Não é de hoje que o estresse é apontado como um dos grandes males dos nosso
século. Com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo e cada vez mais rápido, de
fato, é difícil acompanhar tudo. Ainda assim, quando se trata de trabalho, as
exigências só crescem. E, para fechar esse círculo que envolve pressão,
exigências cada vez maiores, mercado competitivo e velocidade está o estresse.
É fácil encontrar um profissional que, por algum momento, afirmou que sentiu
estresse. No Brasil, segundo pesquisa realizada pela Robert Half, todos os
profissionais consultados disseram que estão estressados no trabalho. O estudo
ouviu 2.525 executivos em dez países e apontou que 80% dos participantes de
países como Áustria, República Checa e Dubai possuem estresse.
“Quando a pessoa vivencia uma situação de estresse, ela tende a achar que é
pressionada o tempo todo. Sente-se sempre cobrada, de tal forma que, na maioria
das vezes, nem consegue diferenciar o que é estresse e o que é cobrança”,
explica o presidente da ABQV (Associação Brasileira de Qualidade de Vida),
Alberto Ogata.
O estresse é considerado por muitos, como Ogata, uma doença, com prejuízos
para além do ambiente corporativo. “O estresse gera um aumento na adrenalina,
prejudica a concentração, piora o desempenho e causa problemas de saúde”, afirma
o presidente executivo do Insadi (Instituto Avançado de Desenvolvimento
Intelectual), Dieter Kelber.
Apesar de um ambiente de trabalho no qual se exige cada vez mais
profissionais multitarefa, não é apenas isso que gera o estresse. Os
especialistas concordam que existem profissionais que se dão muito bem com esse
ambiente. Outros não. “São inúmeras as fontes de estresse e estas passam por
diferentes ordens, que podem ir desde fatores relacionados à organização e
processos do trabalho, até os fatores ambientais e relacionais”, explica Ogata.
“A doença é multifatorial e não existe uma causa única. Temos de ver o indivíduo
dentro de um contexto mais amplo”.
O cenário favorável
O contexto do profissional é que influenciará o surgimento do estresse. A
consultora da Search RH Consultoria em Recursos Humanos, Fabiana Goes, explica
que alguns comportamentos do próprio profissional podem favorecer a doença.
“Trabalhar muitas horas por dia e passar muito tempo longe da família faz com
que o profissional tende a ter mais estresse”, afirma a consultora.
O estudo da Robert Half aponta que 60% dos profissionais acreditam que o
ambiente de trabalho e a fofoca entre colegas são os principais fatores que
geram o estresse. Para as mulheres, esses fatores têm um peso maior, de 66%
contra 49% dos homens. O aumento da carga de trabalho é o segundo fator que gera
estresse para 47% dos brasileiros. Pressões do chefe consideradas desnecessárias
foram indicadas por 44% dos profissionais como fator gerador de estresse.
Fabiana ainda aponta outros motivos como a incompatibilidade dos valores do
profissional com os da empresa. “Por isso, é importante conhecer o lugar onde
você vai trabalhar e entender um pouco da cultura organizacional”, afirma a
consultora. Kelber completa a lista de fatores com possíveis desentendimentos
com a liderança. E ressalta que o excesso de ansiedade também provoca a doença.
Esses comportamentos, explica Ogata, devem ser evitados, a fim de não criar
um cenário favorável para a doença. “É importante que as pessoas consigam se
afastar da tensão que o problema traz e foquem as energias na direção das
alternativas de solução. Assim, elas passam a ter uma atitude mais positiva e
resolutiva diante da dificuldade”, explica.
Um olhar sobre os problemas
Entender se o que está sentindo é estresse ou puro cansaço não é tão
simples. Tanto é que a analista de research Fernanda Oliveira, 27, não entende
por que há algumas semanas seu médico diagnosticou um estado de estresse. “Não
entendo o motivo, porque não trabalho além do meu horário, nem sob muita
pressão, gosto do que faço e ganho relativamente bem”, conta.
Ela conta que seu sono é um pouco agitado e que tem dores de cabeça crônicas
há três anos. Por enquanto, Fernanda se concentrará nos esportes para tentar
resolver um problema que ela não enxerga. “Terapia eu não procuro, porque não
sou muito fã. Vou procurar um esporte mesmo”, diz.
Fernanda pode não enxergar o problema, mas ele pode existir, ainda que de
maneira mais contida. Ogata explica que dores de cabeça constantes e distúrbios
do sono são alguns dos sintomas da doença. Outros são alteração de humor,
irritabilidade, depressão, alergias, tonturas, náuseas e mal estar. No extremo,
o estresse pode provocar doenças no aparelho digestivo e até disfunções sexuais.
Busque alternativas
Kelber ressalta que, muitas vezes, o profissional não enxerga mesmo que está
com estresse. “Você quer saber se está com estresse? Pegunte a um amigo”, diz o
especialista. Ao contrário do que muitos acreditam, livrar-se do estresse é mais
simples do que se pensa. “As pessoas geralmente acham que precisam fazer grandes
mudanças em suas rotinas, para ter mais qualidade de vida”, explica Ogata.
Para manter esse equilíbrio, o presidente da ABQV dá dicas que podem ajudar
no trabalho e na vida pessoal:
- Busque entender de forma clara as expectativas dos seus superiores. Para
isso, desenvolva a assertividade e capacidade de comunicação;
- Equilibre o seu estilo de vida. Você precisa de tempo para manter seus
relacionamentos, ter um sono repousante, praticar atividade física e ter
tempo para o lazer;
- Mantenha o otimismo. Avalie seu estado de espírito e procure ver as
coisas sob uma perspectiva positiva;
- Desenvolva mais as habilidades de delegar tarefas aos subordinados,
priorizar e focar naquilo que realmente importa;
- Aprimore o seu planejamento diário. Evite desperdício de tempo com
reuniões inúteis e improdutivas;
- Cuide-se bem. Busque o equilíbrio entre mente, corpo e espírito. Uma
alimentação saudável é fundamental.
- Liste os fatores de estresse em sua vida, reconheça-os e mantenha-os no
nível consciente.
- Procure desacelerar o pensamento negativo.
- Mantenha o equilíbrio emocional.