Ao realizar uma contratação, no mínimo, uma empresa espera que aquele
profissional atenda às suas expectativas e consiga atingir ou superar metas. No
dia-a-dia, para que isso ocorra é preciso que a organização conte com o
colaborador e isso, logicamente, implica que o mesmo realize suas atividades e
esteja comprometido com o negócio. Por outro lado, a realidade mostra que nem
sempre o funcionário está presente no seu posto de trabalho, ou seja, ele se
ausenta pelos mais variados motivos: atrasos, problemas pessoais, doenças que
resultam em licenças médicas, condições inadequadas do ambiente de trabalho,
falta de motivação, entre outros.
O fato é que o absenteísmo ou a ausência do colaborador no ambiente de
trabalho provoca problemas como desorganização das atividades, queda na
qualidade dos serviços prestados, limitação de desempenho e até mesmo obstáculos
para os gestores. Uma empresa que tem investido na qualidade de vida dos
funcionários, dentre outras razões, para combater o absenteísmo é a Chesf -
Companhia Hidro Elétrica do São Francisco. Há quase quatro anos, a organização
tem desenvolvido ações que estimulam a presença dos colaboradores no ambiente de
trabalho, através de ações que valorizam o próprio ser humano.
De acordo com Laura Pedrosa, psicóloga da Chesf, que atua na DABT (Divisão de
Saúde e Bem-Estar no Trabalho), desde 2002, a organização iniciou algumas ações
para diminuir o índice de absenteísmo. Naquela época, era apenas emitido um
relatório para os gerentes, contendo informações sobre os nomes dos funcionários
que estiveram ausentes do trabalho, o motivo e o período de afastamento. Esse
trabalho tinha como único objetivo orientar os líderes, para que cumprissem a
meta de 1,5% ao ano de absenteísmo-doença, criada em meados dos anos 90.
A Chesf, subsidiária das Centrais Elétricas Brasileiras S/A - Eletrobrás, foi
criada pelo Decreto-Lei nº 8.031, de 03 de outubro de 1945, e constituída na
primeira assembléia geral de acionistas, realizada em 15 de março de 1948, com a
missão de produzir, transmitir e comercializar energia elétrica para a Região
Nordeste do Brasil. Além de atender tradicionalmente aos Estados da Bahia, de
Sergipe, de Alagoas, de Pernambuco, da Paraíba, do Rio Grande do Norte, do Ceará
e do Piauí, com a abertura permitida pelo novo modelo do Setor Elétrico
Brasileiro, a organização tem contratos de venda de energia em todos os
submercados do sistema interligado nacional.
O Sistema de Geração da Chesf, atualmente, é composto de 14 usinas
hidrelétricas e uma termelétrica, com uma potência nominal disponível de
10.618,32 mW, a maior entre as empresas nacionais do setor elétrico.
Incorporadas a esse sistema, existem 870 mVAr de potência reativa instalada, em
nove plantas de Compensadores Síncronos com unidades entre 20 mVAr e 150 mVAr. A
empresa conta com cerca de 5.600 colaboradores.
A meta para o absenteísmo existia, mas as ações da organização eram
incipientes, sem uma visão mais holística em relação à saúde e à qualidade de
vida no trabalho. Foi a partir de então, que a empresa adotou uma série de
medidas preventivas e corretivas que passaram a fazer a diferença na rotina e na
saúde dos funcionários. Nesse sentido, foram adotados programas e ações que
superam as exigências legais das Normas Regulamentares (NR's) do Ministério do
Trabalho e Emprego. Dentre esses, destacam-se:
* criação do Plano de Assistência Patronal (PAP) e da Fundação Chesf de
Assistência e Seguridade Social (FACHESF);
* realização de exames médicos periódicos, que excedem às exigências da NR-7
como, por exemplo, ultra-sonografia, densiometria óssea, colposcopia, citologia
oncótica, tonometria binocular e teste ergométrico;
* estímulo a consultas médicas em cardiologia, oftalmologia, ginecologia,
odontologia e avaliação psicológica;
* adoção dos programas de Preparação para a Aposentadoria; Monitoramento
Biopsicossocial, Prevenção e Dependência Química, Ginástica Laboral, entre
outros.
A mais recente ação destinada à melhoria da qualidade de vida dos
funcionários foi a inauguração de uma academia de ginástica in company, com
equipamentos de última geração. O atendimento da academia é feito
prioritariamente a funcionários considerados em condições de risco à saúde e que
precisam realizar exercícios físicos com acompanhamento e orientação de
profissionais qualificados como, por exemplo, nutricionista e professores de
educação física.
Projeto Piloto - "Estamos na fase de estudos, inclusive foi lançada
uma pesquisa que será desenvolvida por Instituições de Ensino Superior, acerca
dos fatores preditores do absenteísmo-doença e os impactos econômicos desse
fator na Chesf", comenta Laura Pedrosa, ao acrescentar que no início de 2006,
entre os meses de março a junho, a organização implantou um projeto-piloto,
voltado para identificar os fatores que causam o absenteísmo-doença e como esses
podem ser combatidos na prática.
Para isso, a DABT (Divisão de Saúde e Bem-Estar no Trabalho), subordinada ao
DAH (Departamento de Administração de RH), selecionou um departamento de nível
operacional, onde o índice de absenteísmo era considerado preocupante. Vale
ressaltar que o setor selecionado tinha em sua estrutura, cerca de 20
profissionais com escolaridade de ensino fundamental completo até médio
incompleto.
O projeto-piloto "Promovendo a Saúde e a Qualidade de Vida", totalizou 32h de
atividades, durante o expediente dos funcionários. Como metodologia de trabalho,
foram feitas análises do ambiente e da organização de trabalho naquele setor,
além de conduzidas atividades em grupo. Nesse sentido, a DABT promoveu
mini-palestras, abordando temas pré-estabelecidos após o diagnóstico do setor.
Logo após, foi promovido um confronto teórico-prático com a participação dos
funcionários, através da exibição de filmes, utilização de técnicas de dinâmicas
de grupo e realização de oficinas.
"Além dessas atividades, realizamos entrevistas individuais e devolutivas,
entrevistas com o responsável pelo setor e com o gestor da área. Identificamos
ainda oportunidades de melhoria na área e, conseqüentemente, na Chesf", salienta
a psicóloga, ao acrescentar que ações com foco nas pessoas, principalmente
atividades em equipe, além da melhoria das condições e do ambiente de trabalho
repercutem positivamente na redução dos indicadores do absenteísmo-doença.
E os números obtidos através do projeto-piloto reforçam o pensamento de Laura
Pedrosa. Ao término do trabalho, foi feita uma análise comparativa dos
indicadores do absenteísmo-doença, entre janeiro e junho de 2006, em relação ao
mesmo período de 2005. Constatou-se, no setor operacional selecionado, uma
redução de 39,49% do absenteísmo-doença, uma diminuição de 87% dos acidentes de
trabalho e a participação de 100% dos funcionários nos exames médicos
periódicos.
Os benefícios foram além dos revelados pelos números estatísticos, pois a
DABT observou mudanças comportamentais, uma visível melhoria no clima
organizacional e, conseqüentemente, nas relações interpessoais. "Isso fortaleceu
o significado do trabalho para os participantes do projeto-piloto, através do
reconhecimento formal da contribuição deles para o negócio da Chesf", diz a
psicóloga. A partir desse trabalho, a Chesf estuda a possibilidade de implantar
a mesma iniciativa em outros setores que apresentem índices de absenteísmo
também preocupantes.