"Nada mais prático do que uma boa teoria" - Kurt Lewin, cientista social. "A
teoria na prática é outra coisa" - citação popular no Brasil. Inicio com rápidas
considerações sobre alguns conceitos ou entendimentos do que seja teoria.
Segundo o Dicionário de Ciências Sociais da FGV: "Na acepção comum, fora dos
círculos especializados, teoria é um conhecimento especulativo".
Quem sabe aqui se encontra a raiz da citação popular no Brasil? Voltando à
descrição do dicionário: "No sentido geral e filosófico, a noção de teoria
implica várias formas de compreensão da realidade, todas estreitamente
relacionadas, como a contemplação, a visão, a contemplação racional e a visão
inteligível" - Ferrater Mora, J.
Essas formas de compreensão devem ser entendidas como atividade mental
racional, desprovida dentro do possível de elementos emocionais ou místicos.
Existem vários entendimentos acerca da natureza da teoria, mas todos estão de
acordo que teoria é um conjunto de declarações sobre o real. As considerações
poderiam ser mais extensas, mas penso que para o escopo do artigo isto seja
suficiente para provocar os teórico-práticos e, quem, sabe estimular algum
questionamento nos que valorizam excessivamente a prática com algum desprezo
pela teoria.
Nós, no Brasil, damos ênfase exagerada à prática. Não temos consciência que
nada é mais prático que uma boa teoria. Daí falarmos que "a teoria na prática é
outra coisa", que pode ter a seguinte leitura: como não aprendi suficientemente
bem a teoria, e não quero declarar isso, afirmo o dito popular. Valemo-nos dos
mecanismos de defesa, para evitarmos reconhecer e trabalhar nossas carências
pessoais e profissionais etc.
A teoria leva o profissional a ser eficaz com menos custos e menor risco. A
prática pode levar a eficiência com elevados custos - tentativas e erros - e
exagerado risco, por que o indivíduo não conhece todas as implicações e todas as
relações que serão desencadeadas com a prática aventureira sem fundamentação
teórica consistente.
Como falei de profissional e, esta palavra nem sempre tem o mesmo significado
para os interlocutores, conceituo o que entendo por profissional: é o indivíduo
que tem competência técnica, emocional e interpessoal para contribuir em equipe,
com a construção do lucro, da segurança e do desenvolvimento, com qualidade de
vida e respeito ao meio-ambiente, com menor tempo, custo e riscos possíveis.
Conceituei para evitar ser inespecífico ou fazer uma suposição inadequada.
A filosofia, meu caro colega administrador pragmático, é a mãe de todas as
ciências! Sem ela é realizarmos atividades desprovidas de interesse pela
evolução do pensamento humano.
Nossos "profissionais" correm atrás de cursos de pós-graduação e de MBA - a
maioria, não para aprender, mas com o auto-engano de que basta ter um diploma
neste nível, para ganhar um incremento na remuneração. Quanta perda de dinheiro
e de tempo! Uma pós-graduação é a busca de mais embasamento teórico para fundar
a prática consequente. Perceba a incoerência: se a teoria na prática é outra
coisa, por que, então, buscar formação acadêmica e uma pós-graduação? Freud
explica. Somente a combinação equilibrada de teoria e prática gera bons
resultados a baixo custo contábil e humano, com o menor risco financeiro e
humano para o profissional, a organização e a comunidade. A prática sem teoria é
chute, aventura irresponsável, um jogo de azar.
Quanta oportunidade tem os responsáveis pela Gestão de Pessoas para
contribuir com o desenvolvimento pessoal, profissional e organizacional. Não se
iludir com modismos ou pensamentos mágicos já seria uma grande contribuição.
Enfatizo que não estou colocando o que é mais importante - a teoria ou
prática, que é um falso dilema. Mas que devamos dar importância a ambas, pois
são complementares, como razão e emoção. A teoria desafia a prática, e esta
estimula a teoria.
Respeito quem acredita no falso dilema teoria ou prática, mas lamento o
enfoque que deprecia a teoria e seu relevante papel no desenvolvimento da
humanidade. É preconceituoso pensar e agir como se os jovens profissionais só
tivessem interesse por regras ou casos práticos, que na maioria das vezes, não
permite transplante da cultura na qual foi exercitada para outra. As
organizações, assim como as pessoas, possuem individualidade, isto é, são
ímpares.