Fusões e aquisições: essas duas palavras representam a maneira como as
empresas compram, vendem e recombinam negócios. Elas também são o motivo pelo
qual o cenário corporativo atual é um labirinto de conglomerados. Empresas de
seguro adquirem fabricantes de cereal para o café da manhã, shoppings centers
fazem parte de grupos fabricantes de artefatos militares, e estúdios de cinema
possuem linhas aéreas, tudo devido às fusões e aquisições.
Porém, nem todas as fusões e aquisições são pacíficas. Às vezes, uma empresa
pode assumir o controle de outra contra a sua vontade: uma aquisição hostil.
Como eles podem fazer isso? Neste artigo, descobriremos como as aquisições
hostis ocorrem, como evitá-las e por que uma aquisição hostil nem sempre é uma
coisa ruim.
Fusões e aquisições
Quando duas empresas se fundem, as diretorias (ou os proprietários, se for uma
empresa privada) chegam a um acordo. As empresas originais não existem mais, e
uma nova empresa se forma, unindo o pessoal e os ativos das empresas fundidas.
Como qualquer acordo comercial, isso pode ser simples ou incrivelmente complexo.
O ponto-chave é que ambas as empresas concordam com a fusão.
Em uma aquisição, uma empresa compra outra. A empresa comprada deixa de
existir, ou se torna parte da empresa compradora. O comprador detém todos os
ativos, incluindo o nome da empresa, seus equipamentos, seu pessoal e até mesmo
suas patentes e outras propriedades intelectuais. Porém, assim como ocorre em
uma fusão, as diretorias de ambas as empresas concordam com a transação.
Uma aquisição hostil é uma aquisição na qual a empresa que está sendo
comprada não deseja ser comprada, ou não deseja, em particular, ser comprada
pelo comprador que está fazendo a oferta. Como alguém pode comprar alguma coisa
que não está à venda? As aquisições hostis somente funcionam com empresas de
capital aberto. Isto é, elas emitiram ações que podem ser compradas e vendidas
nos mercados de ações públicos.
Uma ação consiste em uma participação de propriedade na empresa que a emitiu.
Se uma empresa emitiu mil ações, e você detém 100 delas, você possui 1/10 dessa
empresa. Se você detém mais de 500 ações, você possui uma maioria ou
participação controladora naquela empresa. Quando a empresa toma decisões
importantes, os acionistas devem votar nelas. Quanto mais ações você detém, mais
votos você tem. Se você detém mais da metade das ações, sempre tem a maioria dos
votos. Em muitos aspectos, você pode controlar a empresa.
Assim, uma aquisição hostil resume-se a isso: o comprador precisa obter o
controle da empresa-alvo e forçá-la a concordar com a venda. Explicaremos como
isso é feito na próxima seção.
Japão se torna hostil
Durante décadas, as corporações do Japão resistiram às aquisições
devido a um sistema de participações cruzadas. Todas as
empresas detinham ações em outras empresas, o que tornava praticamente
impossível alguém obter uma participação controladora. Isso também
promove um ambiente de negócios estável, já que uma economia forte
beneficia a todos. Porém, batalhas econômicas levaram muitas empresas a
vender suas ações de participações cruzadas para aumentar o capital ou
cobrir empréstimos impagáveis. Em 2000 e 2001, o sistema de
participações cruzadas começou a se desmantelar e, desde então, o Japão
assistiu a um aumento de aquisições. |
Tornando-se hostil
Existem muitas razões pelas quais uma empresa pode desejar ou precisar de uma
aquisição hostil. Elas podem achar que a empresa-alvo pode gerar mais lucro no
futuro do que o preço de venda. Se a empresa pode gerar US$ 100 milhões em
lucros anualmente, então comprar a empresa por US$ 200 milhões faz sentido. É
por isso que tantas corporações têm subsidiárias que não têm nada em comum: elas
foram compradas puramente por motivos financeiros. Atualmente, as fusões e
aquisições estratégicas são mais comuns. Em uma aquisição estratégica, o
comprador adquire a empresa-alvo porque deseja acessar seus canais de
distribuição, base de clientes, nome de marca ou tecnologia.
