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Investimentos / Fundos - Desmistificando hedge funds: saiba os fatos e mitos sobre esse tipo de fundo 

Data: 23/09/2009

 
 

A falta de conhecimento sobre os hedge funds faz com que existam diversos mitos em torno das operações desse tipo de fundos: são especulativos? Cobram taxas de administração exorbitantes? Devem ser evitados a qualquer custo - ou é um investimento que dá bons retornos independente da situação do mercado?

"Muitas dessas concepções são baseadas em simplificações, conclusões precipitadas e interpretação errada de alguns fatos" afirmam os autores do estudo AIMA'S Roadmap to Hedge Funds. A principal diferença dos hedge funds, na verdade, é que eles utilizam uma gama maior de instrumentos e mercados para obter lucros e minimizar perdas - e não comparam seu desempenho a benchmarks, no chamado "retorno absoluto". Veja a seguir os 10 principais mitos sobre hedge funds - e a explicação por trás de cada um deles.

Mito 1: os hedge funds são como jogos de azar
Os hedge funds são, na verdade, mais semelhantes ao dono do cassino do que ao apostador que joga nele - o apostador, que depende da sorte, é mais parecido com o investidor em fundos long only, acreditam os autores do estudo encomendado pela Alternative Investment Management Association, associação global sem fins lucrativos que atua no mercado de hedge funds. A mesma analogia é válida no caso de uma loteria - não é necessário ganhar todas as vezes, porque as probabilidades estão a favor da casa. Em outras palavras, no mercado, as probabilidades estão a favor dos hedge funds.

Segundo os autores, a operação de uma loteria é o mais próximo de um benchmark que se pode chegar em um universo de retornos absolutos. A razão pela qual um cassino ou uma loteria funcionam (e são lucrativos) é que existe um fluxo de dinheiro constante, apesar de o retorno esperado ser positivo para o operador e negativo para quem aposta, em termos monetários. "Qualquer investidor vagamente familiarizado com estatísticas prefere ser o operador, e gerenciar o dinheiro de forma ativa", afirmam.

Mito 2: hedge funds sempre fazem proteção de riscos
Os riscos são necessários para se obter retornos - se os hedge funds se protegessem de todos os riscos, não haveria retornos também. Muitos hedge funds procuram proteção contra diversos tipos de risco, priorizando a consistência e estabilidade dos retornos - assim, eles conseguem oferecer retornos constantes com um menor risco de perda. A diferença aqui é a seleção de riscos - os hedge funds selecionam riscos aos quais vale a pena se expor, devido aos resultados esperados, e evitam riscos que não trarão recompensas ao investidor, defende a AIMA.

Mito 3: hedge funds são arriscados
Se examinados isoladamente, os hedge funds são sim arriscados - mas ações de energia e tecnologia também são. Mas os hedge funds não podem ser analisados isoladamente porque são apenas uma parcela do capital do investidor.

Assim como poucas pessoas investem em apenas uma ação (ou setor) e procuram diversificar seus investimentos para aumentar a probabilidade de lucros e minimizar as perdas, os hedge funds são uma boa oportunidade de diversificação para um portfólio tradicional - já que qualquer investimento com expectativa de retorno positivo, baixa volatilidade e baixa correlação com o restante do portfólio terá grande chance de diminuir a volatilidade dos investimentos como um todo.

Mito 4: hedge funds são especulativos
Nesse caso, os autores são bastante enfáticos: hedge funds não são especulativos. Segundo eles, a ideia vem da conclusão precipitada que um gestor que usa instrumentos especulativos está invariavelmente gerenciando um portfólio especulativo.

Os instrumentos especulativos usados - por exemplo, short selling de ações - têm como objetivo minimizar os riscos. "A maioria dos gestores com retorno absoluto é mais conservadora - já que são responsáveis pelas perdas, ao contrário dos investimentos tradicionais", afirmam. Além disso, os gestores frequentemente tem seu próprio capital aplicado, então seus interesses estão alinhados com os dos investidores.

Mito 5: os hedge funds cobram altas taxas
Uma descrição comum para os hedge funds já foi "um esquema de compensação disfarçado de classe de fundos". A primeira questão sobre a remuneração dos fundos e gestores é que os hedge funds remuneram seus gestores com uma taxa fixa, mais uma porcentagem dos ativos investidos no fundo - como os valores tendem a ser altos, os melhores profissionais convergem para essa área - o que, por sua vez, mantém a geração de lucros alta entre os hedge funds.

