Carreira / Emprego - Brutos, cruéis e malvados
A violência, o desrespeito e a crueldade no ambiente de trabalho ocorrem em
todos os lugares, em todos os níveis hierárquicos. Basta que existam duas
pessoas: um chefe e um subordinado. A brutalidade no ambiente de trabalho não
envolve necessariamente violência física. Casos assim acontecem, é claro, mas
são tão inadmissíveis e evidentes que acabam logo resolvidos de alguma forma,
por mais insensível que a empresa seja.
A violência que atinge a maioria das pessoas no trabalho é a psicológica, muitas
vezes subliminar, velada — mas tão ou mais intimidadora e nociva do que a outra.
A crueldade mental de chefes em relação a seus subordinados é sempre menos
visível e, justamente por isso, bem mais complicada de resolver. Muitas vezes,
não deixa as impressões digitais de quem a comete. Mas faz enormes estragos na
alma das pessoas: abala a autoconfiança, corrói o amor-próprio e põe em jogo o
respeito que têm por si mesmas. É, sabidamente, uma causa importante de
depressão. Por vezes, seus danos são irremediáveis.
As vítimas da violência psicológica, muitas vezes, preferem não falar a respeito
com os colegas de trabalho — e, menos ainda, com quem esteja acima do mau chefe
e tenha o poder de coibir seu comportamento perverso. Motivo óbvio: têm medo de
perder o emprego. Colaboram, assim, com o opressor — e acabam por incentivá-lo a
continuar agindo como age. A ação de chefes brutais pode ocorrer de maneiras
variadas. Depende do estilo de agir, de quanto poder têm e do grau de suas
neuroses. De qualquer forma, é fácil perceber quando se está diante de um chefe
assim — principalmente quando se é uma vítima. Eis os principais traços de sua
personalidade.
Controlador — Não confia em ninguém. Por princípio, está convencido de
que todos os subordinados são ineptos ou, no mínimo, não tão bons quanto ele.
Quer ter a primeira e a última palavra sobre tudo, chama a si todos os detalhes,
bloqueia toda iniciativa individual. Não se preocupa em disfarçar esse seu modo
de pensar. Fala na cara das pessoas e de quem mais estiver em volta (desde que
não seja um superior).
Dominador — Não tem noção do que seja liderar. Ser chefe significa dar
ordens, impor sua vontade e exigir obediência. Quer e pratica o domínio pela
contundência.
Inflexível — Não admite erros. Não muda de opinião ou de conduta, salvo
por decisão própria. Não ouve argumentos contrários. Não tolera alterações,
mesmo positivas, no cumprimento de seus decretos. Persiste em equívocos, a não
ser que seus superiores o obriguem a corrigi-los.
Obscuro — Não consegue instruir seus subordinados com clareza a respeito
de como, na prática, resolver tarefas — ou não tem interesse em fazer isso.
Fala, e muito, que quer as coisas assim ou assado, mas é incapaz de demonstrar
as ações necessárias para executar suas ordens.
Agressivo — Não tem controle sobre sua energia. Sua agressividade não é
dirigida para coisas produtivas. Em compensação, sempre acerta o alvo quando
este é um subordinado. Diante de um superior, torna-se um cordeirinho.
Teimoso — É pouco receptivo à influência. A conversa com ele é sempre
difícil: por melhores que sejam os argumentos do subordinado, não dá o braço a
torcer. Simplesmente acaba a conversa dizendo 'Eu prefiro desse jeito e é assim
que vai ser'.
Autoritário — Dificilmente pede alguma coisa. Só manda: 'Faça isso. Me
traga aquilo. Venha cá'.
Manipulador — Utiliza, para seus objetivos individuais, as pessoas sobre as
quais exerce autoridade. Joga umas contra as outras, aproveita-se de seus
defeitos e as leva a fazer coisas que ele quer ver feitas, mas cuja
responsabilidade não está disposto a assumir.
Poderoso — O chefe brutal sempre tem algum tipo de poder concedido pela
empresa (quanto maior, mais perigoso ele é). Usa esse poder de forma perversa e
destruidora. Quando sai, não deixa ninguém em seu lugar. Não é capaz de criar
sucessores, de ajudar alguém a crescer.
