Se para alguns a segunda-feira é sinônimo de desânimo, para quase 70 milhões
de brasileiros hoje é uma data especial. O motivo não tem a ver com o resultado
da penúltima rodada do Campeonato Brasileiro. É que neste dia 30 de novembro os
empregados com carteira assinada vão receber de sua empresa a primeira parcela
do 13º salário. Essa gratificação natalina representará uma injeção de cerca de
85 bilhões de reais na economia do país até o último dia do ano, um montante que
representa 2,8% do PIB (Produto Interno Bruto), segundo levantamento feito pelo
Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).
Para quem já recebeu antecipação nas férias, a segunda parcela será paga até o
dia 20 de dezembro.
Ter um dinheiro extra na conta pode alimentar diversos desejos de consumo:
trocar o carro por um modelo mais novo, reservar passagens aéreas para as
férias, jantar em um restaurante diferente ou comprar presentes para familiares.
O senso comum é que o 13º permite algumas extravagâncias no orçamento. Mas antes
de ceder à tentação de gastar, especialistas em finanças pessoais recomendam ter
algum plano de contenção de gastos.
A primeira dica é se livrar do fantasma das dívidas. “O importante é quitar
aquelas que cobram maiores taxas de juros, tais como cheque especial, cartão de
crédito ou empréstimos bancários”, diz Augusto Saboia, especialista em finanças
pessoais da Sabóia Advisors. Para ele, fim de ano é o melhor momento para
negociar o pagamento de parcelas atrasadas. “Como a pessoa pagará à vista, ela
deve pedir um desconto de 5% no valor total da dívida”. Em caso de não poder
pagar os credores de uma vez só, Saboia recomenda usar 70% do 13º para liquidar
com uma parte do saldo devedor. “Prorrogar a dívida fará com que ela cresça cada
vez mais”.
E quem não tem dívida, o que fazer com a bonificação de fim de ano? O consultor
financeiro Gustavo Cerbasi, autor do livro “Casais inteligentes enriquecem
juntos” (Editora Gente), recomenda dividir o 13º em três partes. A primeira
delas é para gastar, porque, afinal, ninguém é de ferro. A segunda é para bancar
os gatos com IPVA, IPTU, matrícula e material escolar dos filhos, entre outras
coisas. A terceira é para ter uma reserva em caderneta de poupança. "Essa
equação permitirá que a pessoa não fique na degola financeira logo no começo do
ano", diz Cerbasi. A vantagem desse tipo de aplicação é que ela está isenta do
pagamento de Imposto de Renda.
Para quem já tem reserva e quer garantir o futuro, uma opção é investir uma
parte do 13º nos fundos de previdência privada. Para isso, existem duas opções:
PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre) e VGBL (Vida Gerador de Benefício
Livre). A primeira é indicada para quem declara IR pelo formulário completo e
pretende investir até 12% da renda brutal anual nesse tipo de plano - a
tributação será sobre todo o patrimônio. Já a segunda é mais interessante para
quem aplicará mais do que 12% da renda brutal anual - a alíquota incidirá sobre
a rentabilidade. "Independente da escolha, a remuneração futura desse fundo é
bastante atraente para a pessoa física", diz Carla dos Santos, sócia da CDS
Brasil Soluções Financeiras.
Para quem planeja fazer um investimento de longo prazo, uma boa opção é a compra
das debêntures da BNDESPar, uma subsidiária do BNDES. A reserva dos títulos
precisa ser feita até o dia 14. Especialistas dizem que os papéis provavelmente
vão pagar um retorno superior ao dos títulos públicos.
Aos mais arrojados, especialistas recomendam cautela quanto à compra de ações na
Bolsa de Valores. "O mercado financeiro vive um clima de intensa euforia. Os
papéis estão em alta. O melhor seria esperar abaixar a poeira um pouco mais para
depois investir nesse segmento", afirma Erasmo Vieira, consultor da Planilhar
Planejamento Financeiro. "Neste momento eu acho que o potencial de alta das
ações é menor do que o risco de uma correção para baixo um pouco mais
aprofundada", afirma Luiz Rogé, diretor do site InvestCerto, especializado em
investimentos.
Outro tipo de investimento, com retorno garantido, é o na educação.
Matricular-se em uma pós-graduação, em um MBA ou mesmo em um curso no exterior
também são formas de multiplicar o patrimônio. “Geralmente, quem tem uma dessas
formações em seu currículo ganha 35% a mais de quem só tem curso superior no
país”, compara a headhunter Sofia Esteves, fundadora da Cia. de Talentos,
consultoria especializada em programas de recrutamento e seleção. Um curso de
MBA de dois anos em uma faculdade em São Paulo custa por volta de 25.000 reais.
“Por conta dessa restrição, o mercado valoriza quem tem MBA no currículo”,
garante Sofia.
De um jeito ou de outro, o investimento do 13º deverá ser feito de acordo com o
perfil e o objetivo de cada aplicador. Se o plano é comprar um imóvel, o ideal
seria evitar aplicações arriscadas. Se a estratégia é ganhar dinheiro em curto
prazo, pode ser interessante aproveitar momentos de baixa para entrar na bolsa.
Mas lembre-se de ter cautela e diversificar seus investimentos porque, se tudo
der errado, será necessário esperar até o final de 2010 para receber um novo
13º.