Estudando teorias, atuando como facilitadora em treinamentos para líderes ou
assistindo a colegas fazendo o mesmo, discutindo aspectos diversos que
atravessam a liderança. Em todas essas vezes me fiz a mesma pergunta, que todos
que trabalham com esse tema se fazem invariavelmente: o que faz com que o líder
seja reconhecido e validado por sua equipe, e assim possa trazer resultados
efetivos para a organização?
Tive a oportunidade de conhecer e conviver com pessoas que considero grandes
referências de liderança para minha formação. São estilos muito diferentes,
histórias de vida totalmente opostas e uma coisa em comum: a capacidade de
formar verdadeiros times, equipes em constante processo de amadurecimento
profissional e pessoal. Mas, conhecendo tantos outros perfis de gestores
semelhantes a esses, porém sem os mesmos resultados, me pergunto novamente: o
que faz um líder de verdade?
As teorias evoluem todos os dias tentando encontrar caminhos. Os RHs buscam
aplicar todos os programas que os especialistas desenvolvem, os líderes por sua
vez buscam incessantemente os melhores MBAs, mestrados, doutorados e os últimos
lançamentos nas livrarias, que, assim, se desdobram para encontrar o próximo
best-seller de liderança do ano.
Talvez o cotidiano traga consigo a resposta, mas o cotidiano é fugaz. Quantas
vezes não perdemos a oportunidade de olhar para nós mesmos e nosso modo de agir
com nossas equipes quando nossos gestores estão trazendo a realidade até nós; as
cobranças por resultados, os números que não são o que a organização esperava -
pois o nível de exigência cresceu muito em função da concorrência e a pressão
pela entrega de novos projetos com a mesma equipe que já não dava conta dos
atuais. Em momentos críticos, corremos o risco de perder esse olhar, já que a
condição humana está sempre presente e respondemos da melhor forma que podemos,
mas erramos, nos estressamos, sofremos como qualquer um.
Os programas de coaching vêm crescendo e atingindo um número cada
vez maior de pessoas, pois ali temos uma opção interessante: a do exercício de
investigação do estilo preferencial daquele líder, da maturidade de sua equipe,
das percepções sobre seu modus operandi a partir de pares, subordinados
e de seu próprio gestor.
O líder não é um super-herói; ele não é uma máquina, programável, onde pelo
simples fato de conhecer conceitos ou ter passado por uma vivência diferente de
todas as outras em um treinamento diferente de todos os outros, está pronto e
não há mais nada a aprender. Ser líder é estar de peito aberto em meio a toda
sorte de questões de sua equipe e da organização.
É ser líder todos os dias e esses sempre serão diferentes. Aquela equipe
fantástica não será fantástica todos os dias, e é preciso lidar com isso. A
organização que hoje o respeita e reconhece publicamente poderá não reconhecê-lo
tanto, quando algo não sair bem. Os resultados sempre irão oscilar, pois a "roda
da fortuna" organizacional é assim mesmo. Lembrando Fernando Pessoa: "Navegar é
preciso. Viver não é preciso", creio que possamos ousar adaptar suas palavras
para uma reflexão: "Estudar é preciso. Treinar é preciso. Liderar não é
preciso".
Ainda que eu treine com grandes especialistas, que conheça todas as teorias,
que saiba de cor como é o estilo da minha empresa, o meu e o daqueles que estão
próximos a mim, precisarei rever, repensar, redescobrir, avaliar. Não há fórmula
que garanta o sucesso nessa arte, pois já que é arte de inspirar pessoas, é
imprecisa, variável e sujeita a transformações.
Freud falava sobre a importância de "recordar, repetir, elaborar", para nos
permitir um maior autoconhecimento. Trazendo essa ideia para o mundo
corporativo, o líder também deve repensar suas ações, identificar oportunidades
de melhoria, exercitar seu aprendizado e elaborar sua atuação e suas
alternativas, pois se é condutor de gente, irá trabalhar com um número de
variáveis imenso, que recombinadas todos os dias, somadas à humanidade desse
guia, fazem com que o desafio seja sempre muito grande.
Caminhos? Podemos tentar alguns:
- exercitar o olhar sobre si mesmo com regularidade;
- perceber que a equipe é feita de pessoas de carne e osso assim como o líder, e
que isso representa lidar com um universo de sonhos e anseios, muitas vezes bem
diferentes uns dos outros;
- lembrar que equipes, assim como filhos, passam por estágios de desenvolvimento
e eles se alteram muitas vezes tão rápido que nem nos damos conta. Então é
preciso estar próximo aos seus liderados, conhecê-los e acompanhá-los
constantemente;
- buscar feedback, se possível em todos os níveis, e isso não é fácil,
pois nem sempre "quem pergunta quer saber";
- tentar novos caminhos quando aqueles antigos não estão trazendo a resposta
esperada. O risco pode mesmo valer a pena;
- lembrar que apesar da sua formação impecável, ela é só um norte e não a
fórmula secreta para tudo que se apresentar, infelizmente. Todos nós queríamos
isso, mas não é assim que funciona.
É bem provável que aquelas pessoas que são as minhas ou as suas referências
de liderança tenham praticado e pratiquem até hoje alguns desses exercícios ou
vários outros que as teorias ainda não puderam mapear. No entanto, liderança é
sinônimo de um exercício constante de autoavaliação, e quanto a isso não há o
que discutir. Se você optou por esse caminho (sim, foi uma opção sua) vai ter
esse trabalho extra todos os dias de sua vida. E você pode chamar isso de ônus
ou de bônus da liderança. Eu prefiro chamar de bônus e você?