Negócios / Empreendedorismo - Até pequenos negócios aderem à terceirização
Do lado de fora, o prédio cinza em estilo vitoriano, com janelas de vitrais,
parece a típica casa dos sonhos da classe média. Mas ele também é a sede do que
se pode chamar de uma micro multinacional. Randy e Nicola Wilburn administram
companhias imobiliárias, de consultoria, design e alimentos para bebês a partir
de sua casa, em uma quadra reurbanizada de Dorchester, Massachusetts. Eles fazem
isso levando a terceirização ao extremo.
Profissionais de todas as partes do mundo prestam serviços para a dupla. Por US$
300, um artista indiano desenhou a bela logomarca de um bebê olhando com
curiosidade para as palavras "Baby Fresh Organic Baby Foods" e o papel timbrado
da companhia. Um "freelancer" de Londres redigiu material promocional. Randy
contratou "assistentes virtuais" em Jerusalém para transcrever mensagens de voz,
atualizar seu site na internet e elaborar gráficos no PowerPoint. Corretores
aposentados de Virgínia e Michigan cuidam da papelada da unidade imobiliária.
A terceirização global deixou de ser uma coisa só para as grandes corporações.
Cada vez mais, empresas que incluem de revendedores de automóveis a agências de
propaganda acham mais fácil transferir o desenvolvimento de software, a
contabilidade, os serviços de apoio e os trabalhos de design para terras
distantes. A Elance - empresa de serviços on-line de Mountain View, na
Califórnia, e principal conexão dos Wilburn com a força de trabalho cibernética
-, tem 48,5 mil pequenas empresas como clientes, um número 70% superior ao do
ano passado. Por mês, a companhia registra 18 mil novos projetos. Sites como
Guru.com, Brickwork India, DoMyStuff.com e RentACoder também apresentam
crescimento acelerado.
Desde o início dos anos 90 ouvem-se previsões de que a internet revolucionaria o
trabalho ao criar um vasto mercado global para os profissionais. John Doerr, a
lenda do capital de risco, pensou tanto na idéia em 1999 que sua empresa, a
Kleiner Perkins Caufield & Byers, apostou quase tanto na Elance quanto no Google
e na Amazon. Raymond J. Lane, sócio-gerente da Kleiner, é o presidente do
conselho da companhia.
Mas, enquanto outras formas de comércio eletrônico pegaram rapidamente, apenas
recentemente os sites da internet para "freelancers" começaram a ganhar força. A
Evalueserve, uma empresa de pesquisa de mercado, estima que as receitas dos
mercados de serviços on-line vão crescer 20% em 2008, para US$ 190 milhões. Algo
distante do alarde inicial.
Por que levou mais tempo para os compradores e vendedores de serviços se
sentirem confortáveis negociando on-line do que as companhias que lidam com bens
físicos? Um eBay para serviços, diz Fabio Rosati, executivo-chefe da Elance "foi
uma idéia brilhante que começou cedo demais". Mas a melhoria dos programas de
computador, mecanismos de busca e novas ferramentas estão dando impulso ao
setor. Vários sites já permitem que os compradores vejam amostras de trabalho
detalhadas e que os clientes dêem notas para milhares de vendedores de serviços.
O Guru lançou um sistema de pagamentos para mediar disputas e permite aos
compradores fazer depósitos em garantia até que o trabalho seja recebido. A
Elance desenvolveu um software para monitorar o andamento dos trabalhos e
realizar cobranças, pagamentos e registrar impostos.
Essas melhorias começam a fazer a diferença. A Elance, que faz dinheiro cobrando
assinaturas e uma parcela de 4% a 6% de cada projeto, prevê um crescimento de
50% do faturamento total este ano, para US$ 60 milhões. O Guru prevê um
crescimento parecido, para US$ 26 milhões.
O vendedor de carros Ariel Tehrani, de Nova York, encomendou a brasileiros a
criação de seu site de vendas
Os pequenos empreendedores são a maior fonte do crescimento. Ariel Tehrani,
revendedor (das marcas de carros) Lincoln Mercury do Queens, em Nova York,
contratou brasileiros para desenvolver um site multimídia para a venda de
automóveis on-line. Jonathan Fleming, agente imobiliário de San Francisco, usa
designers gráficos de Portugal, gerenciadores de bancos de dados da Índia e
redatores da Hungria em seu blog.
Os Wilburn começaram comprando designs gráficos por meio da Elance em 2000. Eles
afirmam que mudaram para a terceirização radical depois de ler, em 2007, o
best-seller "Trabalhe 4 Horas por Semana", de Timothy Ferriss, que enaltece os
méritos de se conseguir mais tempo livre contratando "assistentes virtuais" em
países de mão-de-obra mais barata para a realização de tarefas de rotina.
A ajuda remota vem permitindo a Randy Wilburn, de 38 anos, lidar melhor com as
oscilações da economia. Seus negócios na área imobiliária esfriaram e agora ele
passa mais tempo mostrando a organizações sem fins lucrativos dos Estados Unidos
como elas podem ajudar proprietários de residências a evitar que suas hipotecas
sejam executadas. Assistentes virtuais cuidam da correspondência de rotina e
juntam material de negócio enquanto ele está viajando, tudo isso por menos de
US$ 10 mil por ano. Ele calcula que uma secretária trabalhando em período
integral lhe custaria US$ 45 mil por ano.
Nicola, uma designer de 35 anos, decidiu trabalhar em casa depois que teve seu
segundo filho. Agora, ela encomenda trabalhos de design para "freelancers" e
está começando a vender alimentos orgânicos para bebês que ela mesma prepara.
Para expandir o negócio, ela começou a montar um site na internet, oferecendo
US$ 500 pelo trabalho de design. Dos 20 interessados que responderam, via
Elance, 18 são de fora dos Estados Unidos.
O casal usa dois vendedores de serviços de terceirização. Um é a GlobeTask, uma
empresa de Jerusalém que emprega dezenas de artistas gráficos, designers da
internet, redatores e assistentes virtuais em Israel, na Índia e nos EUA.
Geralmente, cobra US$ 8 a hora. A outra é a Webgrity de Calcutá, que possui 45
funcionários e cobra de US$ 1 a US$ 1,20 a hora.
Cinco anos atrás, diz o fundador Amit Keshan, de 32 anos, a Webgrity criava
sites na internet para clientes indianos. Agora, ele faz todo esse negócio por
meio da Elance, lidando com até 300 trabalhos por mês para clientes americanos,
britânicos e australianos. Por US$ 125, a Webgrity criou uma logomarca para a
empresa imobiliária dos Wilburn. Segundo Randy Wilburn, a tarefa teria custado
até US$ 1 mil nos Estados Unidos.
Um mercado mundial em que a terceirização dos negócios das empresas familiares
tenha um apelo mais amplo ainda pode estar a anos de distância. Mas empresários
de micro multinacionais como os Wilburn poderão não ser raridades por muito mais
tempo. "As pessoas vão fazer as coisas à moda antiga enquanto não ficar óbvio
que é melhor fazer da maneira nova", prevê Rosati, da Elance.
Referência:
sebrae-sc.com
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