Pouco conhecida pela sociedade, a púrpura, que causa manchas roxas pelo
corpo, deve ter atenção especial.
Não constituindo uma doença, mas uma síndrome, ou seja, um conjunto de sinais
que podem representar diversas causas, tem manifestação variada, podendo ser de
pequeno porte, chamadas petéquias, ou de maior diâmetro, sendo denominada, neste
caso, equimose, como explica a doutora Elaine Sobral da Costa, oncohematologista
pediátrica do Instituto de Pediatria e Puericultura Martagão Gesteira (IPPMG/
UFRJ).
-As petéquias são manchinhas roxas do tamanho de mordidas de mosquito, mas não
desaparecem quando são comprimidas. Essas manchas podem ou não ter relevo e, em
alguns casos, geram sangramentos na gengiva ou em outros locais, explica a
pediatra.
O aparecimento das púrpuras pode ser por duas razões: por meio de lesões em
pequenos vasos sanguíneos, ou devido à diminuição do número ou da função das
plaquetas. “As plaquetas são pequenas partículas do sangue responsáveis por
cobrir imediatamente uma lesão vascular para impedir que o sangue extravase. A
contagem dessas plaquetas é feita no hemograma completo”, esclarece a doutora.
Existem diversas doenças inflamatórias, infecciosas ou hematológicas que podem
causar uma púrpura. Na infância, por exemplo, a presença da síndrome é associada
à febre e representa uma emergência médica. “Nesse caso é preciso atenção porque
uma doença infecciosa muito grave chamada meningococcemia se apresenta desta
forma e tem um curso extremamente grave. Nesta doença, a bactéria provoca uma
alteração vascular chamada vasculite.
Na presença deste quadro, devem ser feitos exames para excluir meningococcemia e
antibiótico venoso até que o diagnóstico seja esclarecido. Nesse caso, o início
imediato da medicação aumenta as chances de sobrevivência do paciente”, explica
a especialista.
Outra causa freqüente de púrpura na infância é uma destruição das plaquetas que
ocorre, geralmente, em torno de 15 dias após um quadro infeccioso ou por uso de
alguns remédios, chamado púrpura trombocitopênica imunológica (PTI).
Neste caso, o organismo que, para se defender de uma infecção ou de outro
estímulo qualquer, produz anticorpos que, por engano, reconhecem e destroem as
plaquetas do sangue. Em 85% dos casos, esse quadro se reverte sem medicação em
três a quatro semanas, mas pode ser necessário tratamento se há sangramento ou
contagens de plaquetas muito baixas.
Pode haver necessidade também de se realizar um aspirado da medula óssea (local
onde o sangue é produzido) para diferenciar este quadro benigno de outras
doenças mais graves, como as leucemias, por exemplo. Este aspirado mostra uma
produção normal de plaquetas na PTI, enquanto nas leucemias a medula está
invadida por células tumorais e não consegue produzir os elementos normais do
sangue.
“Esse exame é obrigatório se o paciente com a suspeita de PTI precisa usar
corticóides, porque o uso dessa medicação pode mascarar o exame da medula óssea
e dificultar o diagnóstico de uma leucemia depois. Há 15% das crianças com PTI,
em que a doença se torna crônica com duração meses ou anos”, afirma Elaine
Sobral.
A pediatra conclui afirmando que a púrpura pode significar, desde causas
benignas, até quadros muito graves, devendo, portanto, ser um sinal de alerta
para que o paciente procure atendimento médico.