Especialistas em carreira dizem que é preciso ter um objetivo ou um sonho
profissional, para evitar frustrações futuras. Mas o problema é que algumas
pessoas acabam exagerando. É neste momento que o sonho vira uma obsessão e a
trajetória profissional, um pesadelo.
Essas pessoas só focam no sonho a atingir e fazem de tudo para alcançá-lo. Se
você não conhece, ao menos deve ter ouvido falar de alguém que jogou sujo,
prejudicou um colega de trabalho ou foi antiético, somente para conseguir o que
queria. Pois é, algumas pessoas não têm limites!
"Situações assim podem acontecer, mas vai depender dos valores de cada
profissional. Para alguns, os valores prevalecem e, por isso, eles não passam
por cima dos outros. Já para aqueles que consideram a conquista mais importante,
os limites não são avaliados", explicou a consultora de Planejamento de Carreira
da Ricardo Xavier Recursos Humanos, Vanessa Patrocínio.
As consequências disso são a imagem ruim deixada pela empresa, a péssima
reputação que se carrega e, muito além disso, o peso na consciência que o
profissional fica depois, quando percebe os resultados de seus atos.
Frustrações e... Perda de oportunidades
Mas, deixando de lado aspectos éticos e pensando em fatos concretos, existem
consequências negativas para a carreira quando se apega muito a um sonho. Um
deles é ficar muito focado no objetivo profissional, deixando de lado
oportunidades que possam vir a surgir.
"É importante estabelecer um sonho e manter-se focado nele. Porém, quando o
profissional se apega em excesso, o sonho pode se tornar prejudicial, pois a
tendência será ele se fechar para outras oportunidades - talvez até melhores -
do que a estabelecida como sonho profissional", destacou Vanessa.
No decorrer da carreira, podem aparecer obstáculos que devem ser superados. Isso
é que torna o profissional flexível, aberto a objeções e o faz amadurecer. No
entanto, quando esses obstáculos são desconsiderados, o amadurecimento não
ocorre e, ao atingir o sonho, pode-se perder "o encanto da conquista final",
usando as palavras da consultora.
Quando vira um problema pessoal
Além disso, quanto mais se demora para atingir o sonho, a pessoa pode se sentir
desmotivada, prejudicando outras esferas de sua vida, além da profissional.
De acordo com o sócio da Steer Recursos Humanos, Ivan Witt, existem as seguintes
dimensões na vida de uma pessoa: cognitiva (conhecimento), física (corporal),
emocional (psicológica), social (relação com os outros) e espiritual. Isso
significa que o trabalho representa apenas um quinto da essência do todo. Se
essa dimensão for excessivamente privilegiada, a tendência é que as demais
atrofiem. Pior do que isso, quando se extingue a relação profissional, para os
que focam só nisso, a sensação é de que o mundo acabou, conforme explicou o
especialista.
Para que a frustração profissional não atinja a vida pessoal, Vanessa aconselhou
aos profissionais que estabeleçam pequenos sonhos, até que se alcance aquele
sonho tão desejado. Assim, diminuem os prejuízos psicológicos que podem ser
causadps com a demora da conquista do objetivo.
"Stand by" ou plano B
A consultora da Ricardo Xavier ainda disse que existem momentos da vida
profissional em que os sonhos podem ser deixados de lado, ou em stand by. Mas
não existe um período ideal para isso acontecer. "O que pode - e deve -
acontecer é uma revisão e adequação do sonho", disse Vanessa.
Ainda mais importante do que reestruturar um sonho é ter um plano B, com o qual
o profissional possa contar caso nada dê certo, como ser consultor ou abrir a
própria empresa.
Sente-se estafado?
Para quem se sente cada vez mais cansado e, ao mesmo tempo, longe de seu sonho,
o aconselhamento de um profissional pode ser a melhor saída.
"É principalmente em sessões de aconselhamento profissional que executivos
estafados ou jovens em começo de carreira conversam sobre a negligência em
relação a algumas dimensões da vida", contou Witt. "É nesse momento que
começamos a desenhar possibilidades de novos caminhos profissionais e pessoais,
baseados nos desejos e senso de felicidade de cada um".