"É uma grande balela o que se aprende nas escolas de administração, que o
indivíduo pode e deve separar o pessoal do profissional. Não dá para ter
problemas sérios no trabalho e chegar em casa sorrindo, como se nada tivesse
acontecido. Está tudo registrado no nosso inconsciente", garante o coach e autor
do livro "Executivo, o super-homem solitário", Emerson Ciociorowski.
"Quantas vezes não acontece de estarmos em uma importante reunião de negócios,
na qual se discute um tema complexo, e temos flashes de problemas que
vivenciamos na família?", indaga.
Assim, não existe um botão que apertamos ao chegar na empresa, que nos faz
esquecer de nossos problemas financeiros, de saúde, de relacionamento, entre
tantos outros. "As empresas não podem exigir isso do funcionário. Pelo
contrário, acho até que elas devem, com certo limite, ajudar. Se o funcionário
está com uma grande dívida, por exemplo, pode valer muito a pena contratar um
coach financeiro para ele", explica.
Armadilhas
O empresário, palestrante e consultor organizacional Milton Nonaka concorda. "O
ser humano é um só", diz ele. Por isso mesmo, caímos em armadilhas e causamos
situações difíceis de resolver, principalmente nas relações interpessoais. É
extremamente difícil, mas temos que tentar separar o pessoal do profissional no
trato com o próximo.
Na opinião de Nonaka, a melhor forma de fazer isso é observando o que é possível
aprender com aquela determinada situação, o que significa dizer que é necessário
ver seu lado positivo. "Mesmo que não goste de uma pessoa, você tem que
suportá-la, aprender a lidar com ela. Isso é ser profissional. Nada é por acaso.
Logo, se seu chefe ou seu colega te incomoda, é porque você tem o que aprender
com ele. É fácil nos relacionarmos com quem nos damos bem. É nas relações
difíceis, entretanto, que damos um grande salto no aprendizado, o que pode fazer
diferença lá na frente, quando chegar a hora de ocupar uma posição de
liderança".
Segundo ele, é essencial para a carreira adquirir tolerância para aceitar
diferentes opiniões, personalidades, estilos, religiões, culturas. "Somente com
essa tolerância conseguimos administrar centenas de pessoas, entre subordinados,
clientes, colegas, chefes, fornecedores, parceiros e acionistas. O profissional
com essa visão tende a crescer nas empresas, pois o mercado carece de pessoas
que sabem acolher as diferenças".
Nonaka enfatiza que é possível ter amigos verdadeiros no trabalho. Mesmo que
haja competitividade, o que é normal, o profissional com a meta da tolerância
não encara seus colegas como inimigos, mas como pessoas com as quais tem muito a
aprender. "Nesse caso, a competição pode ser positiva para todos, que podem
crescer profissionalmente".
Agora, se a relação é extremamente desgastante, estude outras possibilidades.
"Caso seu chefe ou colega não seja digno de sua confiança e não te respeite, vá
em busca de outros caminhos. Tente mudar de departamento ou de emprego. Neste
último caso, ao procurar por um novo posto de trabalho, dê preferência às
empresas cujos valores estão alinhados aos seus. Os valores norteiam os
procedimentos e a filosofia de trabalho da empresa. Se eles não tiverem a ver
com você, as chances de um novo conflito interno são grandes", explica
Ciociorowski.