Sem graça — É desprovido de senso de humor. Não entende nem admite uma
brincadeira. Sua idéia mais próxima do humor é o sarcasmo. Se chega a brincar
com alguém, sempre faz isso de maneira a humilhá-lo, diminuí-lo ou chamar
atenção para suas fraquezas.
Insensível — Não tem, nem sabe o que significa ter, percepção sobre os
desejos e as necessidades de um ser humano. Não se interessa pela vida de seus
subordinados, não é solidário e não tem consideração com as pessoas. Seu grau de
compaixão é mínimo ou inexistente. Em geral, é impermeável à justiça ou à
gratidão.
Não sabe ouvir — É um péssimo receptor do que os subordinados têm a
dizer. Tudo o que interessa é a própria voz.
Inseguro — Está sempre desconfiado e na defensiva. Da mesma forma, está
sempre pronto para represálias.
Desagregador — Não quer um time unido. Isso não lhe convém, porque,
afinal, podem todos se juntar e se voltar contra ele.
Mal resolvido — Dá sinais fortes de que é uma pessoa que vive mal consigo
mesma, não é feliz. Seu grau de autoconhecimento é zero.
Ufa! Será que existe mesmo alguém assim? Sim, existe — embora, provavelmente,
não seja comum encontrar todos os traços descritos anteriormente num mesmo
indivíduo. Os danos que um chefe assim, solto, pode causar são muitos. A
comunicação interna fica confusa e truncada — os subordinados deixam de falar a
verdade, começam a filtrar as informações que vão para o chefe, escondem o que
sabem. Erros deixam de ser apontados e oportunidades de negócio são perdidas. A
motivação cai abaixo de zero; apenas a necessidade do emprego e do salário
segura os funcionários. O mais prático, para quem está nessa situação, é se
livrar do problema mudando de emprego. Não sendo possível, a saída é aprender a
lidar com isso. Há maneiras de conviver com um chefe brutal e, ainda assim,
continuar se desenvolvendo profissionalmente. Vamos a elas:
1. 'Considere o aprendizado que você está tendo com seu chefe', diz a
psicóloga Bene Catanante, diretora da consultoria paulista Com Ciência
Comunicação e Desenvolvimento Pessoal. Como não existe uma pessoa que só tenha
defeitos, ele, por mais monstruoso que seja, deve ter qualidades (provavelmente
as que o levaram ao cargo atual).
2. Observe quais são as coisas (ou assuntos, ou atitudes) que provocam um
acesso de irritação no chefe. Evite-as ao máximo. Discutir com ele, como você
sabe, é uma luta inglória. Não perca seu tempo.
3. Mesmo que seu chefe não mereça que você se esforce, continue sempre
fazendo seu trabalho da melhor maneira. Não é pelo chefe que o subordinado deve
se esforçar — é por ele mesmo.
4. Se ele o tiraniza com pressões psicológicas, ameaças e críticas, com
demasiada carga de trabalho, ou com desafios para os quais você não está
realmente preparado, vale a pena admitir que isso ocorre, muitas vezes, porque
você está permitindo. Observe em que você precisa se fortalecer para que seu
chefe lhe trate, mesmo a contragosto, com mais respeito e consideração.
5. Se você se sente fortalecido, resolva o problema diretamente com o
chefe. Reflita sobre o que vocês terão a ganhar, crie uma oportunidade e
enfrente a fera. 'Faça-o perceber que ele poderá conseguir o que deseja mais
facilmente se estiver predisposto a mudar as atitudes', recomenda Bene.
6. Se qualquer tentativa de convivência civilizada é em vão, simplesmente
evite maiores contatos. Não entre na sala dele. Quando tiver de lhe comunicar
alguma coisa, faça-o por e-mail (sempre que possível).
7. Por fim, tente não se deixar abater pelo clima ruim. Seu foco deve
estar em seus objetivos. Lembre todos os dias que esse seu chefe brutal não vai
ficar aí eternamente. A sua carreira, sim, tem de ter vida longa.
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