Em finanças pessoais, é sempre interessante que se busque tomar boas decisões
com base nas informações existentes. Mas a questão é: como sei se estou fazendo
a melhor escolha? De forma a nos ajudar a solucionar esse dilema, os estudiosos
no assunto possuem alguns conceitos que podem melhorar o processo de tomada de
decisão, seja em investimentos, futuro profissional, ou qualquer outra escolha
importante.
Nesse contexto, vou lhes apresentar uma definição simples e muito relevante,
mas pouco utilizada na hora de se decidir algo. Trata-se dos custos
irrecuperáveis, definidos como custos que ocorreram no passado e que não são
mais possíveis de serem recuperados.
Entendendo os custos irrecuperáveis
Quando tomamos uma decisão no presente, podemos usar experiências do passado
e/ou nossas perspectivas quanto ao que vai acontecer no futuro (filosófico,
não?). Mas a questão a ser abordada neste texto é que, muitas vezes, eventos
ocorridos no passado influenciam negativamente a tomada de decisão do presente,
prejudicando o processo de escolha e causando reflexos ruins no futuro. Os
custos irrecuperáveis se inserem nesse contexto, em que as pessoas deveriam
tomar suas decisões sem levar em consideração custos que não têm mais volta.
Um exemplo clássico é o do ingresso de cinema. Imagine que você está com o
ticket em mãos, comprado antecipadamente. Se, ao iniciar o filme, você notar que
vai ser um péssimo entretenimento, seria uma boa decisão levantar-se da poltrona
e procurar fazer algo mais interessante. Porém, muitas pessoas decidem assistir
ao filme até o final, levando em consideração o preço pago pelo ingresso, que é
um custo irrecuperável.
Perceba que, enquanto ir embora causa apenas o arrependimento de ter gasto o
valor do ingresso, ficar no cinema significa dois desprazeres: o dinheiro gasto
e aturar o filme ruim.
Exemplos dos custos irrecuperáveis nas finanças pessoais
1) Maria possui dívidas no cartão de crédito que não param de crescer. Também é
proprietária de uma motocicleta, adquirida por um financiamento que está na
metade das parcelas. Se vender o veículo hoje, ficará livre financiamento e o
dinheiro que era destinado à parcela será usado para quitar a dívida do cartão.
Porém, Maria pensa: “Já que comecei a pagar a moto, agora seria uma pena
vendê-la e perder o dinheiro investido”.
Conclusão: ao considerar o custo irrecuperável das parcelas já pagas, talvez
Maria perca a moto e também não consiga pagar a dívida do cartão.
2) O filho de João, que está no quinto semestre de uma faculdade de
engenharia civil, diz ao pai que já tem consciência de que esse não é o curso
adequado para seu perfil. Hoje, mais maduro, o filho argumenta que gostaria de
seguir outra carreira. Eis que João retruca: “Já paguei metade do curso, agora
terá que terminar. Depois você começa outro curso”. Veja que João tomou sua
decisão com base em um custo que não tem mais como recuperar.
Conclusão: ao invés de apenas perder os cinco semestres de mensalidades já
pagas, João também perderá as futuras mensalidades e o precioso tempo do filho,
que depois de dois anos e meio já poderia estar na metade de outra faculdade.
Avalie melhor suas decisões
Os exemplos relatados fazem parte de uma cultura arraigada em nossa população.
Tomar decisões com base em custos irrecuperáveis é extremamente comum, fazendo
com que muitas pessoas não consigam sair de uma situação financeira ruim. A
maioria das pessoas não aceita perdas, tomando decisões hoje que apenas
aumentarão o desconforto financeiro no futuro. Lembre-se: não tente concertar um
erro com outro.