O gato tem habilidade e o cão tem atitude, qual dos dois comportamentos seria
mais útil em uma organização?
Existe uma grande questão a ser resolvida pelas organizações, em relação aos
recursos humanos: que tipo de profissional é mais útil às empresas? Seria aquele
profissional inteligente e habilidoso tecnicamente, mas com uma atitude passiva,
acomodada e sujeita as oscilações de humor, ou aquele profissional que está
sempre disposto ao trabalho difícil, que tem iniciativa e motivação, que não
reclama das condições adversas, mas que tem pouca competência técnica? Esta é
uma questão importante para o desempenho organizacional e por isto vamos
analisá-la, pois nem sempre é possível a empresa conseguir conciliar estes dois
conjuntos de qualidades em um único profissional.
Competências técnicas x competências comportamentais
Há alguns anos atrás, o principal critério na contratação de uma profissional
era sua competência técnica. Os recrutadores buscavam identificar a experiência
anterior do futuro empregado como condição principal para sua contratação. Neste
sentido, o currículo do candidato conseguia espelhar de forma objetiva quem
seria a pessoa mais adequada para preencher a vaga, na medida em que este
documento mostrava sua experiência anterior bem como sua formação técnica.
Mas, a partir de meados da década de noventa, começaram a surgir estudos
analisando o desempenho dos profissionais e cruzando os dados de suas
habilidades técnicas com suas competências comportamentais. Dois trabalhos
realizados por importantes pesquisadores americanos ilustram bem esta situação.
Em um estudo do professor John Kotter, da Universidade de Harvard,
apresentado no livro “As Novas Regras”, ele acompanhou um grupo de 115 alunos
desta universidade a partir de sua formatura em 1974. Comparou o desempenho
profissional deles ao final de um período com as notas obtidas pelos mesmos, ao
concluírem o curso. O resultado, ao contrario do que se esperava, mostrou que
não havia ralação positiva entre as notas obtidas e o sucesso pessoal e
profissional dos participantes ao final de 20 anos de acompanhamento. Ou seja,
os melhores alunos não foram os que alcançaram maior sucesso profissional.
Num outro estudo, realizado pelo psicólogo Daniel Goleman, autor do livro “A
Inteligência Emocional”, (Editora Campus/Elsevier, 1995), mostrou que 90% da
diferença entre as pessoas que obtém grande sucesso pessoal e profissional, e
aquelas com desempenho apenas mediano, se deve a fatores relacionados a
competências comportamentais, mais do que às habilidades aprendidas na escola.
Exemplos práticos
Estes dados apresentados anteriormente são fáceis de serem comprovados na
prática. Tomemos o exemplo hipotético de um profissional com grande competência
técnica e qualificação acadêmica, mas que tenha baixa inteligência emocional.
Este profissional pode possuir todas as habilidades técnicas necessárias ao
desempenho das atividades de uma organização, no entanto sua inteligência
emocional deficiente dificulta sua performance, pois sua atitude no dia a dia da
empresa deixa a desejar.
Pessoas com baixa inteligência emocional têm dificuldade de relacionamento e
comunicação interpessoal, não conseguem trabalhar em equipe de forma adequada,
tem pouca motivação para realizar tarefas rotineiras, entre outros
comportamentos fundamentais para a organização.
Comportamento Cão x Comportamento Gato
Para ilustrar melhor a situação vamos analisar dois comportamentos bem
distintos: o comportamento do Cão e o comportamento do Gato, e em seguida
compará-los com os comportamentos mais comuns dentro das organizações.
O Gato
Comecemos analisando o gato. Como todos os felinos, o gato é um animal
habilidoso e inteligente. É um predador bastante eficaz, planeja seu ataque
minuciosamente e tem grande capacidade de focar objetivos. No entanto, o gato é
um animal acomodado. Sem atitude e sem disposição para o esforço, o gato é
atraído pelo descanso, pelo conforto e, porque não dizer, pela preguiça.
Em geral o gato não se envolve com pessoas e sim com lugares. Ele adora ficar
horas se “lambendo” e curtindo o conforto de um lugar agradável. Ele não ama
necessariamente seu cliente, o dono, e sim a casa deste. Mas, ao contrário do
cão, não é capaz de mover nenhum esforço para defender aquele lugar, caso seja
ameaçado por algum intruso.
