeiro (a etapa da
colocação).
- Transferências, tanto dentro quanto fora do sistema financeiro.
- Fluxos de dinheiro entre diferentes países.
Estes são normalmente os momentos nos quais os lavadores se encontram mais
expostos e vulneráveis e por isso as autoridades do mundo inteiro, em graus
diferentes de intensidade e eficiência, tentam se concentrar no combate à
lavagem de dinheiro partindo destes pontos de fraqueza.
As empresas também deveriam levar em conta estes pontos de fraqueza no processo
de lavagem de dinheiro na hora de implantarem procedimento e sistemas de
monitoramento anti-lavagem.
Por sua vez, os lavadores de dinheiro concentram grande parte de seus esforços
na busca e/ou criação de justificativas, meios, coberturas e disfarces para que
as operações deles não apareçam suspeitas e não sejam detectadas, sobretudo na
hora em que forem sujeitas aos pontos de exposição e fraqueza acima indicados.
Por exemplo o uso de um restaurante ou comércio para justificar relevantes
depósitos bancários em dinheiro é um disfarce para tentar reduzir o risco no
ponto fraco da entrada do dinheiro no sistema financeiro ... assim como o uso de
uma operação de trading internacional para transferir dinheiro de um país para
um outro é uma justificativa para tentar encobrir o ponto fraco de uma
transferência internacional dentro do sistema financeiro e/ou de um fluxo entre
países ... etc.
Existem fatores comuns a todas as operações de lavagem de dinheiro. Três destes
fatores, que se identificam em praticamente todas as operações, são:
- a necessidade de ocultar a origem e o verdadeiro dono do capital.
- a necessidade de manter sempre o controle do capital.
- a necessidade de mudar rapidamente a forma do capital para poder enxugar
o grande volume de dinheiro gerado da atividade criminal de origem.
As etapas da lavagem
Na teoria clássica da lavagem de dinheiro, o processo é dividido nas
seguintes macro etapas:
1) COLOCAÇÃO
Este é o primeiro passo do processo. A lavagem é uma atividade que lida com
muito dinheiro em espécie, gerado por atividades ilícitas como, por exemplo, a
venda de drogas nas ruas.
Este dinheiro é colocado no sistema financeiro ou na economia de varejo ou ainda
é contrabandeado fora do país de origem.
A necessidade primaria dos lavadores é de remover o dinheiro do seu local de
aquisição, para limitar o perigo que as autoridades detectem a atividade que o
gerou, e depois transformar este dinheiro em outras formas como traveller
cheques, cheques correio, títulos ao portador, saldo em contas correntes, bens
de alto valor, obras de arte etc...
O objetivo final desta etapa é fazer com que o dinheiro em espécie seja
transformado em outra forma de valor, idealmente em deposito em uma conta
bancaria ou outro ativo financeiro líquido, para que possa se passar a fase
sucessiva do processo de lavagem.
2) ESTRATIFICAÇÃO, DIFUSÃO ou CAMUFLAGEM
Com a estratificação, difusão ou camuflagem, há a primeira tentativa de
encobrimento ou disfarce profundo da fonte do dinheiro criando camadas complexas
de transações financeiras e/ou comerciais projetadas para disfarçar o rastro de
origem e prover anonimato.
O propósito da camuflagem ou estratificação é de desassociar o dinheiro ilegal
da fonte do crime criando uma teia complexa de transações financeiras e/ou
comerciais com o propósito de dificultar a identificação de qualquer rastro por
parte de investigadores e caçadores e ao mesmo tempo esconder a verdadeira fonte
e propriedade dos fundos e criar uma nova justificativa "limpa" para a origem
dos mesmos.
Tipicamente "camadas de camuflagem" são criadas transferindo, por meio de
transferências eletrónicas, o dinheiro dentro e fora de contas bancarias
off-shore abertas, em países diferentes, em nome de sociedades de fachada com
ações ao portador.
Dado que há mais de 500,000 operações de transferência eletrónica por dia -
representando mais de USD 1 trilhão - a nível mundial, a grande maioria das
quais legítimas, não é possível (ou pelo menos não é nada fácil) distinguir as
transações envolvendo dinheiro de origem ilícita das outras. Isso fornece um
meio eficiente para que os lavadores movimentem o dinheiro sujo. Outras formas
usadas pelos lavadores são procedimentos complexos com ações, commodities e
futuros. Dado o volume global de transações diárias, e o alto grau de anonimato
freqüentemente disponível, as chances que as transações sejam localizadas é bem
pequena quando não insignificante.