Esses fatores de compra são os mesmos tanto para as aquisições amigáveis
quanto para as hostis. Mas, às vezes, a empresa-alvo não deseja ser adquirida.
Talvez ela seja uma empresa que simplesmente deseja permanecer independente. Os
membros da gerência podem desejar evitar a aquisição porque geralmente eles são
substituídos imediatamente após uma compra. Eles simplesmente estão protegendo
seus empregos. A diretoria ou os acionistas podem sentir que o acordo reduziria
o valor da empresa, ou a colocaria em risco de sair do negócio. Nesse caso, uma
tomada de controle hostil é necessária para efetivar a aquisição. Em alguns
casos, os compradores usam a aquisição hostil porque ela pode ser feita
rapidamente, e eles podem realizar a aquisição com prazos melhores do que se
eles tivessem de negociar um acordo com os acionistas e a diretoria da
empresa-alvo. Os dois métodos primários de conduzir uma aquisição hostil são a
oferta de compra e a disputa por procurações de votos.
Uma oferta de compra é uma oferta pública feita por uma grande cota de ações
da empresa-alvo por um preço fixo, geralmente mais alto que o valor de mercado
atual da ação. O comprador usa um preço extra para encorajar os acionistas a
vender suas ações. A oferta tem um limite de tempo, e pode ter outras provisões
com as quais a empresa-alvo deve se conformar se os acionistas aceitarem a
oferta. Nos EUA, a empresa que faz a oferta deve divulgar seus planos para a
empresa-alvo e arquivar os documentos adequados com a Securities and
Exchange Commission, SEC (Comissão de Títulos e Câmbio
Norte-Americana). A Lei Williams, de 1966, impôs restrições e provisões sobre as
ofertas de compra.
Às vezes, um comprador ou um grupo de compradores gradualmente adquirem ações
suficientes para obter uma participação controladora (conhecida como uma ofertas
de compra furtiva), sem fazer uma oferta de compra pública. Isso contorna a Lei
Williams, mas é arriscado porque a empresa-alvo pode descobrir a aquisição e
tomar medidas para evitá-la.
Em uma disputa por procurações de votos, o comprador não tenta comprar ações.
Em vez disso, ele tenta convencer os acionistas a destituir, por meio de
votação, a gerência ou diretoria atual em favor de uma equipe que aprovará a
aquisição. O termo "procuração" refere-se à habilidade dos acionistas em fazer
outra pessoa votar com eles: o comprador vota pela nova diretoria por
procuração.
Geralmente, uma disputa por procurações de votos origina-se dentro da própria
empresa. Um grupo de acionistas ou mesmo gerentes descontentes podem desejar uma
mudança na propriedade da empresa, assim, eles convencem outros acionistas a se
juntar a eles. A disputa por procurações de votos é mais comum porque contorna
muitas das defesas que as empresas usam para evitar aquisições. A maioria dessas
defesas são desenvolvidas para impedir a aquisição por meio da compra de
participação controladora de ações, o que a disputa por procurações de votos
evita ao mudar as opiniões das pessoas que já detêm a empresa.
A disputa por procurações de votos recente mais famosa foi a da aquisição da
Compaq pela Hewlett-Packard. O acordo foi avaliado em US$ 25 bilhões, mas a
Hewlett-Packard aparentemente gastou imensas somas em publicidade para
influenciar os acionistas. A HP não estava disputando com a Compaq: ela estava
disputando com um grupo de investidores que incluía membros fundadores da
empresa contrários à fusão. Cerca de 51% dos acionistas votaram a favor da
fusão. Apesar das tentativas de impedimento do acordo no terreno legal, ela
prosseguiu como planejado.
A seguir, veremos como uma empresa pode ser defender de uma aquisição hostil.
