Crianças e dinheiro: um cálculo simples. Do nascimento até a formatura da
Faculdade, crianças consomem tanto dinheiro quanto consomem nuggets.
Para aqueles de nós que ainda nem alcançamos a nossa independência
financeira, fica parecendo que não tem fim. A demanda financeira necessária para
se educar um filho requer dinheiro que talvez você pensasse em guardar para se
preparar para a aposentadoria ou para comprar uma casa mais legal ou “ aquele”
carro esportivo ou aquelas férias suntuosas e que deverá – fora o que é
necessidade – ser substituído por conjuntos de Legos, visitas ao pediatra e
uniformes escolares e brinquedos de Natal e uma poupança para a Faculdade e uma
minivan e uma viagem à Disney....e muitos, mas muitos nuggets.
Não estou menosprezando as crianças. Eu mesmo tenho 2 e o dinheiro não é nada
comparado a alegria que eles trazem a mim e à minha esposa, mas,
independentemente da felicidade, não vamos negar o fato do momento da chegada de
uma criança – nem mesmo os meses anteriores à chegada deles – que seu papel
enquanto adulto muda drástica e profundamente.
E com a mudança, transforma-se, também, a vida financeira da família.
Ensine Bem Suas Crianças
1. Somente gaste dinheiro DEPOIS que você ganhá-lo.
2. Quando seus filhos começarem a pedir para ir comprar brinquedos, comece a
considerar a introdução de uma mesada.
3. O valor da mesada não deve ser tão baixo a ponto de sua criança se sentir
excluída do grupo ao qual pertence e nem tão alto a ponto dela poder adquirir
qualquer coisa sem o mínimo de esforço e planejamento.
4. Tirar boas notas é o esperado e ajudar em casa é a prática para um bom
convívio familiar e nada tem a ver com remuneração. (A mesada não
se aplica a isso)
5. Se 16 anos é a idade legal para se começar a trabalhar, encoraje-os aos 13
e leve-os a pensar sobre como poderão arrumar meios de obterem uma renda.
6. Oriente e aconselhe seus filhos sobre dinheiro. Não imponha sobre o que
devem fazer.
7. Exceder o saldo do cartão que você lhe confiou significa perder o acesso
ao cartão por uma semana ou mais. Extrapolar de novo com o cartão que você lhe
confiou, significa perda do cartão até que o saldo excedente do cartão seja
quitado(*se o limite era de R$ 100,00 e ele comprometeu R$
200,00...um mês sem cartão - e no caso de ser um cartão adicional. Há cartões
com limites pré-estabelecidos: acabou. Acabou).
8. Somente 50% do que foi poupado no porquinho deverá ser utilizado para
comprar coisas. Os outros 50% devem permanecer no porquinho.
9. As crianças devem ter o direito de quebrar financeiramente para não
repetirem o erro. (* Dê algum dinheiro a eles e observe o
movimento. Retome a regra #6)
10. Quando chegar o momento de ensiná-las a investir em ações, os jovens
devem entender uma Empresa em um nível básico, a ponto de saberem quem são os
gestores, quem são os clientes, quais as estratégias para crescimento, onde está
e onde pretende estar no futuro.
11. Você não precisa ser rico para começar a conversar com seus filhos sobre
mercado de ações (*deve, no mínimo, entender o que é e porque
isto poderá ser interessante para ele no longo prazo).
12. Ensine a importância da doação (*e não é somente sobre
dinheiro).
13. Os pais não deveriam " se matar" financeiramente para pagar pelas
despesas da Faculdade de seus filhos (caso não tenham realizado
nenhum tipo de planejamento para isso). (* A questão cultural aqui tem um peso
muito grande, já que no Brasil a maioria das " crianças" só vai para o mercado
após se graduarem no Ensino Superior e o sentimento de culpa dos pais que,
por alguma eventualidade, não podem " bancar" a faculdade do filho tem um peso
muito significativo. Os americanos são menos críticos e crêem que, nesta idade,
o filho já possa e deva estar em vida produtiva com, no mínimo, a
responsabilidade de poder dar continuidade aos seus estudos e, sem dúvida
alguma, como aqui no Brasil, há exceções a se considerar.)
14. Um dos maiores presentes que você poderá deixar ao seu filho é a sua
própria auto suficiência financeira quando estiver mais velho.
15. Deverá haver uma hora em que os pais devem avisar aos filhos que o “Banco
do Papai e da Mamãe” encerrou as atividades (* e não deveria ser
aos 30 anos de idade).
Agora você não está somente "encostado na parede" pela questão da demanda
financeira pelas próximas duas décadas com relação a educar filhos, como também
tem uma nova obrigação que é a de ensiná-los sobre finanças pessoais, de forma
que ele possa se transformar em um adulto tranqüilo e bem relacionado com o
próprio dinheiro. Vocês, pais, são os primeiros modelos e o link mais essencial
no processo de aprendizagem de suas crianças.