Os lavadores têm ainda a possibilidade de utilizar determinadas operações
comerciais (compras e vendas de produtos entre países diferentes) nas etapas de
camuflagem, este ultimo sistema com suas numerosas variantes parece estar na
moda atualmente.
Uma desta variantes merece menção por representar uma tendência em ascensão. Uma
empresa ou entidade estrangeira contata uma industria, comerciante ou trader
(muitas vezes de commodities) e fecha um grande contrato de compra com relativo
pagamento a vista (vindo de algum paraíso fiscal), sucessivamente, e conforme
clausula prevista no contrato, esta empresa resolve anular a compra e pede a
devolução do pagamento, menos eventuais multas, para uma outra conta em um país
"não suspeito".
Como variante a empresa simplesmente cede/vende com algum deságio o contrato de
compra (em vez de anular-lo com multa) para algum operador do setor, tipicamente
em países do primeiro mundo, recebendo o pagamento relativo via banco em "país
não suspeito".
3) INTEGRAÇÃO
A fase final do processo, freqüentemente interligada ou as vezes sobreposta a
etapa anterior.
É nesta fase que o dinheiro é definitivamente integrado no sistema econômico e
financeiro e é assimilado com todos os outros ativos existentes no sistema.
A integração do "dinheiro limpo" na economia é realizada pelo lavador que,
através das etapas anteriores, faz com que este dinheiro apareça como se tivesse
sido ganho legalmente. Nesta fase, é sumamente difícil distinguir riqueza legal
e ilegal.
Métodos populares entre os lavadores nesta fase do jogo:
- estabelecimento de companhias anônimas em países onde é garantido o
sigilo. Eles podem então se conceder empréstimos baseados no dinheiro
lavado, que forma parte do capital da companhia, no curso de futuras
transações legais. Além disso, para aumentar os lucros, vão também
reivindicar dedução de imposto nos reembolsos do empréstimo e dos juros que
eles mesmos se pagarão.
- enviando falsas notas de exportação/importação e sobrefaturando os bens
os lavadores conseguem movimentar o dinheiro de uma companhia e país para
outro com as faturas que servem para confirmar e ocultar a origem do
dinheiro colocado em instituições financeiras. (Este método pode ser usado
também na fase de camuflagem).
- um método mais simples é transferir o dinheiro (por Transferência
Eletrónica) de um banco possuído ou controlado pelos lavadores para um banco
internacional legítimo e "limpo". Esta operação é simples porque bancos
off-shore podem facilmente ser comprados em muitos paraísos fiscais (veja
seção sobre fraudes com bancos fantasmas).
- existe toda uma série de operações imobiliárias, partindo de
incorporações para chegar a simples operações de compra e venda de imóveis,
que se prestam muito bem a operações de integração de recursos lavados. As
autoridades sabem disso e por isso em vários países determinadas operações
devem ser declaradas.
- o estabelecimento de vários tipos de atividades financeiras é também
muito usado. Em particular são freqüentemente apreciados, pelos lavadores,
investimentos em financeiras (para fazer empréstimos) e em companhias de
resseguros. Obviamente bancos e seguradoras são também interessantes.
Empresas que se ocupam de trading de commodities são também apreciadas e
ultimamente estão ficando na moda.
A maneira em que são executadas as etapas básicas descritas anteriormente
depende sobretudo da disponibilidade de mecanismos e canais de lavagem e de
brechas legais mas também depende das necessidades especificas das organizações
criminais. Esta tabela fornece alguns exemplos típicos.
Etapa da
Colocação |
Etapa da
Camuflagem |
Etapa da
Integração |
Dinheiro
depositado em banco (ás vezes com a cumplicidade de funcionários ou
misturado a dinheiro lícito). |
Transferência
Eletrónica no exterior (freqüentemente usando companhias escudo ou
fundos mascarados como se fossem de origem lícita). |
Devolução de um
falso empréstimo ou notas forjadas usadas para encobrir dinheiro lavado. |
Dinheiro
exportado. |
Dinheiro
depositado no sistema bancário no exterior. |
Teia complexa
de transferências (nacionais e internacionais) fazem com que rastrear a
origem dos fundos seja virtualmente impossível. |
Dinheiro usado
para comprar bens de alto valor, propriedades ou participações em
negócios. |
Revenda dos
bens/patrimônios. |
Entrada pela
venda de imóveis, propriedades ou negócios legítimos aparece "limpa". |
Esta é uma pequena seleção de sistemas usados para "limpar" o dinheiro
sujo.
