Existem dois tipos de teorias: as que funcionam e as que não funcionam. O perigo
é que as teorias que não funcionam costumam ser mais atraentes, sedutoras e
miraculosas. Elas são recebidas com entusiasmo pelos fanáticos, crédulos e
ingênuos de todas as eras, quadrantes e movimentos.
Percebem que nem o objetivo e o racional mundo dos negócios está vacinado
contra as teorias falaciosas. Pelo contrário. Aqui se junta a fome dos gurus com
a vontade de comer de alguns empresários e gerentes que temem perder o “bonde”
da história e, assim, abraçam tudo quanto é modismo, lenda e disparate
acreditando que assim que salvarão os lucros.
A crença de que podemos aprender a gerenciar uma empresa copiando os exemplos
dos desportes é fantasia do que ciência. Um exame crítico, mesmo que não severo,
desmonta em dois tempos a suposta analogia. Vejamos como:
Qualquer equipe ou desportista sai da quadra com um placar anunciando
vitória, empate ou derrota. Nenhuma empresa, organização, gerente ou funcionário
consegue um placar semelhante ao final do expediente.
Perder uma venda para o concorrente pode ser chato para o ego, ruim para o
bolso do vendedor, mas dificilmente o evento será encarado como questão de vida
ou morte. Pois, amanhã é outro dia, novas vendas, novos clientes, novas
oportunidades.
As competições esportivas ocorrem dentro de um calendário que define quem
joga com quem, quando, onde, e em que horário. Já as empresas jogam com centenas
ou milhares de concorrentes diretos e indiretos espalhados mundo afora.
Todas as modalidades de jogos têm regras claras, conhecidas e aceitas pelos
contendores e torcedores. No mundo dos negócios, não há um árbitro para apitar
as faltas em tempo real, nem as regras do jogo são claras.
Cada empresa cria suas normas e valores. Quem não está satisfeito que bata na
porta da justiça. E depois, na economia global, enfrentamos uma “Babel”
legislativa, diferenças demográficas, culturais, morais e religiosas que impõem
uma multiplicidade de critérios de qualidade, preço e padrões de consumo
suficientes para enlouquecer qualquer administrador.
Nos desportes joga-se para ganhar a partida, o campeonato ou a competição.
Nos negócios há vários parâmetros para se definir ganhos. A liderança nos
negócios não é unívoca. Ela contempla diferentes metrics: lucratividade;
market-share; qualidade; fidelidade; patrimônio tangível e intangível;
confiabilidade. Ou ainda, atributos específicos dos produtos e serviços que
permitem que sejamos líder em segurança, em qualidade, em pontualidade, em
preço, líder nisso e líder naquilo.
Nos desportes, o talento individual, o trabalho de equipe e a competência do
treinador são suficientes. Nas empresas, é preciso ir muito além e contar com
sistemas, tecnologias, processos e métodos de trabalho e gestão inteligentes,
além de produtos e serviços diferenciados para garantir os resultados. Por
sinal, não contamos com torcidas organizadas para incentivar o time nos bons e
maus momentos.
Os desportistas não fazem outra coisa na vida a não ser treinar e jogar. Numa
empresa, você exerce uma função nominal, mas participa de reuniões, equipes e
projetos multidisciplinares e recebe tarefas novas e complexas, via delegação. E
tudo isso numa única partida, digo, num único dia.
Com o advento do downsizing você deve saber correr, nadar, lutar
taikendo, futebol, tênis, esgrima etc. e tal. Pior. O treinamento é
esporádico e, não raramente, desconectado da realidade organizacional e do
dia-a-dia do participante.
A figura épica do coach do time de futebol americano, que faz o maior
sucesso de bilheteria nos cursos de treinamento gerencial quando transferida
para a empresa, permite algumas comparações, conselhos e material inspiracional.
Talvez a maior utilidade esteja na discussão sobre estilos de liderança e
disciplina tática da equipe. E só!
O coach desportivo tem cinco funções básicas: treinar, escalar,
orientar, motivar e disciplinar a equipe dentro e fora do campo. O nosso pobre
gerente coloca a “mão na massa”. Faz o trabalho operacional e estratégico: corre
atrás do chefe e dos clientes; briga com os pares; redefine prioridades a todo
instante; negocia com os fornecedores; preenche toneladas de formulários
enviados por RH; prepara relatórios diários, semanais, quinzenais, mensais,
anuais; esvazia a caixa de e-mails; aprende inglês, espanhol e, quando sobra
tempo, gerencia a equipe.
Não é à toa que muitos acendem uma vela para a Nossa Senhora dos Aflitos e
rezam para que os subordinados não aprontem poucas e, muito menos, boas. Então,
caros leitores, usem as metáforas com moderação, pois às vezes qualquer
semelhança com a realidade é mera coincidência.