Um monte de coisas para Ensinar
Eu sei que o dinheiro parece ser uma coisa simples e que parece que
não tomará muito de seu tempo para ensinar sobre isto. Afinal de contas, você já
sabe sobre isso há algum tempo e já aprendeu a ganhá-lo, no mínimo, há alguns
anos. O que tem mais para aprender sobre isso, de fato? E o que mais você
realmente precisa saber para passar o conhecimento aos seus filhos que você
ainda desconheça? Bem, se estatísticas forem um indicador….ainda tem muito.
Em uma pesquisa realizada pela Jump$tart - uma organização sem fins
lucrativos que tem como objetivo a difusão da educação financeira pessoal - para
medir o quanto os jovens do Ensino Médio entendiam sobre finanças pessoais,
descobriram que menos de 10% dos entrevistados sabiam responder
satisfatoriamente sobre questões financeiras pessoais; muitos não tinham nem
idéia de como se fazia o balanço de um canhoto de cheques e a maioria - mais da
metade dos alunos - seria reprovada se educação financeira pessoal fizesse parte
do currículo escolar.
Ainda que a educação financeira pessoal seja claramente uma necessidade na
vida das pessoas, isto não significa que seu filho deva ter um M.B.A. em análise
de risco ou que você terá que contratar um consultor financeiro para ministrar
cursos a ele, mas é óbvio que as crianças necessitarão de melhores informações
para que possam gerenciar seus próprios recursos financeiros no futuro.
Crianças tem uma capacidade infinita de ouvir o que seus pais dizem - mesmo
naqueles momentos em que estamos convictos de que eles não estão ouvindo nada do
que estamos falando. Além disso, há o conceito de que você está “repetitivo
demais” e poderá não ser compreendido na primeira vez ou na terceira ou na
oitava, mas terá um momento , talvez lá pela enésima vez ou talvez em um dos
muitos momentos em que você colocará a questão, que seu filho irá entender quase
como por um milagre o que você está dizendo.
Claro, pode ser que você nem perceba qual é o momento, mas ainda assim você
saberá.
Voltando de um jogo de futebol de meu filho há um ano atrás ou mais,
estávamos eu, ele e um amigo, quando passou por nós um carro esportivo Italiano
a não sei quanto por hora. O amigo de meu filho falou: “ Wow, aquele cara é
rico.”
Meu filho, envolto com um desses games, rapidamente olhou pela janela e
reflexivo comentou, “ Não é o quanto de dinheiro que você gasta que o torna uma
pessoa rica. Você não sabe; aquele cara pode ter usado todo o dinheiro dele só
para comprar aquele carro e não ter mais nada. Aí, pode ser que ele não seja
rico.”
Nesta situação, ocasionalmente, ele foi conversando com o amigo sobre a
definição de riqueza sem ter que pensar muito sobre o que ele estava falando e
as palavras fluíam naturalmente.
Ele provou que mamãe e papai realmente podem fazer a diferença ao transmitir
sempre um pouco de conhecimento financeiro às suas crianças. É como usar um
conta gotas. Ele foi recebendo pequenas doses destas informações desde pequeno,
mas sempre.
Deixe uma Boa Primeira Impressão
Crianças são mais influenciadas quando são menores e é pouco provável que
tenham algum tipo de informação desta ordem fora do ambiente familiar.
Não é dizer que você não consiga modificar hábitos ou crenças que eles
tenham, mas ao atingirem a adolescência, suas mensagens já não terão tanta
influência e impacto.
Basicamente, o objetivo não é moldar as crianças a somente pensarem sobre a
questão financeira e riqueza. É educá-las para que sejam adultos cuidadosos com
suas finanças e que saibam gerenciar confortavelmente os vários aspectos de suas
vidas com relação ao dinheiro: seja gastando, poupando, investindo ou doando.
Pode ser que seu filho venha a acumular riqueza. Pode ser que não. Mas a
verdadeira medida de seu sucesso nesta empreitada é a de que seu filho, quando
adulto, nunca venha a ter problemas em compreender quais são as bases das
finanças pessoais.
Este será - sem nenhuma margem de dúvida - o grande legado que você deixará.
Melhor do que qualquer herança que você possa vir a deixar.
Adaptado de parte do livro "Piggybanking: Preparing Your
Financial Life for Your Kids, and Your Kids for a Financial Life." Copyright
2010 by Jeff D. Opdyke. Published by Harper Business, an imprint of
HarperCollins Publishers. )
Escrito por Jeff D. Opdyke at jeff.opdyke@wsj.com
(*) Comentário de Silvia Alambert, educadora financeira,
diretora executiva The Money Camp Brasil - Educação financeira de crianças e
jovens.