Muito tem se falado sobre a "geração Y" ou a "net generation". Don Tapscott,
autor dos livros Wikinomics e, recentemente, "Growning Up Digital: The Rise of
the Net Generation", é um dos papas do tema. Para fundamentar essa sua última
obra, Tapscott pesquisou milhares de jovens em 12 países ao redor do mundo,
encontrando diferenças regionais na relação deles com o trabalho. Algumas
conclusões interessantes: na América do Norte, liberdade geralmente significa
fazer o próprio horário de trabalho. Já em economia emergentes, a maior
facilidade em trocar de empresa rapidamente.
Outra pesquisadora também provou que existem diferenciações de nação para nação.
Fátima Rosseto, uma das diretoras da DBM Brasil - consultoria especializada em
Gestão do Capital Humano em momentos de transição -, demonstrou que o Brasil tem
uma característica realmente diferente dos Estados Unidos. Por razões
econômicas, sociais e culturais, só agora começamos a produzir os primeiros
representantes de uma geração anterior, a X. Uma geração que tem profissionais
conhecidos como excelentes empregados, leais às camisas das empresas e com focos
em acúmulo de riquezas, segurança e carreira, mas que começa a se confrontar com
uma nova, que ingressa no mercado de trabalho e se comporta de maneira
antagônica: a geração Y.
No Brasil, os "X" estão colhendo os frutos por terem nascido entre duas safras.
Essa geração está entre aquela repleta de ideais, excelentes trabalhadores e que
viveu o milagre econômico (os baby boomers) e a nova, que já nasceu
conectada, que quer equalizar vida profissional e pessoal, que questiona o
porquê das coisas, que é imediatista e já está construindo um novo jeito de
fazer negócios.
Será que os empresários e os profissionais de Recursos Humanos têm a real
dimensão do que ainda está por vir? Quando um empreendedor monta o seu negócio,
não o constrói, para que dure somente seis meses. Pode até estar em seu
planejamento o crescimento e a solidez da empresa para uma futura venda, mas com
certeza isso não acontece em um espaço tão curto de tempo. Se a perpetuidade de
uma empresa faz parte do negócio, como garantir seu futuro quando a maioria dos
empregados for dessa geração imediatista? Será que somente o setor de RH e a
cultura organizacional terão que se adaptar às manias e às particularidades
desses novos profissionais?
Dá para imaginar que a cada seis meses cada RH estará diante da necessidade
de trocar quase a totalidade do seu headcount, simplesmente porque a
mão de obra é movida por desafios e imediatismos. Ou, ainda, porque querem
retorno e crescimento para "ontem", quando se sabe muito bem que a maioria dos
negócios exige ações de curto, médio e longo prazos. Não é esse um dos
subprodutos do planejamento estratégico? Planos de ação para os próximos cinco
anos? Quem ficará na empresa? Quem irá plantar para colher na frente? Quem irá
implementar esses planos de ação e o que foi desenhado pelo planejamento? Será
que a geração Y também não terá que aprender com a X, assim como a X aprendeu
com a anterior? A curva de experiências das empresas, para onde vai, se cada
profissional ficará na media só seis meses?
No mundo dos negócios, é vital evoluir, mas isso não significa que se deva negar
o passado. Os novos profissionais terão que aprender a importância dos valores,
entenderem que tudo na vida tem o seu tempo, que a paciência é um atributo
valioso. Talvez aqueles da geração Y que se derem conta disso poderão
destacar-se no mercado. Quem sabe, também se abra espaço para a volta de
profissionais que antes foram forçados a se aposentar aos 60 anos, justamente
para equalizar o time, formando uma equipe de imediatistas com alguns
conservadores. Há a possibilidade desse convívio de gerações ser mais importante
do que se possa imaginar para o mundo dos negócios e para o crescimento
profissional de cada um. Mas isto, só o tempo dirá.
Entre todas estas hipóteses, uma é certa: não dá para ser oito, nem 80. Para
a sobrevivência e o crescimento de todos, tanto profissionais quanto empresas,
será preciso ceder. Aprender com o outro continuará sendo a chave do sucesso.