Negócios / Empreendedorismo - Web: empresa deve ter regras claras
As empresas não querem que os funcionários percam valioso tempo de trabalho
para satisfazer curiosidades e resolver assuntos pessoais na internet. Os
profissionais se sentem tolhidos ou até invadidos quando há limites ou
monitoramento do uso da rede. Quem tem razão?
Não espere encontrar nesta reportagem uma resposta definitiva. No caso de uma
empresa, depende do tipo de atividade que exerce. E as necessidades de cada
cargo precisam ser levadas em consideração.
A questão central está em equilibrar vantagens e desvantagens. Afinal, a
internet pode agilizar a comunicação e ser uma fonte valiosa de informações. Mas
pode causar queda de produtividade e, com freqüência, envolve segurança.
A multinacional farmacêutica Merck Sharp & Dohme libera parcialmente sua rede
para os funcionários acessarem a internet. “Desde que haja bom senso e não
atrapalhe a produtividade”, ressalta Sandro Gonçalves Pinto, diretor de recursos
humanos. “O importante é que nossa política é bem conhecida de todos os
funcionários.”
Segundo William Bull, da Mercer, empresa de consultoria de RH, “muitas
companhias estão adicionando regras de uso da internet e e-mail aos contratos
para evitar argumentos de que o funcionário não foi avisado caso faça mau uso”.
No entanto, cada vez mais, a internet se transforma em uma importante (senão
essencial) ferramenta. E mesmo os segmentos mais fechados começam a perceber a
necessidade do profissional de se comunicar com rapidez e estar informado sobre
o que acontece no mundo.
É o que diz Abel Reis, vice-presidente de tecnologia e projetos da Agência Click,
especializada em marketing via web. Para ele, empresas e pessoas vivem em tempo
real e proibir totalmente o acesso à internet demonstra um grande atraso. “O
melhor é usar essas tecnologias a favor da empresa. O Messenger, por exemplo,
pode ser um acelerador de atividades”.
No Unibanco, o acesso à internet depende da função. “Orientamos os funcionários
com acesso à rede a não usá-la para fins particulares. Se não houver controle,
há perda de produtividade”, diz Cristóvão Martins, diretor-adjunto de
tecnologia.
Em empresas onde o trabalho é menos criativo e com horários mais rígidos, os
limites são maiores. Na empresa de telemarketing Atento, 80% dos funcionários
não têm acesso à internet. Quem tem é porque trabalha com produtos como chat.
Fora do horário de trabalho, os funcionários podem usar a internet por 15
minutos, em um espaço disponível para quem não tem computador em casa. “Queremos
que eles tenham acesso à informação”, diz Luiz Alcubierre, diretor de marketing
e comunicação.
No outro extremo estão empresas que lidam com informação e criatividade, como as
de comunicação e propaganda. Em geral, os funcionários têm ampla liberdade,
inclusive para misturar um pouco trabalho e vida pessoal, já que não têm
horários rígidos. Mas precisam apresentar resultado.
“Há funcionários que levam trabalho para casa e compromissos pessoais para o
trabalho. Contanto que respeitem os prazos, têm mais flexibilidade”, diz Willian
Bull, da Mercer RH.
“O coração do nosso negócio é comunicação. Seria um contra-senso restringir. As
pessoas se comportam melhor com liberdade”, diz Adriana Cury, presidente da
McCann.
Mesmo nessas empresas há limites. Na MTV, os funcionários se comprometem por
escrito a não acessar pornografia ou enviar correntes por e-mail. Na IBM,
empresa do setor de tecnologia, não é permitido usar o Skype e fazer downloads
de músicas e vídeos.
Um dos principais motivos de preocupação é a segurança. “Isso é muito sério,
pois trabalhamos com dados confidenciais”, diz Luiz Bertoni, supervisor de
planejamento de estratégia de recursos humanos do Itaú, onde internet e e-mail
externo são restritos a quem precisa. “O Itaú investe na conscientização do
funcionário por meio de palestras que alertam sobre os perigos. Mas já houve
casos de abuso punidos até com demissões”, diz.
Na corretora de ações Ágora, e-mail, mensageiro instantâneo e telefonemas são
monitorados. Sites acessados são gravados e as portas USB das máquinas,
desabilitadas. “Não podemos deixar vazar nada”, diz Guilherme Horn, diretor de
tecnologia e informação.
Para Anatália Saraiva Martins Ramos, pesquisadora de gestão da informação e
inovação na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, existe um certo
preconceito em relação a cargos menos elevados na hierarquia das empresas. “As
empresas ainda não estão maduras. Ao contrário, são medievais. Bloqueiam o
acesso à informação principalmente dos cargos mais baixos. Deveriam ser mais
flexíveis”, afirma.
Referência:
O Estado de S. Paulo
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