“A conduta é um espelho no qual todos exibem sua
imagem”.
(Goethe)
Um renomado palestrante é contratado para fazer uma apresentação em um evento
de uma multinacional. Porém, apenas uma hora antes do início programado, ele
ainda encontra-se no quarto do hotel. O motivo: em vez de um luxuoso veículo
importado, enviaram “apenas” uma inaceitável van completamente equipada,
inclusive com bancos de couro, para buscá-lo.
Os chamados “pecados capitais” acometem cada um de nós. Não são admiráveis, pois
se assim o fossem, seriam chamados de “virtudes capitais”. Derivados do latim
caput, nascem e são nutridos por nós mesmos, em nossas cabeças. Somos os líderes
e chefes de nossos caprichos e vícios.
Gula, avareza, inveja, ira, luxúria, preguiça e soberba. A cada um dos pecados
há outros comportamentos associados. Exemplificando, a avareza traz consigo a
cobiça, o engano, a fraude e a traição. Já a ira, é acompanhada pela raiva, pelo
ódio e pela vingança. A preguiça, por sua vez, alimenta o desânimo, a
indolência, a negligência e a procrastinação. A luxúria remete-nos à
libertinagem, à lascívia e à corrupção. E a soberba, à vanglória, ou seja, a vã
glória, ao orgulho e à vaidade.
São Tomás de Aquino pontuou, em meados do século XIII, que a soberba é um pecado
de tamanha magnitude que pode ser considerado um “mega-capital”. Esse conceito
foi muito bem ilustrado no filme “O Advogado do Diabo” quando o personagem de Al
Pacino sentencia: “A vaidade é meu pecado predileto”.
O poder e o dinheiro são matérias-primas absolutamente generosas para com a
vaidade. É lamentável, mas é fato recorrente. Observe o que acontece com a
maioria das pessoas que recebem uma promoção. Ou que são premiadas pelo
cumprimento de metas suplantando outros colegas de trabalho. Há também quem
ganhe títulos, seja pela conclusão de um curso de especialização, seja pela
outorga espontânea. Em qualquer dos casos, subir na hierarquia geralmente faz
subir a cabeça...
Com o dinheiro as conseqüências são ainda piores. Porque ele não muda as
pessoas, mas apenas as desmascara. As conquistas materiais alteram sobremaneira
o comportamento das pessoas. Os carros em que circulam mostram-se desejáveis, as
roupas que vestem apresentam tecidos e cortes esplêndidos, os vinhos que
degustam passam a custar o que outrora fora o orçamento de todo um mês. Mudam os
hábitos, mudam as companhias, mudam a postura e a expressão do olhar.
A vaidade é de forma indubitável o pior dos pecados. Onde não há vaidade, não há
gula, porque o alimento é visto como sustento e não como objeto inanimado dos
desejos. Sem vaidade, a avareza perde sua razão de ser, levando consigo a
inveja, pois não há porque malograr a felicidade alheia. À ausência da vaidade
segue a da ira, porque os julgamentos tornam-se lúcidos, as imperfeições de
outrem, similares às nossas, posto que inerentes ao nosso ser. Quando a vaidade
não viceja, a luxúria descobre-se supérflua e desnecessária. Onde não há
vaidade, não há preguiça, pois inexiste o orgulho por nada fazer para se ganhar
a vida.
Por onde a vaidade transita, a humildade, a modéstia e a serenidade se despedem.
Perdemos nossa identidade, esquecemos propositadamente quem somos e de onde
viemos. Ignoramos nossas próprias origens e até passamos a acobertá-las,
desgraçadamente envergonhados que nos sentimos.
Portanto, cuide para que a arrogância não seja estampada em seu caminhar, que a
presunção não fique registrada em suas palavras e, fundamentalmente, que a
incoerência entre o que você pensa, diz e faz não se torne sua reputação e seu
caráter.