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Carreira / Emprego - Tempo de escolher  

Data: 19/12/2008

 
 

“Um homem não é grande pelo que faz, mas por aquilo a que renuncia.”
(Albert Schweitzer)

Muitos amigos leitores têm solicitado a minha opinião acerca do rumo a dar às suas carreiras. Alguns apreciam o seu trabalho, mas não a empresa onde estão. Outros admiram a harmonia conquistada, mas não têm qualquer prazer no exercício das suas funções. Uns recebem propostas para mudar de emprego, financeiramente desfavoráveis, porém desafiantes. Outros têm diante de si um vasto leque de opções, muitas coisas por fazer, mas não conseguem abarcar tudo.

Todas estas pessoas têm algo em comum: a necessidade premente de escolhas. Lembro-me de Clarice Lispector: “Entre o ‘sim’ e o ‘não’, só existe um caminho: escolher”.

Acredito que quase todas as pessoas passam ao longo da sua vida pelo “dilema da mudança”. Um momento especial em que uma decisão específica e irrevogável tem que ser tomada apenas porque a vida não pode continuar como está. Algumas pessoas passam por isso aos quinze anos, outras, aos cinqüenta. Algumas talvez nunca tomem esta decisão, e outras façam-no várias vezes no decorrer da sua existência.

Fazer escolhas implica renunciar a alguns desejos para viabilizar outros. Você troca a segurança pelo desafio, o dinheiro pela satisfação, o incerto pelo muito duvidoso. Assim, uma empresa que lhe oferece estabilidade com apatia pode dar lugar a uma dotada de instabilidade com ousadia. Do mesmo modo, a aventura de uma vida de solteiro pode ceder espaço ao conforto de um casamento.

Prazer e Vocação

Os anos ensinaram-me algumas lições. A primeira delas vem de Leonardo da Vinci que dizia: “A sabedoria da vida não está em fazer aquilo que se gosta, mas em gostar daquilo que se faz”. Sempre imaginei que fosse o contrário. Porém, refletindo, passei a compreender que quando estimamos aquilo que fazemos, podemos sentir-nos completos, satisfeitos e plenos, ao passo que se apenas procurarmos fazer o que gostamos, estaremos sempre numa busca insaciável, porque o que gostamos hoje não será o mesmo que apreciaremos amanhã.

Todavia, é indiscutível a importância de ajustar o prazer às nossas aptidões. Encontrar o talento que reside dentro de cada um de nós a que chamamos vocação. Oriunda do latim vocatione, e traduzida literalmente por “chamado”, simboliza uma espécie de predestinação inerente a cada pessoa, algo revestido de uma certa magia e divindade. Uma voz imaginária que soa latente, capaz de fazer advogados transformarem-se em músicos, engenheiros “virarem suco”. É um lugar no tempo e no espaço onde a felicidade tem a sua morada.

As escolhas são feitas com base nas nossas preferências. E aí torno a recorrer à etimologia das palavras para descobrir que o verbo “preferir” vem do latim praeferere e significa “levar à frente”. Parece-me uma indicação clara que as nossas escolhas devem ser feitas com os olhos no futuro, no uso do nosso livre arbítrio.

O mundo empresarial reserva-nos muitas armadilhas. Trocar de empresa ou mudar de função, por exemplo, são convites permanentes. O problema de recusá-los é passarmos o resto da vida a perguntarmo-nos: “O que teria acontecido se eu tivesse aceite?”. Prefiro não carregar comigo o benefício desta dúvida. Por isso, opto por assumir riscos calculados e seguir em frente. Somos livres para escolher, e no entanto prisioneiros das conseqüências.

Para aqueles insatisfeitos com o seu ambiente de trabalho, uma alternativa à mudança de empresa é requerer a melhoria do ambiente interno atual. Dialogar e apresentar propostas é um bom caminho. De nada adianta assumir uma postura defensiva e crítica. Lembre-se que as pessoas não estão contra si, mas a favor delas.

Por fim, combata a mediocridade em todas as suas vertentes. A mediocridade de trabalhos desligados da sua vocação, de empresas que não o valorizam, de relacionamentos esgotados. Sob este aspecto, como diria Tolstoi, “Não se pode ser bom pela metade”. Meias-palavras, meias-verdades, mentiras inteiras, meio caminho para o fim.

Os gregos não escreviam obituários. Quando um homem morria, faziam uma pergunta: “Ele viveu com paixão?”.

Qual seria a resposta para si?



 
Referência: psicologia.com.pt
Autor: Tom Coelho
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