Parece piada, mas o caso é real e se transformou entre profissionais de
recursos humanos num exemplo extremo de como algumas regras escritas nos manuais
podem virar-se contra o candidato a um emprego. A história é a seguinte: o
profissional foi aprovado em todas as etapas da seleção e, para ser contratado,
dependia apenas da entrevista final com o diretor da área. Na véspera, leu em um
manual que as empresas de hoje valorizam o executivo de perfil agressivo. Na
hora da conversa, não teve dúvidas. A primeira pergunta do diretor foi: 'Por que
você está aqui?'A resposta saiu em tom irritado: 'Ora, estou aqui porque vocês
me chamaram'. A entrevista terminou na mesma hora.
O desejo do candidato era, seguindo as instruções do manual, demonstrar o tal
perfil agressivo. Essa é uma das incontáveis bobagens que vêm sendo ditas e
escritas sobre a atitude adequada diante do entrevistador. Algumas regrinhas
traduzidas diretamente dos livros de recursos humanos escritos no exterior têm
sido apresentadas no Brasil como verdade absoluta. Quem as seguir à risca
diminui as chances de ser contratado quando não anula.
A menos que a vaga seja oferecida por uma empresa americana em início de
atividade no Brasil e sem nenhum conhecimento anterior dos hábitos e da cultura
local o melhor a fazer é não seguir o que os manuais recomendam. Nos outros
casos é preciso levarem em conta as condições do mercado de trabalho brasileiro
e os aspectos da cultura local. No capítulo das condições do mercado, o
candidato nunca deve cometer a besteira de, como recomendam os manuais
americanos, se colocar no 'mesmo nível' do entrevistador. Isso vale para os
Estados Unidos, onde há pleno emprego e os profissionais de ponta são disputados
a tapa. No Brasil, existem pelo menos três candidatos do mesmo nível para cada
vaga que se oferece.
Bom senso - Não são poucos os manuais que recomendam ao candidato a combinação
terno azul, camisa branca e uma gravata vermelha, cujo objetivo é passar a
imagem de elegância discreta e usual. É clichês puro. O importante é só não
cometer o crime de comparecer de terno roxo. 'Em lugar de perder tempo lendo
manuais com conselhos absurdos, o candidato deveria buscar informações sobre a
companhia que oferece a vaga', diz o consultor Guilherme Velloso, da PMC Amrop,
de São Paulo. Isso serve tanto para evitar surpresas desagradáveis.
Algumas Tolices
O que não vale a pena levar em consideração ao se preparar para uma
entrevista de empregos:
* O homem deve comparecer à entrevista de terno azul-marinho e a mulher, sempre
de tailleur.
'Use roupas discretas com as quais se sinta à vontade.'
* O candidato deve saber onde colocar as mãos, sentar sem cruzar as pernas e
olhar sempre para a frente durante a entrevista.
'Ter uma postura rígida e estudada pode deixar o candidato com a aparência de um
boneco'
* Demonstrar segurança e responder a todas as perguntas sem hesitar é condição
indispensável para se manter no páreo.
'Bobagem. Um pouco de nervosismo por parte do candidato é até esperado'
* O candidato precisa ter respostas preparadas para algumas perguntas
inevitáveis que serão feitas à queima-roupa.
'O objetivo dessas perguntas não é testar conhecimento, mas atitude. Portanto,
se você não souber a resposta, diga claramente.'
* Não gastar mais de dois minutos para responder a cada questão.
'Esse tempo pode ser insuficiente para uma resposta clara. Procure apenas ser
objetivo e não se preocupar com o resto.'