Talvez exista apenas uma verdade absoluta em relação às finanças pessoais:
muitas pessoas têm dificuldades em lidar com dinheiro. Algumas assumem o
problema e buscam saídas, outras simplesmente seguem no piloto automático.
Certo, nem sempre isso é uma tarefa fácil, o assunto não faz parte do nosso
cotidiano e, para piorar, aqueles que pensam e tratam desse assunto de uma forma
mais natural quase sempre são taxados de chatos.
Pois bem, assumo minha condição de chato, afinal aqui estou mais uma vez
chamando sua atenção para um tema que aborda questões comportamentais, mas com o
olhar financeiro como pano de fundo e principal objetivo. Vou abordar um assunto
que pode ser também um grande empecilho para a continuidade de uma plena saúde
financeira.
O amigo Hotmar trouxe à tona a questão da importância da
recompensa em seu excelente artigo “Você compra para compensar ou para
recompensar?”. Muito válido, o conceito pode fazer a diferença no consumo e
pretendo levantar uma discussão em torno de sua validade quando há exagero.
Conheço muitas pessoas que quase sempre baseiam suas compras no “eu mereço!”. A
idéia é se pagar depois de superar as próprias expectativas ou ao se livrar de
um grande desgaste. Um prêmio.
Você merece? Você pode?
O merecimento, também muito lembrado nas relações profissionais e familiares, é
uma questão delicada. Ouso convidá-lo a uma reflexão: merecer é poder? Em outras
palavras, se você merece é porque também pode? Compra porque merece ou justifica
muitas compras através do merecimento? Parecem questões simples. Não são, mas
tenho certeza de que entende onde quero chegar.
Merecimento, ao menos nesse contexto, não tem nada que ver com poder
financeiro para se premiar com um bem caro ou uma extravagância. Fatalmente,
você já percebeu que esse merecimento incondicional pode levá-lo a cometer uma
trapaça, um desvio em relação ao seu planejamento. Nestes casos, o merecimento
nada mais é do que uma desculpa para se auto sabotar e encontrar uma
justificativa aceitável para um possível erro.
Quando resolvemos colocar a educação financeira em nossas vidas, temos que
nos preparar para seguir um plano, uma estratégia – que, na medida do possível,
precisa ser muito respeitada. Claro, o consumo e os prêmios são aceitáveis, mas
estão condicionados à situação financeira favorável e ao não exagero no uso como
simples justificativas.
Merecimento precisa ser seguido de realização e responsabilidade
A educação financeira é capaz de lhe mostrar que, sim, você realmente merece
aquele carro novo, mas o seu poder financeiro naquele momento não permite que
esse “prêmio” seja seu. Não naquele momento, diante daquelas circunstâncias.
Então você não merece? Nada disso! Agora é trabalhar para que seu merecido
objetivo seja alcançado, mas respeitando a sua realidade financeira e padrão de
vida.
Como sempre lembramos, que um dos grandes problemas que levam as pessoas ao
descontrole financeiro é a necessidade de suprir certas frustrações diárias.
Esse artigo mostra que além de conter as frustrações é importante conter os
momentos de muita euforia - quando merecemos tudo - e o sentimento de que é
necessário haver sempre uma premiação por algo relevante.
Sempre?
Viu como sou chato? Nem tanto, minha intenção é nobre e sincera! Ora, se você
sabe que algo muito importante e que mereça ser comemorado está por vir, se
antecipe e reserve um valor dentro de seu orçamento para comemorar e mostrar que
o seu grande prêmio é justamente manter as finanças em dia e os projetos futuros
próximos da realização. Se não sabe, tente não exagerar para não parecer que
mesmo merecendo, as coisas não vão bem. Afinal, merecer é poder realizar sempre.