Seria possível escrever sobre vários outros sistemas mas se deve levar em conta
que todos os esquemas sobre os quais se escreve, por definição, já foram
descobertos e por isso estão, ou logo estarão, em baixa entre os criminosos.
Com certeza muitos novos sistemas estão sendo usados agora sem ainda terem sidos
desmascarados. Porém, estes esquemas "antigos", ou variantes inovadoras dos
mesmos, ainda estão sendo usados em negócios dos quais ninguém desconfia e,
embora as autoridades conheçam estes sistemas, poucas pessoas comuns os conhecem
ou até mesmo tem acesso a este tipo de informação.
Atividades econômicas mais
atingidas
BANCOS
A atividade bancária está protegida por regulamentos e leis diferentes em cada
país, entretanto o melhor método para lavar dinheiro continua sendo o de possuir
ou controlar de alguma forma um banco. Mesmo sabendo que os bancos são um setor
de risco em relação às funções principais deles (depósitos e abertura de
contas), pouco pode ser feito contra este crime se o banco for operacional e os
criminosos agirem em cumplicidade com seus acionistas, funcionários ou com um
grande número de seus depositantes.
Na maioria dos países hoje existem leis visando limitar e monitorar as
movimentações em dinheiro com a finalidade de detectar possíveis operações de
lavagem. Tais leis, porém, precisam da colaboração e boa vontade dos bancos para
serem eficazes e isso nem sempre acontece.
Recentes casos de lavagem em vários países e em particular uma onda de casos no
México envolvendo as filiais locais de grandes bancos internacionais (inclusive
Americanos) provaram que é possível e, às vezes, até fácil, para quem, como os
lavadores, dispõe de muito dinheiro, conseguir a colaboração de altos
funcionários de bancos para que operações de lavagem sejam disfarçadamente
veiculadas através de tais instituições e contrariamente as leis vigentes. Este
caso é, porém, razoavelmente remoto no Brasil por existirem leis específicas e
controles firmes em relação as instituições financeiras.
SEGURADORAS
Por ter como atividade institucional o recebimento de um prêmio pequeno contra o
possível pagamento de um valor grande em determinados casos, as seguradoras se
prestam muito bem a operações de lavagem de dinheiro. Obviamente para tanto é
normalmente necessária a cumplicidade da seguradora ou o controle da mesma.
Os esquemas típicos implicam no pagamento de sinistros indevidos (ou de outra
forma "montados") e com valores altos, para dar uma origem lícita ao dinheiro. A
seguradora por sua vez, para conseguir o dinheiro para o pagamento destes
sinistros, é capitalizada através de contratos de resseguro com empresas
resseguradoras sediadas em paraísos fiscais (ligadas ou controladas pelos
criminosos) ou através de outros esquemas ainda mais elaborados. Este caso
também é bastante raro no Brasil por existirem leis específicas e controles
razoáveis.
FUTUROS
A experiência do Reino Unido (mas também dos EUA) mostrou que o mercado de
futuros é outra área aproveitada pelos lavadores de dinheiro para os seus
esquemas. Por causa da natureza "anônima" das estratégias de trading, quase
todos os corretores comerciam como "principals" e não no nome do cliente deles,
a verdadeira identidade do beneficiário das operações não é conhecida
publicamente. As operações com commodities são, normalmente, um jogo com "soma
zero", o que significa que você só pode comprar se alguém quiser vender, e vice
versa.
Os lavadores aproveitam desta característica do mercado (onde permitida) através
de esquemas de compras e vendas casadas. Eles compram e vendem a mesma Commodity,
perdendo pouca coisa na operação (a comissão do corretor mais pequenas
diferenças de preço). O pagamento do contrato que perde é feito com dinheiro
sujo vindo de algum lugar remoto e o ganho feito na bolsa de mercadorias é
dinheiro limpo, cuja origem - um ganho de bolsa - eles podem justificar para
qualquer fim, e que eles recebem legitimamente, através de alguma empresa
controlada, normalmente em um país de primeiro mundo.
EMPRESAS FINANCEIRAS E DE FACTORING
Como acontece com os bancos, normalmente qualquer transação suspeita deveria,
por lei, ser comunicada às autoridades. No mundo inteiro, porém, não é raro ver
empresas deste tipo controladas por grupos criminosos, que as usam tanto para as
primeira etapa da lavagem quanto para as sucessivas. Depósitos em dinheiro a
favor deste tipo de empresas (para pagamento de dívidas) são uma das maneiras
mais freqüentemente usadas para a "Etapa de Colocação", por isso é necessária
uma vigilância especial por parte dos diretores e funcionários destas empresas
(quando eles não forem cúmplices, obviamente).
