Carreira / Emprego - Mudança de profissão exige cautela
Desde muito cedo, somos condicionados a escolher a profissão que queremos
seguir quando crescermos. E qual de nós, depois da escolha feita, não ficou com
vontade de chutar tudo para o alto? A maioria, provavelmente. Seja porque
descobrimos que aquilo que nossos pais projetaram em nós não era exatamente o
que queríamos ser pelo resto da vida, ou a profissão com a qual sonhávamos não
era tudo isso, ou não garantia o pão nosso de cada dia. Enfim, cada um tem seus
motivos para querer recomeçar do zero, o que não é fácil decidir.
O fator financeiro foi o motivo que levou o representante comercial Carlos
Alberto Grugnal do Prado, 43 anos, a abandonar 21 anos de carreira no setor
bancário. "Apesar de gostar muito de trabalhar em banco, no atendimento ao
público, já não sentia mais prazer. Considerava a remuneração inadequada",
explica. Por um tempo, ele tentou conciliar a atividade com um negócio próprio -
uma franquia dos Correios - ou dando aulas em uma faculdade de Administração de
Empresas, curso no qual é formado.
"Sempre trabalhei pensando em ter sustentabilidade financeira, vinculada a mais
de uma atividade."
Em maio de 2004, mudou de ramo: virou representante comercial de uma indústria
farmacêutica. Engrenou, pediu licença do banco e hoje se diz muito feliz com a
escolha.
Planejamento
Prado não agiu como um doidivanas na hora da mudança. Tudo foi muito bem
planejado, com muita antecedência "e sem abandonar o emprego", a principal
recomendação do consultor Fernando Possari, vice-presidente da Executive Prime.
"Quem quiser mudar de profissão deve estar preparado para os riscos. Deve fazer
isso quando estiver empregado, pois nem sempre é verdade que se ganhará mais em
outra profissão", alertou.
Uma forma segura de fazer a mudança é realizá-la, às vezes, dentro do próprio
local de trabalho. Foi o que fez o economista Maik Figueiredo Aires, 42 anos.
De office-boy ele se tornou químico em uma grande multinacional, após se formar
em um curso técnico. Mudou de empresa, chegou a iniciar a faculdade de Química,
mas viu na Economia sua chance de prosperar em um novo ramo dentro da companhia
– o de logística. "Não tenho arrependimento, pois na área de logística pude
obter uma visão do todo de uma organização. E por se tratar de uma função com
grande exposição ao risco de erro e acerto, é comum uma boa remuneração",
comentou.
Na contramão
Na vida, porém, nem sempre tudo acontece como o programado. A professora Simone
Kurscheidt Ribeiro Lanzoni, 42 anos, teve de escolher entre uma carreira
bem-sucedida como advogada em uma pequena cidade no interior do Paraná e o
casamento. Escolheu o segundo. No primeiro ano de casada, foi obrigada a ficar
no Paraná para continuar tocando alguns processos enquanto o marido foi para
Ribeirão Preto, onde trabalhava. A saudade pesou. Foi para Ribeirão, mas não se
adaptou ao mercado de trabalho local.
Sem saber o que fazer, quando sua primeira filha completou 1 ano, Simone decidiu
retomar a atividade que já tinha exercido quando tinha 18 anos: dar aulas. Foi
admitida em uma escola particular para lecionar redação para ensino médio e
pré-vestibular e hoje, além das aulas, administra com o marido uma empresa
prestadora de serviços na área de educação. "Hoje, posso dizer que sou muito
mais feliz e realizada do que quando advogava", garante.
Mas nem sempre voltar a fazer o que se fazia antes pode dar certo. O
vice-presidente da Executive-Prime, Fernando Possari, desaconselha a elaboração
do chamado plano B sem que o profissional conheça bem antes o ramo em que quer
atuar. Principalmente porque corre o risco de se dar mal e não conseguir se
recolocar novamente na atividade anterior. "O mercado busca profissionais
atualizados. Se ele passa muito tempo longe, a rede de relacionamentos se
dissolve."
Possari acredita ser totalmente inviável para uma pessoa com 20 a 25 anos de
estrada a mudança de ramo. "A não ser que tenha respaldo financeiro", ponderou.
Aquele velho sonho de montar a pousada? Só se conhecer o filão. Caso contrário,
nem pensar.
O jornalista Roberto Sampaio (nome fictício), 53 anos, sabe bem o que é isso.
Trabalhou alguns anos em um grande jornal em São Paulo. Foi demitido e, com o
dinheiro da remuneração, foi para o Sul do país "viver uma vida tranqüila".
Montou um bar em parceria com a namorada. Meses depois veio a crise argentina e
o negócio naufragou. Fez alguns free-lancers no jornalismo para se manter, mas
emprego fixo, até hoje, nada. "Os jornais preferem contratar gente nova a preço
de banana. Está difícil", lamenta.
Por isso, antes de decidir pela mudança, Fernando Possari indica o
auto-questionamento: a decepção é com a profissão mesmo ou com a empresa? Às
vezes, a simples alteração de ambiente evita grandes dores de cabeça pela
frente.
Referência:
Meusalario.org.br
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