A segunda questão é ligada ao "peso morto" dos portfólios - que são ativos mais baratos, sobre os quais o gestor não tem confiança, mantidos no portfólio para controlar riscos em fundos que tem como meta bater um benchmark. Um gestor de long only com uma margem de erro de 200 pontos-base, por exemplo, pode ter aproximadamente 90% do portfólio ligado exclusivamente ao benchmark, e apenas 10% como gestão ativa - assim, se o gestor cobra o investidor uma taxa por 100% dos investimentos, e gerencia apenas 10% ativamente, a taxa desse tipo de fundo pode ser considerada alta.

Já nos hedge funds, não existe peso morto no porfólio - e consequentemente, uma parcela maior do capital é investido em posições nas quais o gestor tem confiança de sua posição, e a taxa paga é referente ao total de investimentos gerenciados ativamente.

Mito 6: hedge funds geram bons retornos em qualquer condição de mercado
Os hedge funds não tem uma relação próxima com o mercado de renda variável - prova disso é que geraram resultados positivos enquanto as ações recuavam na crise de 2000-2002. Algumas estratégias têm maior relação com o mercado, mas o desempenho não é constante: mesmo a estratégia long & short, que deveria ser mais relacionada com a performance de renda variável, historicamente teve um retorno positivo em alguns trimestres ruins para ações, e em alguns teve um desempenho ruim.

Uma analogia possível, no caso de queda do mercado de renda variável e dos hedge funds, é que os portfolios long-long são como carros sem freio, enquanto os hedge fnds são carros com freios - mesmo que caia num período ruim para o mercado em geral, a queda é mais controlada. "Por isso, muitos profissionais dessa indústria acreditam que os fundos long-only é que são especulativos, já que estão totalmente sujeitos aos humores do mercado de ações".

Mito 7: a lição da quebra do LTCM é "não invista em hedge funds"
A quebra do hedge fund LTCM, desencadeada pela crise russa de 1998 e finalizada em 2000, ainda assusta muitos investidores. Mas já houve perdas no mercado de ações na mesma proporção - ou até maiores - que não parecem desanimar os investidores em relação à renda variável, mesmo com o número muito maior de regulações que deveria reger as operações, já que os hedge funds têm pouca regulamentação a seguir. E um hedge fund é um negócio - e, como todo negócio, existe a possibilidade de que ele falhe e entre em falência.

Segundo Thomas Schneeweis, professor da Universidade de Massachusetts, as lições do LTMC - e de qualquer tipo de investimento - não envolvem não investir em hedge funds, mas sim: a importância da diversificação; investimentos de alto retorno também são potencialmente investimentos de baixo retorno; investir em mercados secundários sem liquidez pode ser desastroso em condições de mercado extremas; e um investimento que oferece retornos de mais de 30%, como era o caso, é extremamente arriscado.

Mito 8: hedge funds aumentam o risco sistêmico do mercado financeiro
Para os autores, este é um dos temas mais controversos na indústria de hedge funds - e é, em parte, verdade. "Os hedge funds, em nossa opinião, podem estabilizar ou desestabilizar os mercados financeiros".

Isso porque quando investidores que operam com alavancagem são pressionados por um choque de liquidez, os riscos que eles assumiram vão ser devolvidos ao mercado, exacerbando a instabilidade. Por outro lado, os hedge funds servem para aumentar a liquidez e eficiência do mercado quando necessário - como foi o caso em 2002, quando a indústria de hedge funds absorveu os ativos vendidos pelas seguradoras europeias.

Mito 9: short selling é o oposto de um investimento em longo prazo
Short selling é frequentemente interpretado como o oposto de comprar uma ação como investimento em longo prazo - o que não é verdade. "Short selling requer habilidades específicas bem diferentes de se comprar e manter ações por um período de tempo", afirmam os autores.

Mito 10: não existe uma revolução de retorno absoluto
No mercado, alguns acreditam que existe um portfólio normal, ao qual os hedge funds recorrem quando não sabem como aplicar o capital. Entretanto, segundo os autores, há duas posições para as quais os hedge funds recorrem nesses casos: devolver o dinheiro para os investidores ou Treasuries. "Se um investidor de retorno absoluto não sabe o que fazer, ele não recorre a riscos aleatórios. Porque ele faria isso? Se não há oportunidades, não há riscos no portfólio", afirmam.



 
Referência: InfoMoney
Autor: Julia Ramos Moreira Leite
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