Qualquer mudança incomum nos hábitos de pagamento de clientes regulares precisa
ser investigada e os "emprestadores" também precisam prestar atenção sendo que
técnicas de lavagem de dinheiro podem envolver uma devolução de um empréstimo
mais rápida do que a renda ou os recursos disponíveis permitiriam. Normalmente é
possível saber a renda declarada (ou capacidade financeira) de um cliente na
hora do pedido para o empréstimo. Um caso a parte são, obviamente, empresas
deste tipo operando em cumplicidade com os criminosos ou controladas por eles.
CASAS DE CÂMBIO E TRANSMISSORES DE DINHEIRO
Casas de Câmbio / Transmissores Internacionais de Dinheiro / Agências de
Viagens. Todos oferecem uma ampla gama de serviços que podem ser usados pelos
lavadores de dinheiro. Passagens de companhias aéreas, Câmbio de dinheiro
estrangeiro em forma de notas ou traveller cheques são técnicas bastante usadas.
Existem serviços de transferência de dinheiro através de fax, ordem eletrônica,
cheque ou "courier" que podem ser facilmente usados por pessoas que não podem
usar os normais canais bancários (caso de muitos criminosos). O anonimato do
cliente é uma característica primária de tais transferências o que mostra o
nível inerente de risco.
Vale lembrar, para que não se generalize indevidamente, que existem muitas
empresas destas categorias que agem de forma criteriosa e tomando todo o cuidado
possível para não serem envolvidas em operações ilícitas.
CASSINOS, BINGOS E LOTERIAS
Cassinos e estabelecimentos/atividades de jogo em geral são particularmente
atraentes para os lavadores de dinheiro. Dinheiro vivo pode ser depositado no
cassino em troca de "fiches" ou "moedas" para jogar (justificando assim grandes
quantidades de dinheiro em espécie). Depois de algumas voltas à mesa, o jogador
pode trocar o resto para um belo cheque que pode ser depositado na conta dele.
Outro método é comprar em dinheiro bilhetes premiados de pessoas que apostaram
em uma instituição autorizada (loterias, hípicas, concursos, etc...), dizendo
depois que o lavador é quem ganhou. Este caso já aconteceu várias vezes no
Brasil com os concursos da Caixa Economica e chegou a aparecer na mídia deixando
muitas pessoas acreditarem que a Mega Sena era "furada", mesmo não sendo. Isso,
entre outras coisas, faz das loterias e dos estabelecimentos de apostas
atividades vulneráveis ao uso por lavadores.
Para terminar é clássico o caso dos estabelecimentos de jogo controlados por
lavadores de dinheiro que declaram ter embolsado 100 quando embolsaram só 10
(ninguém tem como averiguar se 10 ou 100 jogadores foram lá no dia) lavando
assim 90 !!
COMERCIANTES DE ANTIGUIDADES OU ARTE
JOALHEIROS E COMERCIANTES DE PEDRAS PRECIOSAS
COMERCIANTES DE ARTIGOS DE "DESIGN"
Qualquer área que tenha as características representadas intrinsecamente por
bens de valor alto, que possuam grande portabilidade e sejam usualmente pagos em
dinheiro (ou possam ser-los) é uma área atraente para os lavadores de dinheiro.
Isso porque uma atividade deste tipo permite transformar dinheiro em espécie em
algo fácil de transportar e com um valor e uma origem indefinidos, que portanto
poderá muito bem ser revendido em outro lugar gerando uma nova origem e
localização para o dinheiro.
Todas as áreas indicadas no título desta seção satisfazem estes critérios e os
donos destas atividades assim como os seus funcionários têm que prestar grande
atenção ao estrito cumprimento das leis assim como a qualquer situação ou
comportamento suspeito por parte de clientes e funcionários. Isso se eles
quiserem evitar de ser usados, sem querer, dentro de um esquema de lavagem de
dinheiro.
Imaginem, por exemplo, que um lavador de dinheiro consiga adquirir no Brasil um
quadro valioso pagando em dinheiro vivo. Ele poderá, sempre por exemplo,
transportar este quadro para os EUA onde será vendido para um museu que pagará
através um deposito bancário em uma conta do lavador nos EUA. Resultado: o
dinheiro em espécie oriundo de atividade criminosa no Brasil terá se
transformado em um deposito em conta nos EUA tendo como origem o pagamento de
uma obra de arte por parte de um museu (nada mais cristalino !).
