Carreira / Emprego - Se você só vive para o trabalho, está fazendo tudo errado
"Fui recentemente a um jantar em que brincamos de algum tipo de jogo de
salão", explica George Colony. "Todos os que estavam à mesa tiveram que escolher
uma palavra que definisse a si mesmo. Eu escolhi "prazer". Essa escolha pode
ofender alguém, mas eu penso que preciso ter prazer em qualquer coisa que
estiver fazendo, ou meu nível de eficácia cai. Adoro trabalhar, eu pagaria para
fazer o que faço - mas eu não quero passar a minha vida inteira trabalhando.
Também adoro as outras partes da minha vida. Costumo lembrar as pessoas que a
Declaração de Independência nos dá o direito à vida, à liberdade e à busca da
felicidade. Ouvi dizer que Thomas Jefferson originalmente queria que fosse
redigida com os termos vida, liberdade e a busca da prosperidade. Mas há coisas
muito melhores na vida do que dinheiro".
Você gostaria de trabalhar para um sujeito assim? Colony, de 47 anos, é o
chairman e o principal executivo da Forrester Research, uma das maiores empresas
de pesquisa de internet e talvez a mais respeitada. Fundada em 1983, a receita
da empresa tem aumentado a uma taxa de 52% desde que se tornou pública em 1996.
Em sua breve, mas feliz existência, a empresa desempenhou um papel relevante na
elaboração das estratégias de centenas de empreendimentos da nova economia, bem
como das empresas tradicionais que agora procuram competir na internet. Mas eu
fui visitar a Forrester, não para entender o seu negócio, mas porque eu estava
interessado em sua reputação, como um lugar em que as pessoas gostam de
trabalhar.
O que torna a Forrester diferente, conforme descobri, é a cultura que Colony e
sua equipe conseguiram criar. A empresa não tem programas progressivos
vitalícios e não paga os melhores salários ou oferece benefícios
consideravelmente maiores do que aqueles praticados por seus concorrentes. Mais
sutilmente, o que a Forrester faz é suprir as necessidades das pessoas em níveis
múltiplos, reconhecendo as suas complexidades.
Colony se recusou a escolher entre os estilos tradicionais de administração e,
em vez disso, optou por adotar o paradoxo abertamente. O resultado é uma empresa
que se sente ao mesmo tempo motivada e contida, informal, mas altamente
compenetrada, individualista e colaboradora. A sua filosofia pode ser chamada de
pós-convencional. Acima de tudo, a cultura da Forrester aparenta ser um
tranqüilo equilíbrio de opostos.
Ninguém tem um escritório separado na Forrester, incluindo Colony. No início dos
anos 90, todos tinham um escritório, embora houvesse uma sala central para
computadores. "Aquela sala era o lugar em que mais nos divertíamos", explica
Colony.
Quando Forrester lançou o seu primeiro empreendimento de pesquisa de internet em
1994, sugeriu formar um "núcleo" de 8 a 10 pessoas que trabalhariam juntas na
mesma sala espaçosa.
"Todos gritaram", relembra. "Eles só aceitariam a idéia se eu me juntasse a eles
e ninguém acreditava que eu abandonaria o meu escritório luxuoso. Um dia entrei,
coloquei todas as minhas coisas em caixas e me mudei para o núcleo. Foi assim
que começou. Aquela equipe nova incendiou a empresa. Compartilhamos nossas
lágrimas e nossos temores e, no fim do ano, dançamos sobre nossas mesas para
comemorar o nosso sucesso".
Hoje, todos na Forrester trabalham em núcleos, que são compostos em sua maioria
por equipes de pesquisas. Se quiser falar com Colony ou com qualquer outro alto
executivo, você simplesmente se dirige à sua mesa."Isso cria uma faixa de
comunicação muito mais ampla e ajuda as pessoas a criar relacionamentos mais
rápido", argumenta Colony. "Além disso, seu mentor está sentado bem ao seu lado.
O DNA da empresa é disseminado rapidamente através dos núcleos". Conforme Mary
Modahl, 38, vice-presidente de marketing: "geralmente o crédito é distribuído de
maneira injusta nas empresas. O pessoal dos gabinetes espaçosos é visto como o
único responsável pelos sucessos. Ao retirar as expressões físicas de
autoridade, as pessoas podem se manifestar igualmente".
