Há muito tempo tenho pesquisado e desenvolvido trabalhos sobre liderança e
Gestão de Pessoas. Neste período presenciei muitas coisas intrigantes sobre o
tema. Uma delas é o fato de haver tanto investimento na formação e
desenvolvimento de lideranças, mas pouco resultado prático. Dave Ulrich afirma
em “Liderança Orientada para Resultados”: o trabalho do líder exige mais do
que caráter, conhecimento e ação; ele também demanda resultados.
Segundo minhas observações e experiência no assunto, um fator tem sido
primordial para a ineficácia dos programas de treinamento e desenvolvimento de
lideranças: a falta de coragem dos líderes em assumir seu papel. Um dos
pressupostos básicos da liderança é a capacidade de tomar a iniciativa e assumir
os riscos. Em outras palavras, o líder é aquele que diante do conflito, da
dificuldade ou dos problemas toma a frente e assume a responsabilidade,
promovendo as ações necessárias ou dirigindo os esforços dos subordinados para
tal feito.
Para Kouzes e Posner, “as oportunidades de liderança são na verdade aventuras
de uma existência e requerem espírito pioneiro. Começar uma nova empresa,
reverter uma operação perdida, melhorar intensamente a condição social, aumentar
a qualidade de vida – todos são nobres esforços humanos. Esperar uma permissão
para começá-los nãosim”.
O que vemos é um tanto de gente em papel de liderança sem coragem para tomar
as decisões necessárias para o bem das empresas, dos funcionários, da sociedade
e deles próprios. Efetivamente sem este senso de urgência, de realização.
Escondem-se atrás do manto sagrado do trabalho em equipe.
Nos estudos que tenho realizado junto a empresas de pequeno e médio portes,
em grande parte, o medo das pessoas em assumir o risco da liderança está
relacionada com a auto-estima, geralmente rebaixada por motivos individuais e
coletivos. Desde criança, em nossa cultura, os pais educam os filhos para não
correr riscos. Frases como: “não corra”, “vá devagar para não se machucar”, “não
faça isso”, “não faça aquilo” e assim por diante, são constantemente proferidas
pelos pais, educadores e outras pessoas próximas. Cria-se um verdadeiro time de
covardes.
As atividades coletivas são mais estimuladas que as individuais. As pessoas
são incentivadas a não se destacarem individualmente, mas coletivamente. Vemos
este tipo de representação nos esportes, nas empresas e em várias atividades
sociais. Os que se destacam por seus próprios méritos são rapidamente invejados
ou depreciados por não saberem atuar em grupo.
Durante o período escolar são impulsionadas a trabalhar coletivamente, mas
poucas vezes valorizadas por realizações individuais. Quando isso acontece há a
desconfiança de privilégios.
Obviamente que é cômodo colocar a culpa somente na família, na sociedade, na
escola e em tudo que é externo. Há a parte que cabe a cada um. O fato de ter
sido educado para preferir ficar na zona de conforto não significa que devemos
nos acomodar a isso. Romper esta barreira emocional criada na infância e na
adolescência é o grande desafio. Para isso é preciso conhecer as limitações e
qualidades que todos têm. Quem deseja ser um líder precisa ficar atento a isto e
sair do paradigma do “sempre foi assim”. Em resumo, ousar.
Assumir o risco significa, em parte, não ser aceito; não ser compreendido;
não agradar a todos; não abaixar a cabeça; não aceitar a mediocridade, o erro e
o despreparo. Tudo isso tem um custo. Para muitos o preço a ser pago é muito
alto. Pode custar o emprego, a aceitação do grupo, a imagem de boa pessoa e tudo
mais.
É bom lembrar que um dos valores arraigados em nossa sociedade é o de viver
bem na coletividade; ser um verdadeiro líder entra em conflito com este
estereótipo. Afinal, quem está preparado e predisposto para ir contra este
padrão de comportamento?
O verdadeiro líder sabe disso e ainda assim segue em frente. Ele tem a
certeza de que seu papel é exatamente o de conduzir aqueles, que por diversos
motivos, não tiveram coragem de estar à frente.
Portanto, para ser um líder, de fato, é necessário conhecer melhor a si
mesmo, suas qualidades e fraquezas; transpor as barreiras do medo e da
insegurança, trabalhando na sua auto-estima; ter propósitos firmes, porém, com
humildade para saber mudar e se adaptar sempre que necessário. Vai encarar?
Sucesso!