Negócios / Empreendedorismo - O Departamento Financeiro não é o Inimigo
Em muitas empresas, você não verá o CMO (Chief Marketing Officer) saindo para
almoçar com o CFO (Chief Financial Officer). Eles têm agendas diferentes e
também podem ter idéias completamente opostas sobre como mensurar o sucesso.
Para o CFO, tudo se resume aos resultados financeiros, e o presidente da empresa
tende a concordar com isso. Em resposta, os profissionais de marketing estão se
tornando cada vez mais analíticos para alcançar o favor do departamento
financeiro. Eles passaram a medir todos os detalhes sobre qualquer atividade que
realizam, para provar o sucesso de uma campanha ou estratégia implementada. Mas
na maior parte das vezes, Finanças e Marketing acabam falando línguas
diferentes.
A situação reflete mais do que o comportamento observado na hora do almoço. De
acordo com um novo estudo da empresa de análise Marketing Measurement Analytics
(MMA), apenas 7 por cento dos 150 executivos financeiros pesquisados estão
satisfeitos com a capacidade dos departamentos de marketing em medir o ROI de
suas atividades. Agora, vejamos números mais gerais: aproximadamente 60 por
cento dos executivos de finanças e 50 por cento dos executivos de marketing
estão insatisfeitos com a habilidade da empresa em chegar a um acordo sobre a
definição de "ROI para marketing".
"Existe uma clara divergência entre Marketing e Finanças em quase todas as
empresas", diz Doug Brooks, vice-presidente da MMA. Custos e receitas, as
partículas atômicas que compõem o relatório financeiro da empresa, são números
importantes e o que faz com que o CFO fique realmente feliz é que esses números
podem ser tabulados com exatidão.
As métricas de marketing, por outro lado, avaliam taxas de abertura das
campanhas, clicks em anúncios, nível de awareness das propagandas, e estimativas
de preferência da marca. Entretanto, é difícil amarrar essas métricas à receita
obtida, pois as ações realizadas pelos clientes não estão vinculadas diretamente
a esses indicadores. Por exemplo, quando um cliente compra um produto, gerando
receita, esta pode ser contabilizada com precisão, mas normalmente não sabemos
se o cliente realmente prefere a nossa marca e se ele chegou a ver alguma
propaganda daquele produto.
Mesmo métricas como o ROI da campanha e o retorno sobre investimentos em
marketing (ROMI - Return on Marketing Investment), que têm uma aparência
financeira, sofrerão, em algum momento, com a falta de uma ligação clara entre
as métricas de despesas e o real aumento nas vendas ou incremento nas receitas
obtidas. Dessa maneira, um dos problemas entre Finanças e Marketing é a falta de
precisão. É necessário "acreditar" que um investimento de X reais em marketing
realmente criou valor para a empresa no montante de Y reais.
Mas existe uma divergência ainda mais grave entre Finanças e Marketing: a área
de marketing , por definição, tem suas atividades orientadas por uma perspectiva
futura, enquanto que a área financeira ocupa a maior parte do seu tempo
documentando o passado. As métricas para marketing evoluíram do day-after-recall
(utilizado para medir a audiência média de uma campanha, um dia após ela ser
lançada) para outros indicadores mais elaborados, orientados para o futuro, como
o NPS (Net Promoter Score) e LTV (Lifetime Value) dos clientes, mas mesmo essas
medidas continuam não tendo significado algum para o CFO.
Os CFOs aprenderam a ficar atentos às métricas utilizadas pelo Marketing, pois,
segundo uma frase conhecida, "se você medir as coisas o suficiente,
provavelmente algo parecerá bom". Quando um profissional de marketing mostra um
número positivo, o que esse resultado realmente quer dizer? É triste afirmar,
mas muitas vezes é preciso "acreditar" em determinadas previsões, na hora de
avaliar os números relativos ao Marketing.
Quebrando o círculo
Então, o que pode ser feito? Abracem essas diferenças, aprendam a mesma língua e
trabalhem juntos, diz Brooks. "Uma atitude de colaboração, desde o começo, é
muito importante", diz ele. "Múltiplos grupos (Marketing, Finanças, Recursos
Humanos, Operações) deveriam trabalhar juntos para definir o ROI e contribuir
com informações sobre como ele será utilizado. Um dos principais indicadores de
sucesso é a empresa ter um time funcional envolvido com a estratégia de
clientes". As expectativas podem ser definidas e administradas logo no início.
Esses grupos também devem trabalhar para equilibrar os objetivos de curto e de
longo prazo. O ROI de uma campanha e o aumento no valor do cliente deveriam ter
pesos iguais. "Isso seria como encontrar o 'Santo Graal'", diz Brooks. "Como
balancear o curto e o longo prazo para entender as atividades de um ponto de
vista estratégico?" Por exemplo, alguns esforços podem realmente destruir o
valor da empresa no decorrer do tempo, embora demonstrem um ROI positivo no
curto prazo. Brooks observa que esse balanço é diferente para cada empresa. Uma
atuação "cruzada" entre as diversas áreas é um bom começo para entender o que é
fundamental para cada organização.
As métricas tradicionais de marketing também podem ser utilizadas como um ponto
de partida para iniciar uma conversa sobre a utilização do ROCsm (Retorno sobre
Clientes), um indicador orientado para o futuro que analisa tanto o valor
presente do cliente quanto o valor futuro. O ROC não fecha, necessariamente, o
loop entre as ações de marketing e o valor criado para a empresa, mas, pelo
menos, ele preenche a lacuna entre o comportamento dos clientes e o verdadeiro
valor financeiro. Indicadores, como medidas de engajamento, modelo de mix de
marketing e outros tipos de números agregados podem ajudar a modelar o ROC,
permitindo que o CMO se comunique utilizando termos que o CFO possa entender,
mas que ainda reflitam a verdade, ou seja, os assuntos relacionados ao futuro,
com os quais todo profissional de marketing tem que lidar.
Brooks enfatiza que o ROI, ROC ou qualquer outra métrica não representam a
decisão, em si mesma. Todos esses indicadores são simplesmente informações para
auxiliar no processo de tomada de decisão. "Eles são elementos coadjuvantes no
processo", diz ele.
Se eu [Martha] fosse um CFO, gostaria de medir como adquirimos, tratamos,
mantemos, desenvolvemos os nossos clientes e nos comunicamos com eles. Enfim,
como a empresa age em relação aos clientes. Iria procurar saber se essas
atividades estão aumentando ou destruindo o valor da empresa, tanto em curto,
quanto em longo prazo. Iria desejar que o meu CMO medisse, administrasse e
relatasse isso.
Então, talvez, pudéssemos discutir o assunto durante o almoço.
Referência:
Catho
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Autor:
Por Martha Rogers, Ph.D. - Peppers & Rogers Group
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