“Um homem não é
grande pelo que faz, mas por aquilo a que renuncia.”
(Albert Schweitzer)
Muitos amigos leitores têm solicitado a minha opinião acerca do rumo a dar às
suas carreiras. Alguns apreciam o seu trabalho, mas não a empresa onde estão.
Outros admiram a harmonia conquistada, mas não têm qualquer prazer no exercício
das suas funções. Uns recebem propostas para mudar de emprego, financeiramente
desfavoráveis, porém desafiantes. Outros têm diante de si um vasto leque de
opções, muitas coisas por fazer, mas não conseguem abarcar tudo.
Todas estas pessoas têm algo em comum: a necessidade premente de escolhas.
Lembro-me de Clarice Lispector: “Entre o ‘sim’ e o ‘não’, só existe um caminho:
escolher”.
Acredito que quase todas as pessoas passam ao longo da sua vida pelo “dilema
da mudança”. Um momento especial em que uma decisão específica e irrevogável tem
que ser tomada apenas porque a vida não pode continuar como está. Algumas
pessoas passam por isso aos quinze anos, outras, aos cinqüenta. Algumas talvez
nunca tomem esta decisão, e outras façam-no várias vezes no decorrer da sua
existência.
Fazer escolhas implica renunciar a alguns desejos para viabilizar outros.
Você troca a segurança pelo desafio, o dinheiro pela satisfação, o incerto pelo
muito duvidoso. Assim, uma empresa que lhe oferece estabilidade com apatia pode
dar lugar a uma dotada de instabilidade com ousadia. Do mesmo modo, a aventura
de uma vida de solteiro pode ceder espaço ao conforto de um casamento.
Prazer e Vocação
Os anos ensinaram-me algumas lições. A primeira delas vem de Leonardo da
Vinci que dizia: “A sabedoria da vida não está em fazer aquilo que se gosta, mas
em gostar daquilo que se faz”. Sempre imaginei que fosse o contrário. Porém,
refletindo, passei a compreender que quando estimamos aquilo que fazemos,
podemos sentir-nos completos, satisfeitos e plenos, ao passo que se apenas
procurarmos fazer o que gostamos, estaremos sempre numa busca insaciável, porque
o que gostamos hoje não será o mesmo que apreciaremos amanhã.
Todavia, é indiscutível a importância de ajustar o prazer às nossas aptidões.
Encontrar o talento que reside dentro de cada um de nós a que chamamos vocação.
Oriunda do latim vocatione, e traduzida literalmente por “chamado”,
simboliza uma espécie de predestinação inerente a cada pessoa, algo revestido de
uma certa magia e divindade. Uma voz imaginária que soa latente, capaz de fazer
advogados transformarem-se em músicos, engenheiros “virarem suco”. É um
lugar no tempo e no espaço onde a felicidade tem a sua morada.
As escolhas são feitas com base nas nossas preferências. E aí torno a
recorrer à etimologia das palavras para descobrir que o verbo “preferir” vem do
latim praeferere e significa “levar à frente”. Parece-me uma indicação
clara que as nossas escolhas devem ser feitas com os olhos no futuro, no uso do
nosso livre arbítrio.
O mundo empresarial reserva-nos muitas armadilhas. Trocar de empresa ou mudar
de função, por exemplo, são convites permanentes. O problema de recusá-los é
passarmos o resto da vida a perguntarmo-nos: “O que teria acontecido se eu
tivesse aceite?”. Prefiro não carregar comigo o benefício desta dúvida. Por
isso, opto por assumir riscos calculados e seguir em frente. Somos livres para
escolher, e no entanto prisioneiros das conseqüências.
Para aqueles insatisfeitos com o seu ambiente de trabalho, uma alternativa à
mudança de empresa é requerer a melhoria do ambiente interno atual. Dialogar e
apresentar propostas é um bom caminho. De nada adianta assumir uma postura
defensiva e crítica. Lembre-se que as pessoas não estão contra si, mas a favor
delas.
Por fim, combata a mediocridade em todas as suas vertentes. A mediocridade de
trabalhos desligados da sua vocação, de empresas que não o valorizam, de
relacionamentos esgotados. Sob este aspecto, como diria Tolstoi, “Não se pode
ser bom pela metade”. Meias-palavras, meias-verdades, mentiras inteiras, meio
caminho para o fim.
Os gregos não escreviam obituários. Quando um homem morria, faziam uma
pergunta: “Ele viveu com paixão?”.
Qual seria a resposta para si?