Embora a cultura da Forrester encoraje as pessoas a expressar as suas opiniões,
as decisões não são tomadas por meio de consenso e as pessoas são claramente
recompensadas por suas realizações. "Realização pessoal é muito importante
aqui", enfatiza Modahl. "Bem como a prestação de contas pessoal". Cada
funcionário determina metas trimestralmente e recebe quatro avaliações de
desempenho a cada ano. A Forrester também distribui muitos prêmios. Por exemplo,
um prêmio vai para a pessoa demaior impacto sobre a empresa, pela votação dos
funcionários.
A autoconfiança é mais prestigiada do que a autopromoção. "Descobrimos também
que o processo criativo aqui é colaborativo". A avaliação pode ser muito
contundente e crítica. Abrace a mudança e preserve a essência do negócio. A
Forrester capta esse paradoxo em algo que chama de "destruição pró-ativa". A
idéia é que as empresas devem querer antecipar a demanda e mudar rapidamente,
sem sacrificar a missão essencial ou os valores. "Estamos destruindo e
construindo ao mesmo tempo", diz Colony. "Por um lado, queremos manter a nossa
cultura essencial sagrada e constante. Por outro lado, se você não for um
catalisador de mudança, provavelmente não durará muito tempo".
No ano passado, por exemplo, a Forrester transformou completamente o seu modelo
de negócios, alterando a maneira de entregar seu produto aos clientes - passando
em grande parte a um formato eletrônico. Apesar do tumulto, a empresa conseguiu
aumentar as receitas de US$ 61 milhões para US$ 87 milhões em comparação a 1998,
e o lucro líquido, de US$ 7,5 milhões para US$ 11 milhões.
Na corrida rumo ao futuro, a Forrester luta para equilibrar as visões de curto e
longo-prazo. "O que estamos tentando dizer é que quando você tem uma prioridade
alta, arranque o mais rápido que puder. Quando não é urgente ou crítico, faça
uma pausa". Colony é ainda mais direto: "Os clientes nos pagam por nossa
opinião. Quanto mais balanceada for sua vida e quanto mais diversificados os
seus interesses, melhor será a sua opinião. Se você trabalha 20 horas por dia,
seu resultado será um lixo".
Até recentemente Colony conhecia cada funcionário pelo nome. Este ano,
entretanto, a empresa contratará 300 novos funcionários e abrirá dois novos
escritórios. Ainda que Colony já não consiga manter o ritmo, ele considera sua
alta prioridade conhecer as pessoas uma por uma. Na primeira semana em que
Mariko Zapf, veio trabalhar em seu cargo de médio escalão, numa excursão da
empresa, se viu sentada ao lado de Colony. "Ele se apresentou como George",
lembra Zapf, "e, na meia hora seguinte, só me perguntou sobre minha família,
filmes e livros que gostei. Fiquei estupefata".
Ao mesmo tempo, Colony está firmemente comprometido em crescer - e não para
agradar primeiramente os acionistas. "Eu não estaria aqui caso continuássemos a
ter 100 pessoas", diz. "Conforme subimos, as coisas vão se tornando mais
interessantes". Para Colony, o desafio é manter o senso de benevolência e de
intimidade nesse tipo de empresa de porte em que ele sempre evitou entrar. "Os
núcleos são uma maneira de mitigarmos o tamanho", diz. "É como estar em um
pelotão de 8 a 10 pessoas nas forças armadas. Você fica tão envolvido que fica
disposto a morrer pelo cara ao seu lado".
A Forrester é conhecida como a terra dos inusitados. "Queremos pessoas que
pensem de maneira contra-intuitivas", diz Colony. "Há uma dupla de disléxicos
aqui que são ótimos analistas. Eles são o que chamo de saltadores, pois darão um
salto travesso para um lugar completamente diferente".
A Forrester é conhecida por desafiar a lógica convencional. "Quando vejo alguém
que fez algo incomum, isto sugere que não está seguindo um roteiro na vida e não
terá medo de ir contra o rebanho", diz Modahl. Se Colony é um visionário, ele
também é pragmático. Ele entende que as velhas regras não funcionam na nova
economia e que a retenção de funcionários de valor é a principal força motriz
para o crescimento. O giro da Forrester é de 20% - muito baixo no mundo
pontocom. "Se mantivermos as pessoas por pelo menos cinco ou seis anos, será uma
grande conquista", avalia Colony. "Porque as pessoas permanecem em um
determinado lugar? Isto depende do ambiente da empresa. É lá que centramos
nossas vistas".
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