Imóveis - Saiba evitar as armadilhas das cooperativas habitacionais
Preços baixos e facilidades de
pagamento escondem problemas como obras irregulares, reajuste incontrolável de
parcelas e má administração do empreendimento
As cooperativas habitacionais podem parecer, para alguns, o caminho mais curto
para a realização do sonho da casa própria. Atraídas por preços baixos e
facilidades no pagamento, muitas pessoas já se arriscaram nesses
empreendimentos.
Antes de aderir a uma cooperativa, porém, é importante saber que são inúmeros os
problemas que podem surgir, desde a irregularidade do loteamento até o reajuste
incontrolável das parcelas, por exemplo. E, como quem adere a uma cooperativa
não é considerado consumidor, mas um dos donos do empreendimento são grandes
também as dificuldades de se resolver esses conflitos.
Testemunhas
As centenas de moradores de Osasco que aderiram à Cooperativa Habitacional
Recanto das Rosas são testemunhas de grande parte desses problemas.
Em 1994, eles assinaram um contrato para a compra de terrenos em 25 parcelas,
que logo se estenderam para 32, sob a alegação de pagamento da infra-estrutura.
Ao fim dessas parcelas, no entanto, a surpresa: os cooperados foram comunicados
pela diretoria de que, por causa do número de inadimplentes, eles estavam em
falta com os donos do terreno, que tinham entrado com uma Ação de Reintegração
de Posse da área. E, para sanar a dívida, havia sido feito um acordo, segundo o
qual cada cooperado teria de pagar mais 20 parcelas de R$ 112. Na verdade, a
dívida, que era de R$ 500 mil, por causa de juros e correção monetária, havia
praticamente triplicado: estava em R$ 1,4 milhão.
O problema é que o acordo foi feito pela diretoria sem o conhecimento dos
cooperados, que só foram comunicados depois que os novos boletos de cobrança já
estavam sendo emitidos.
De acordo com Maria Inês Vanzeloti Costa, uma das diretoras da cooperativa, a
decisão teve de ser tomada rapidamente, o que impossibilitou comunicação
anterior.
Comissão
Revoltados com a situação, cerca de 400 cooperados se juntaram e, por sugestão
da Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo (Ocesp), contrataram os
advogados Megumu Kameda e Marcos René de Castro para representá-los.
Assessorados por eles, os cooperados formaram uma comissão de 12 pessoas, que é
responsável por fazer o pagamento das parcelas diretamente aos proprietários do
terreno. O caso também está sendo averiguado pelo Ministério Público de Osasco.
"O problema é que a diretoria da cooperativa ainda é nossa representante legal e
pode tomar decisões em nome de todos", diz Aparecida de Freitas Alves, da
comissão de moradores. O mandato dos diretores tem validade de três anos.
De acordo com o advogado Castro, desde o começo da obra a diretoria da Recanto
das Rosas não prestava contas aos associados nas assembléias, "o que é um dos
princípios fundamentais do cooperativismo".
"As pessoas precisam entender que a lei diz que a prestação de contas é
necessária, pois, nas cooperativas, todos são proprietários do bem", diz Castro.
Os cooperados denunciam ainda outros problemas. Segundo Aparecida, áreas
institucionais (reservadas à escolas, praças e árvores) e comerciais foram
loteadas como se fossem áreas residencias, totalizando 47 lotes instalados em
áreas indevidas. Maria Inês diz, porém, que essas áreas existem, apenas foram
trocadas de lugar.
Infra-estrutura
Hoje, do total de 1.126 lotes, cerca de 80% têm casa construída, muitos dos
cooperados até já estão morando lá. Apesar disso, as ruas não são asfaltadas,
não há coleta de lixo ou rede de água e esgoto e a energia elétrica só foi
instalada há 15 dias (não há iluminação pública nas ruas).
Os cooperados que não fazem o pagamento das parcelas por meio da comissão o
fazem por meio da diretoria.
Mas há também aqueles que, à espera de uma solução da Justiça para o caso, não
estão pagando, como o motorista Astrogildo do Carmo, que pagou apenas uma das 20
parcelas cobradas a mais. "Eu já quitei o terreno. Por que tenho de continuar
pagando?"
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