COMPANHIAS AÉREAS E DE TRANSPORTE
As companhias aéreas, assim como as de transporte de passageiros em geral, tem
duas características que fazem com que sejam muito interessantes para lavadores
de dinheiro.
Primeiro elas mexem com muitos clientes cada um pagando valores mediamente
elevados pelos serviços. Segundo não existe (ainda) uma maneira segura e
confiável para monitorar o volume de passageiros e conseqüentemente a origem dos
fluxos financeiros destas empresas. Vamos fazer um exemplo bem pratico (mesmo se
simplificado):
Uma empresa aérea, cúmplice ou controlada por lavadores, tem um avião com
capacidade para 200 passageiros. Em uma viagem típica cada passageiro gasta
digamos 400 R$ pela passagem. O avião faz em media 6 viagens por dia. Isso quer
dizer que, dependendo da ocupação do avião, a empresa pode faturar, com este
avião, de 0 até 480mil R$ por dia, ou seja quase 14,5 milhões por mês. Digamos
que a empresa viaje na realidade com 50% de ocupação ou seja fature pouco mais
de 7 milhões por mês e declare, em vez, que está viajando com 100% de ocupação
(depositando nas contas dela 7 milhões a mais em dinheiro dizendo que são os
pagamentos das passagens) ... quem poderá dizer numa fiscalização futura que
isso não é verdade ??
Neste caso eles terão lavado 7 milhões de R$ por mês, criando uma origem para o
dinheiro sujo. O mesmo pode acontecer com uma frota de ônibus, de carros de
aluguel etc...
RESTAURANTES E COMÉRCIOS DE MASSA
Restaurantes, discotecas, bares e outros estabelecimentos comerciais de massa
deste tipo são um alvo típico de operações de lavagem. Isso porque ninguém tem
condição de provar se o estabelecimento recebeu 10, 100 ou 1000 clientes (com
relativo faturamento) e portanto a origem do dinheiro ilícito pode facilmente
ser transformada em limpa declarando que foram atendidos 1000 clientes quando
eram 100 ou 10.
É obvio que para este fim é necessário que o estabelecimento seja conivente com
os lavadores ... aliás em muitos dos casos onde um estabelecimento deste tipo
foi envolvido em operações de lavagem de dinheiro se descobriu que o dono era um
criminoso (ou algum parente dele) e que o objetivo primário do estabelecimento
não era servir os clientes mas sim lavar o dinheiro do criminoso.
O principal cuidado a ser tomado para não se envolver em operações ilícitas,
além de não aceitar propostas suspeitas em relação ao seu estabelecimento
comercial, é o de não emitir notas "frias" ou documentos parecidos a favor de
estabelecimentos deste tipo (o melhor, obviamente, é não emitir nunca e a favor
de nenhum tipo de empresa) ... isso porque uma nota deste tipo poderá ser usada,
por exemplo, por um restaurante para demonstrar que comprou ingredientes
suficientes para servir 1000 clientes em vez de 10 e justificar portanto o
conseqüente faturamento.
CONSTRUTORAS E IMOBILIÁRIAS
O setor de construção e imobiliário em geral é um alvo clássico de operações de
lavagem de dinheiro. São comuns as notícias de traficantes que aplicam os
recursos ilícitos na compra de imóveis ou terrenos e/ou na construção.
As operações imobiliárias oferecem um meio simples e eficaz para transformar
dinheiro de origem ilícita em um outro tipo de "patrimônio" conseguindo ao mesmo
tempo disfarçar o verdadeiro dono e a origem dos recursos.
Comprar um bem por um valor declarado menor (pagando a diferença em dinheiro) e
depois vender pelo valor cheio oferece um outro meio de criar uma origem "limpa"
para recursos ilícitos.
Como em todos os setores, as operações de lavagem no setor imobiliário podem ir
de simples compras ou vendas, às vezes em nome de laranjas, sem maiores
cuidados, até operações altamente estruturadas e complexas envolvendo entidades
offshore e várias passagens para atingir resultados mais sólidos e/ou volumosos.
O cuidado principal neste sentido é não aceitar pagamentos em dinheiro ou
operações vindo de pessoas/empresas suspeitas e que não tenham como explicar a
origem dos recursos.
Este não é, nem quer ser, um elenco exaustivo das atividades a risco, porém,
algumas das características "de risco" indicadas nesta página podem ser
reconhecidas também em outras atividades não mencionadas.
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