Convém iniciar esta reflexão pela própria natureza do ser humano, ou seja,
levar em conta a sua dimensão psíquica, estrutura que vem se aperfeiçoando ao
longo do tempo. A relevância aqui focada dá-se pela determinação do
direcionamento que o homem tem em relação a sua conduta social. As pessoas
podem, conscientemente, optar por algumas formas de se relacionar com as outras
e isto acaba se incorporando a um sistema de auto-regulação social. Por vezes,
baseado no contrato social estabelecido, em virtude de o homem tender para o
individualismo, visando somente o seu próprio bem para assim viver
confortavelmente. Submetido ao determinismo de suas paixões, o homem é arrastado
a conseguir seu próprio bem, sua conservação, seu prazer, o seu bem-estar e
glória.
Desejo aqui, ampliar esta visão, ao considerar outra instância de seu psiquismo:
o inconsciente. Boa parte do que o ser humano pensa ou sente não lhe é de total
domínio, ou da ordem racional. Ao contrário, falta-lhe a consciência a este
respeito. Seus comportamentos revelam a inconseqüência de seus atos através de
numerosos exemplos: guerras, violência, etc.
A inconsciência está ligada ao grau de maturidade em que se encontra o ego do
ser humano. O ego é responsável por nossos direcionamentos e opções de forma de
ser e de conviver socialmente. Na proporção elevada inconsciente encontraremos
as paixões (vaidade, orgulho, etc) como aliadas neste processo relacional. Logo,
o homem, por sua natureza, agirá, via de regra, de forma parcial. Ainda que não
tenha clareza acerca de tal fato, a sua vida estará orientada por tais
pressupostos.
Quando falamos sobre liderança nas relações humanas, podemos compreendê-la a
partir de diferentes óticas. Um bom exemplo é a hierarquia que ela representa.
Outra forma é a sua flexibilidade situacional, elegendo convenientemente um tipo
de liderança para cada necessidade. E, ainda, liderança com pouquíssimo contato,
ou liberal. Todavia, o estilo de liderança que pretendemos avaliar, sobretudo a
suas bases filosóficas, é a Moral.
Na verdade, o que se tem em mente quando estudamos este tipo de liderança, é a
moral que a permeia, conduzindo as relações humanas nelas presente. A discussão
moral é bem antiga, encontrada nos escritos de vários filósofos. O que levaremos
em conta é a representação que a moral tem perante os membros de um grupo e as
condutas adotadas por aqueles que simbolizam a liderança para os seus pares.
Nos deparamos com uma situação sutil e de difícil empreitada quando tratamos de
liderança moral. A sua essência está na virtude de ser moral. O homem não mantém
a moralidade em tempo integral apenas por tentar sê-lo.
A justiça participa da razão prática, sendo o seu estudo pertencente ao campo
das ciências práticas, guardando relação com a ação, e não com a teoria. É algo
que se pratica, mais do que se pensa. Para tanto se faz necessária uma forte
aderência da vontade de quem a pratica. Aquele que pratica atos justos não
necessariamente é um ”homem justo”; pode ser um “bom cidadão”, contudo, jamais
será um “homem justo” ou um “homem bom” de per si.
Os membros de um grupo percebem como é o líder com quem há uma convivência. A
sua conduta revela, em boa parte, a sua moral. Tal condição pode viabilizar ou
não a coesão grupal. Nestes termos, lembraremos da transparência com que cada
atitude do líder aparece no seu meio. Basicamente, tudo é captado pelos
liderados, além de levado em conta nas suas avaliações pessoais e profissionais
(atmosfera grupal, execução de tarefas, empatia, etc).
De forma imperceptível, as pessoas mantêm-se unidas num grupo, baseadas em
detalhes cotidianos. A dimensão aqui corresponde a evidência com que a moral se
apresenta no líder, desde eventos simples até os mais sofisticados e complexos.
Uma simples decisão de iniciar um horário para executar tarefa, até a demissão
de um dos elementos do grupo. O que determinará a liderança moral é o
comprometimento para com o grupo, em detrimento das causas pessoais que possam
existir em um líder.
A base aqui existente traduz, sobremaneira, o elo que une as pessoas e as mantêm
grupalmente de forma sólida. O enraizamento desta união encontra terreno
propício e profundo quando os nutrientes vitais são importantes e justos: a
liderança moral. A junção invisível, mas presente em peso é a confiança.
Conforme o dicionário, confiança significa: 1. Ação de confiar; 2. Segurança
íntima; 3. Crédito, fé; 4. Boa fama. Confiar é algo precioso, uma vez que damos
crédito a outrem. Depositamos fé nesta relação. Chamo a atenção para este ponto
da reflexão, tendo em vista que conquistar a fé e a credulidade de alguém é um
fenômeno digno de louvor. As pessoas não saem por ai distribuindo confiança com
segurança. Portanto, se a conexão entre duas ou mais pessoas se estabelece com
base na confiança, temos, então, uma relação mais profunda, e, conseqüentemente,
maior abundância de bom convívio entre líder e seguidores.
O líder que possui uma base moral como essência de sua forma de liderar
compreende que a troca é um exercício fundamental de direitos e deveres entre
todos do grupo. A troca de conhecimento por meio da aprendizagem bem ilustra
esta característica de liderança. Outro item é a compreensão que as pessoas
podem ter umas das outras, ao ouvi-las atentamente, tornando-se mais empáticas e
gerando entendimento mais profundo. Estas trocas indicam uma virtude fundamental
para as relações humanas: a Lei Áurea. “Faça ao outro o que gostaria que fizesse
a si mesmo”. O exercício desta máxima amplia os horizontes do desenvolvimento
humano, valendo-se da força que o grupo pode apresentar num convívio deste
quilate.
Em suma, nas relações humanas, onde haja um modelo de liderança que atua com
profundidade, de cuja base é a confiança; encontramos motivos e desenvolvimento
pessoal e profissional com comprometimento. Quando as pessoas se mobilizam por
estas razões, mais grupo e menos ego, os resultados de variadas atividades
mostram-se diferente, não apenas pelo êxito ou não resultante, mas,
principalmente, pela forma em como se processou a construção saudável de
qualquer execução de trabalho.