Em primeiro lugar…
…acho que comprar um carro zero pode não ser um bom negócio. A desvalorização do
automóvel nos primeiros doze meses é impressionante! Segundo ponto: esse tipo de
financiamento, assim como o açúcar atrai formigas, pega em cheio uma das
parcelas mais ignorantes (não só financeiramente) da população brasileira. Juro
é bom de receber
, não de pagar. Claro, exceto quando você pode usar o endividamento para
alavancar-se. Não é o caso aqui.
Como é esse financiamento?
Leasing! Você não é dono do carro até pagar a última
prestação. Hoje, essa modalidade de crédito domina os financiamentos concedidos
para a aquisição de veículos. Atualmente, 60% dos
financiamentos são feitos através de leasing e 40%
através de CDC. Os juros do leasing são baixos devido a incentivos
fiscais para esse tipo de crédito. É verdade, as taxas são baixas. Apenas 0,89%
ao mês, 11,21% ao ano! Menos que a Selic, que hoje está em 11,25%. Ótimo negócio
então? Para os financiadores sim.
Ah, mas a prestação cabe no orçamento…
E daí? O que será que pode acontecer nesses 8 anos e 3 meses com sua renda? Com
seu orçamento ? Com sua vida? Será que você ainda vai querer esse carro daqui a
8 anos? Será que não vai desejar trocar antes? Acho que há uma certa “euforia”
por parte dos agentes financiadores, pautada na expansão da renda e do consumo
da classe C. Uma certa concessionária vendeu mais de 600 carros (!!!) em apenas
dois dias de feirão. Com isso, tem gente achando que vem um subprime automotivo por
aí. “Esse pode ser nosso subprime” disse Ray Young,
ex-presidente da GM Brasil. O atual presidente, Jaime Ardilla,
concorda com seu antecessor.
Ah, não é para tanto!
O presidente da Anef (Associação Nacional das Empresas
Financeiras das Montadoras) diz que “cabe o alerta”, mas que nossa
situação é bem diferente da existente nos EUA. Essa também é a opinião do
presidente da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de
Crédito, Financiamento e Investimento). Érico Sodré diz que
“Estamos muito longe da crise do subprime”. Também foi o que disseram o JP
Morgan e outros bancos de investimento nos EUA algum tempo atrás. Ok, a
inadimplência está estável, não vem crescendo. Mas repare nas opiniões aqui
colocadas. As associações das financeiras defendendo o crédito fácil de longo
prazo. É bom negócio pra quem?
Não está convencido de que é uma fria?
A reportagem mostra a história de um consumidor corajoso, que conta sua
experiência de jogar pelo ralo R$ 9 mil em sete meses. Isso
aconteceu quando este brasileiro decidiu financiar um carro de R$ 19 mil em
“apenas” 60 parcelas de R$ 641,00, sem entrada! Ao fazer as contas, os R$ 19 mil
se tornariam R$ 38,5 mil. Espere um pouco, juro de 100%? Exatamente! Este é
poder dos juros compostos ; transformar uma pequena taxa mensal em 100%, ou
mais, em 5 anos. Por que ele fez este “excelente” negócio? Ele mesmo responde:
“Financiei o valor integral do veículo por impulso e falta de informação”
Com outros gastos como seguro, estacionamento, combustível, manutenção,
aquela esponjinha com cheiro de carro novo, os dadinhos pendurados no retrovisor
e a imagem de Santo Antônio no painel, os gastos aumentaram consideravelmente.
Para arcar com esses gastos, nosso amigo comprometeu quase 50% de sua renda
mensal. Resultado:
“Para dar conta, tomei dois empréstimos bancários e passei a rolar
dívidas com cartão de crédito. O prejuízo foi de, no mínimo, R$ 9 mil”
Que cena linda! Linda para quem mesmo? Apesar de agir por impulso na hora da
compra, agiu com inteligência para descascar esse abacaxi: se desfez do carro.
Mas para quitar a dívida com a financeira, teve que pagar uma diferença de R$
3,6 mil.
Então não vale a pena?
Não! Definitivamente não! A não ser que você tenha um investimento rendendo mais
que o juro que você está pagando e que te permita sacar, mensalmente, o valor da
prestação sem reduzir o montante investido. Isso é inteligência financeira, é
alavancagem, é o mínimo que as pessoas deveriam saber sobre juros compostos. Se
essa for a sua realidade, vá em frente.
De qualquer forma, sempre leve em consideração a opção de comprar um carro
com um ou dois anos de uso, já com uma boa depreciação. Outra coisa, será que
não é melhor financiar seu carro zero em um, dois anos apenas, dando a maior
entrada possível? Me lembro de uma empresa financiando casas em 100 meses!
Casas! Agora, comprar um carro para pagar em 99 meses, “tô fora”! E você?