Nenhum profissional pode se dar ao luxo de ser tão ingênuo ou idealista a
ponto de esquecer que sem lucros nenhuma empresa sobrevive. E mais ingênuo será
se também esquecer que, quando uma empresa não sobrevive, nenhum funcionário
escapa.
A citação dessas obviedades é necessária para que fique assumida, desde já, a
consciência deste articulista de que resultados positivos devem permear qualquer
projeto, programa ou plano de Recursos Humanos.
Em um passado não muito distante, os profissionais de RH tinham suas
preocupações divididas entre fazer cumprir a CLT e manter os funcionários
motivados através de bons planos de benefícios. Era, sem dúvida, uma visão bem
intencionada, mas, convenhamos, muito quixotesca para as expectativas dos
acionistas. Como resultado desse período, muitas áreas de RH - principalmente de
pequenas e médias empresas - enfrentam até hoje uma boa dose de descrença dos
seus dirigentes quanto aos programas que elaboram, não raro acompanhada de
contínuas cobranças para redução de custos com treinamento e quadro de pessoal -
inclusive, o que é pior, em favor de outras áreas consideradas como de "maior
retorno", como marketing, vendas, novos projetos, propaganda, etc.
Supor que uma política saudável de RH não dá retorno é um radicalismo, se não
for ingenuidade ou desconhecimento da dinâmica da motivação humana. Nenhuma
empresa vive apenas COM funcionários motivados, mas certamente nenhuma empresa
vive SEM funcionários motivados. "Empresa" é apenas uma expressão que serve para
dar nome a um conjunto de pessoas que buscam um determinado objetivo. O que
torna vivo esse organismo chamado empresa são as pessoas que a povoam. Sem elas,
não há empresas - as antigas greves que o digam.
Essas considerações têm o propósito de conduzir o profissional de RH à seguinte
reflexão: na sua empresa a preocupação é maior com o QUANTO se produz, vende e
lucra ou o COMO se consegue isso, quer dizer, a que preço? - e com essa pergunta
obviamente não me refiro apenas ao montante da folha de pagamento, mas também
aos níveis de estresse, depressão, "doenças" somáticas, desmotivação,
desagregação familiar, conflitos interpessoais.
O QUANTO é o resultado final buscado: o atingimento das metas de vendas,
das metas de produção, o aumento da fatia do mercado, a diminuição dos índices
de absenteísmo e de turn-over, uma significativa redução de custos e outros
números que compõem um conjunto que se pode resumir como "satisfatório lucro
líquido".
O COMO atingir esses resultados é também muito amplo: vai desde a
qualidade do clima interno e das condições de trabalho até a relação do
funcionário com a chefia e demais colegas: vai desde o espírito de equipe dos
colaboradores até a transparência das comunicações da empresa; vai desde as
oportunidades de aprendizagem e crescimento profissional até a adequação da
tecnologia e dos recursos colocados á disposição das pessoas. A este conjunto de
fatores é que se dá o nome de "qualidade de vida e trabalho".
Portanto, aqui vai outra pérola óbvia: "quanto" e "como" são interdependentes e
igualmente importantes. O que parece não ser tão óbvio assim para muita gente é
que, com uma questão deste porte, não vale brincar de "quem nasceu primeiro: o
ovo ou a galinha?". Ou seja: promoveremos programas de qualidade de vida e
trabalho somente se tivermos lucro ou buscaremos o lucro motivando o pessoal
através de programas de qualidade de vida e trabalho?
Dizem que o melhor esconderijo é o mais óbvio - pois de tão óbvio ninguém
procurará ali. Na verdade, tudo na vida é assim. Em qualquer esfera, sempre que
se procura complicar ao invés de simplificar, o sucesso fica mais difícil. Basta
acompanharmos o noticiário da imprensa para diariamente encontrarmos provas
disso - seja no futebol, na política, na economia, na literatura, no sexo - e
até na solidariedade e no amor. Isso também vale para o trabalho. É simples
assim: pessoas felizes produzem mais.
Tudo o que aprendemos nas Universidades e MBAs (formais ou da vida), deveria ser
colocado à disposição dessa simples equação: o que, na nossa empresa, poderemos
fazer, em conjunto e de maneira objetiva, para atingirmos os resultados
esperados pelos acionistas sem prejuízo da qualidade de vida e trabalho daqueles
que são responsáveis por essa missão? Não tente responder isso sozinho. Todas as
áreas da sua empresa - repito: TODAS - têm uma enorme contribuição a dar nessa
resposta. Basta consultá-las.