LBOs e especulações corporativas
Aquisições alavancadas (LBOs, leveraged buyouts) e
especulações corporativas são variações de aquisições hostis. Em uma
LBO, o comprador toma muito dinheiro emprestado para pagar a aquisição,
tanto por meio de empréstimos bancários tradicionais, quanto por meio de
títulos emitidos por empresas de alto risco. Isso pode ser arriscado, já
que incorrer em tamanho débito pode prejudicar seriamente o valor da
empresa compradora. Se a empresa-alvo não gerar lucro suficiente para
equilibrar o débito, a aquisição pode ser desastrosa. Apesar dessa
prática ter sido popular no final das décadas de 1970 e 1980, o clima
econômico atual não é amigável à LBO.
Em uma especulação corporativa, uma empresa compra outra por meio de
uma aquisição hostil (geralmente com uma LBO) porque seus ativos valem
mais do que o valor da empresa. Assim que os novos donos concluem a
aquisição, eles fecham a empresa e vendem todos os ativos. Geralmente
essa prática atinge os funcionários de surpresa, já que isso pode
ocorrer em questão de horas. Como as LBOs, as especulações corporativas
estão em desuso, principalmente porque os preços das ações são tão altos
que é raro encontrar uma empresa que seja depreciada em relação a seus
ativos. |
Repelente de tubarãoExistem várias maneiras de se defender de uma aquisição
hostil. Os métodos mais eficazes são medidas defensivas internas que dificultam
a aquisição de uma empresa. Esses métodos são coletivamente chamados de
"repelente de tubarão". Veja alguns exemplos:
- Pára-quedas dourado é uma provisão no contrato de um
CEO (diretor). Ela declara que ele terá um grande bônus em dinheiro ou ações
se a empresa for adquirida. Isso torna a aquisição mais cara e menos
atrativa. Infelizmente, isso também significa que um CEO pode fazer um
péssimo trabalho na gestão de uma empresa, tornando-a muito atrativa para
alguém que deseja adquiri-la, e gerando ao CEO uma imensa recompensa
financeira.
- Super-maioria é uma defesa que requer que 70% ou 80%
dos acionistas aprovem qualquer aquisição. Isso pode dificultar bastante a
concretização de uma aquisição por meio da compra de ações suficientes para
uma participação controladora.
- Diretoria com mandatos não-coincidentes prolonga
demasiadamente o processo de aquisição evitando que a diretoria inteira seja
substituída ao mesmo tempo. As gestões são não-coincidentes, de forma que
alguns membros são eleitos a cada dois anos, enquanto outros são eleitos a
cada quatro anos. Muitas empresas que têm interesse em realizar uma
aquisição não querem esperar quatro anos pela troca da diretoria.
- Ações sem direito de voto permitem aos proprietários da
empresa reter as ações com poder de voto, enquanto a empresa emite ações com
pouco ou nenhum direito de voto ao público. Dessa forma, os investidores
podem comprar ações, mas não podem comprar o controle da empresa.
Além da prevenção contra as aquisições, existem medidas que as empresas podem
tomar para frustrar uma aquisição depois que ela é iniciada. Uma das defesas
mais comuns é a pílula de veneno (poison pill). Uma pílula de veneno pode
assumir muitas formas, mas basicamente ela se refere a qualquer coisa que a
empresa-alvo faça para torná-la menos valiosa ou menos desejável como uma
aquisição:
- Pílula de pessoal: gerentes do alto escalão e outros
funcionários (todos eles) ameaçam de sair da empresa caso ela seja
adquirida. Isso funciona somente se os funcionários são altamente valiosos e
vitais para o sucesso da empresa.
- Defesa das jóias da coroa: às vezes, um aspecto
específico de uma empresa é particularmente valioso. Por exemplo, uma
empresa de telecomunicações pode ter uma divisão de pesquisa e
desenvolvimento (P&D) altamente conceituada. Essa divisão representa as
"jóias da coroa" da empresa. Ela pode responder a uma oferta hostil vendendo
a divisão de P&D para outra empresa, ou transformando-a em uma corporação
separada.