Se o dono do gato chega em casa tarde da noite, num dia chuvoso ou na hora em
que ele está descansando, o gato é incapaz de levantar-se para ir receber seu
dono. Mas, mesmo nas ocasiões em que recebe o dono, a atitude do gato não é de
entusiasmo, mas apenas de observação, de preguiça, de manha.
O Cão
Já o comportamento do cão é completamente diferente do gato. Este animal não
é tão habilidoso nem tão inteligente, mas o cão tem sempre uma atitude
pró-ativa, de motivação e entusiasmo com a vida. Está sempre disposto a realizar
tarefas, a sair com o dono a qualquer hora do dia ou da noite, na chuva ou sol,
no frio ou no calor.
O cão recebe o seu dono com o mesmo entusiasmo todos os dias, independente do
humor deste. Mesmo quando recebe uma repreensão do dono o cão não muda seu
tratamento com ele. Ao contrario do gato, que se for repreendido pelo dono ou
maltratado de qualquer forma afasta-se definitivamente da pessoa, o cão não
guarda rancor ou raiva de seu dono. Em geral ele perdoa eventuais tratamentos
inadequados.
O cão gosta mais do dono do que da casa do dono. Ele é capaz de dar sua vida
para defender as pessoas da família e também arrisca a vida para defender a casa
onde mora.
Profissional Cão x Profissional Gato
Baseado no que analisamos anteriormente fica claro que o profissional Cão, ou
seja, aquele profissional com comportamento equivalente ao do cão dentro da
organização é mais útil do que o profissional Gato. Numa equipe de vendas o
profissional Cão é aquele que atende o cliente a qualquer hora do dia, mesmo
quando o expediente já acabou. Este profissional trata bem o cliente
independente da aparência, do humor ou do comportamento do freguês. Não mede
esforços para causar uma boa impressão e quando alguém tenta denegrir a imagem
da empresa, ele a defende com toda a energia.
O profissional Cão é motivado, mesmo para as tarefas difíceis, tem um grande
censo de dever e, em geral, coloca os objetivos da empresa acima de seus
próprios interesses pessoais. Sua atitude é sempre positiva, seu entusiasmo é
contagiante, sua motivação é impressionante.
Já o profissional Gato, é justamente o contrário. Coloca sempre seus
objetivos pessoais em primeiro lugar. É acomodado, é preguiçoso e é incapaz de
defender a organização em que trabalha. Este profissional tem grande
sensibilidade à forma como é tratado pelo cliente ou por outros profissionais e
leva tudo para o lado pessoal. Se for criticado, normalmente reage mal e cria
uma magoa que dificilmente será superada.
Em geral as organizações deveriam ter um profissional Gato para cada dez
profissionais Cão. O profissional Gato é importante, na medida em que tem grande
habilidade e capacidade de planejamento e foco para alcançar objetivos. No
entanto, o profissional Cão é muito mais útil, pois é ele quem irá fazer a
máquina da empresa funcionar. Infelizmente os profissionais Gatos são a maioria
dos profissionais nas organizações.
Que profissional é mais útil à organização?
Do ponto de vista de uma organização o profissional motivado, com alto índice
de inteligência emocional, torna-se mais útil, pois suas deficiências técnicas
poderão ser facilmente superadas. Sendo um profissional motivado, a competência
técnica passa a ser apenas uma questão de tempo e disposição da empresa em
investir na sua formação técnica. Já o profissional desmotivado e com baixa
inteligência emocional, tem uma situação muito mais complexa e difícil de ser
superada.
Muitas vezes sua competência comportamental inadequada é fruto de todo um
contexto de vida, e a superação desta condição não é tão simples, necessitando
de um acompanhamento psicológico e principalmente de uma mudança comportamental
interior. Estas mudanças em geral geram grande resistência por parte do próprio
profissional que tem dificuldade de assumir suas deficiências comportamentais,
tornando este processo muito mais difícil de ser superado.
Portanto, podemos concluir que apesar da as habilidades técnicas e a
inteligência de um profissional serem importantes para as organizações, sem
dúvida uma atitude motivadora e pró-ativa é fundamental para o contexto
organizacional. São as pessoas com iniciativa, motivadas e com grande energia
pessoal que conseguem realizar as tarefas essenciais no dia a dia da empresa.