Nunca se falou tanto de estresse, suas causas e formas de prevenção. Este é
um campo muito mais vasto do que aparenta, pois o estresse pode ter suas origens
nas mais variadas fontes, desde às orgânicas às emocionais, passando pelas
existenciais.
Muitos fatores contribuem para agravar o estresse de quem já o tem ou plantar
sua semente naquele que ainda não o conhece. Como é um tema que, de uma forma ou
de outra, diz respeito a aspectos comportamentais - que é minha área de atuação
- vez por outra abordarei aqui alguns dos fatores desencadeadores desse novo
integrante do time chamado "mal do século", que tem na sua escalação outros
"jogadores" de peso como depressão, infarto, derrame e por aí vai.
Como se sabe, estamos na era da Comunicação: nunca se leu e se escreveu tanto -
jornais, revistas, livros, sites -, nunca se assistiu tanta televisão, cinema,
teatro ou se ouviu tantas emissoras de rádio - em casa, no carro, no trabalho,
na rua. Somos bombardeados a todo instante pelos mais variados tipos de
comunicação. Já existem casas comerciais nas quais até o banheiro tem som
ambiente, que intercala música (muito bom!) com notícias (argh!). Pode?
Neste capítulo, uma parte da imprensa, ainda que involuntariamente, tem uma
grande parcela de responsabilidade. Não é novidade para ninguém que todos os
meios de comunicação vivem de audiência, seja de leitores, ouvintes ou
telespectadores. Por isso, é às vezes insana a luta travada entre eles para
chamar a atenção do público e ganhar sua preferência. E é aqui que o estresse
ganha espaço.
Há várias e várias formas de se comunicar algo a alguém - e cada forma obtém
efeitos e resultados também diferentes. Faça você mesmo uma experiência:
aproxime-se de um colega de trabalho e diga-lhe de sopetão, com a voz grave e um
semblante sério, carregado: "VOCÊ NÃO SABE O QUE ACABA DE ACONTECER!" E
observe a reação dele: ele pára tudo o que está fazendo, arregala os olhos, a
boca pende aberta, sobrancelhas levantadas e faz silencio absoluto, até ganhar
forças para balbuciar, quase sussurrando: "o que aconteceu?".
Antes de revelar que foi uma "brincadeirinha", procure sentir os batimentos
cardíacos dele. Depois escolha outro colega e repita exatamente a mesma frase,
só que desta vez com a voz macia e em tom baixo, com um leve sorriso nos lábios,
um olhar maroto. A primeira reação do outro - além da natural curiosidade,
inerente a todo ser humano - vai ser a de também sorrir, como que antevendo uma
"fofoca", uma travessura ou uma engraçada "pisada na bola" de alguém.
De certa forma, alguns órgãos da imprensa fazem isso mesmo com a gente. Quando
quer nos impactar, tudo ajuda: desde a música de fundo, o tom grave da voz do
repórter ou do locutor, o tamanho das letras da manchete, tudo conspira a favor
do estresse.
Já se criou até um vocabulário próprio para mexer com nosso ritmo cardíaco - o
dólar não sobe: dispara. A Bolsa não cai: despenca. Os rendimentos da nossa
aplicação não diminuem: desabam. Uma forte chuva no final da tarde não causa
estragos: arrasa. A greve de ônibus não atrapalha o trânsito: paralisa a cidade!
Os casos de gripe não estão apenas aumentando: vem por aí uma epidemia! O
futebol, a economia, o comércio, a agricultura - ninguém mais tem problemas:
agora a palavra é crise. Ou calamidade.
Olha, não sei se acontece com você, mas tem edições de noticiários da TV ou de
jornais que efetivamente levam nossa pressão arterial lá pra cima - ou lá pra
baixo, a depender da tendência. Aliás, vamos torcer para que os médicos não
decidam usar também esse linguajar, senão nossa pressão arterial vai despencar
ou disparar - e não mais humanamente baixar ou subir. E tome-lhe estresse!
Esses comentários pretendem alertar as empresas a respeito da enorme importância
que tem seus padrões e canais de comunicação interna, do imenso cuidado e
atenção que deve ser dedicado a eles. Se não adequadamente elaborados, seus
meios e sua forma de comunicação com os funcionários pode contribuir para a
criação de freqüentes e indesejáveis bolsões de estresse interno junto a eles.
Alguns comunicados e memorandos sobre assuntos relativamente corriqueiros, às
vezes passam a impressão de que um grave acontecimento deve ser esperado para
"explodir" a qualquer momento. Uma palavra mal colocada no discurso do
presidente - ou do diretor no editorial do jornalzinho interno - pode levar o
pessoal a achar que está diante de mais uma onda de demissões ou de uma
reestruturação organizacional para redução de custos - o que vem a dar na mesma.
Quantas vezes você já ouviu o boato de que sua empresa vai ser vendida? Ou vai
se fundir com a concorrente? Quantas vezes já "demitiram" seu presidente,
diretor, chefe - ou até você mesmo? E como é que todos esses boatos chegam até
ao chamado "chão de fábrica" ou à força de vendas, que não transitam pelos
corredores da matriz e, assim, não têm tempo de se atualizar? E as conseqüências
de tudo isso? Dentre outras coisas, mais estresse, naturalmente.
Lógico que não podemos ficar alheios ao que se passa no mundo, mas minha
filosofia principal - e um dos meus antídotos contra o estresse - é de que não
devemos condicionar nosso bem estar e a nossa harmonia interior a fatores sobre
os quais não temos nenhuma influência ou nenhum poder de mudança - como é comum
nestes tempos de globalização. Se podemos fazer algo para melhorar o rumo das
coisas e da nossa própria vida, então arregacemos as mangas e façamos.
O que definitivamente não podemos é permitir que nossa pressão arterial flutue
ao sabor das Wall Street, WorldCom, Nasdaq e de outras artimanhas especulativas.
Senão, quem se ferra é a gente.