- Flip-in: essa pílula de veneno comum é uma defesa que
permite aos acionistas atuais comprar mais ações com um grande desconto no
evento de uma tentativa de aquisição. A defesa geralmente é acionada sempre
que qualquer acionista atinge uma determinada porcentagem das ações totais
(geralmente 20% a 40%). O fluxo de ações baratas adicionais no pool total de
ações da empresa diminui o valor de todas as ações previamente existentes.
Os acionistas também têm menos poder em termos de voto, porque agora cada
ação representa uma porcentagem menor do total.
Alguns dos métodos de pílulas de veneno mais drásticos envolvem a tomada
deliberada de grandes quantidades de débito que a empresa adquirente teria de
pagar. Isso torna a empresa-alvo muito menos atraente como uma aquisição, ainda
que isso possa acarretar sérios problemas financeiros ou até mesmo levar à
falência e dissolução. Em casos raros, uma empresa decide que é melhor sair do
negócio do que ser adquirida, assim, a empresa intencionalmente se afunda em
dívidas suficientes para forçar uma falência. Isso é conhecido como
Defesa de Jonestown.
Na próxima seção, pesaremos os custos e benefícios das aquisições hostis.
Outras formas de prevenção
O greenmail ("chantagem verde") é similar ao
blackmail (chantagem), mas é "verde" porque representa o dinheiro que a
empresa-alvo deve gastar para evitar a aquisição. Se a empresa
adquirente está prestes a obter uma participação controladora, ela pode
oferecer à empresa-alvo a opção de comprar suas ações de volta por um
preço extra. Às vezes, a aquisição não é o objetivo: a empresa
adquirente está apenas comprando ações para que possa vendê-las de volta
e obter lucros com o pagamento do greenmail.
O cavaleiro branco é uma tática comum na qual a
empresa-alvo encontra outra empresa que se apresenta para comprá-la e
afastá-la da empresa hostil. Existem várias razões para a empresa-alvo
preferir uma empresa à outra: melhores condições de compra, melhor
relacionamento ou melhores prospectos para o sucesso no longo prazo.
Com a defesa pac-man, uma empresa-alvo frustra uma
aquisição comprando ações da empresa adquirente e controlando-a.
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Quem se beneficia?Enquanto as empresas lutam com unhas e dentes para evitar
as aquisições hostis, nem sempre o motivo de sua batalha fica claro. Porque a
empresa adquirente paga por ações um preço extra, os acionistas geralmente vêem
benefício quando sua empresa é o alvo de uma aquisição. Por outro lado, a
empresa adquirente geralmente contrai dívidas para fazer sua proposta ou paga
pelas ações da empresa-alvo um valor bem acima do mercado. Isso diminui o valor
do ofertante, geralmente resultando em valores de ações mais baixos para os
acionistas dessa empresa.
Alguns analistas consideram que as aquisições hostis têm um efeito
prejudicial genérico sobre a economia, em parte porque elas geralmente falham.
Quando uma empresa assume outra, a gerência pode não compreender a tecnologia e
o modelo de negócio do ambiente de trabalho da nova empresa. A dívida contraída
pelas empresas adquirentes pode aumenta lentamente e a consolidação geralmente
resulta em dispensa de funcionários.
Outro custo das aquisições hostis é o esforço e dinheiro que as empresas
investem em suas estratégias de defesa contra aquisições. O medo constante das
aquisições pode impedir o crescimento e sufocar a inovação, assim como gerar
temores entre os funcionários sobre a segurança do emprego.
Finalmente, devemos mensurar os custos das fusões e aquisições
considerando-se caso a caso. Algumas foram desastres financeiros, enquanto
outras resultaram em empresas bem sucedidas que se tornaram mais fortes do que
suas predecessoras.