Quem nunca se deparou com as seguintes situações: um colega de trabalho chega
com o cabelo cortado e pegunta se está bom. Você, apesar de não ter gostado
muito, responde que sim. O chefe compra um relógio novo e, para agradá-lo, fala
que é bonito, apesar de achar um pouco exagerado.
Mentiras como essas sãos ditas a todo o momento, de acordo o médico psiquiatra
do Instituto de Psiquiatria da USP (Universidade de São Paulo), Hermano Tavares.
"Todos mentimos, para amenizar as situações, em um contexto social. A questão é
a extensão e a intenção da mentira", disse o médico, que também é responsável
pela área de transtornos de impulso do Instituto de Psiquiatria.
Quando começa o problema
Agora, como tudo tem um limite, é importante observar o grau de mentira no
ambiente de trabalho. O problema começa quando a pessoa começa a mentir para
causar intrigas, manipular situações e informações. "Aí, ela passa a ser
perigosa", afirmou o médico.
Um exemplo clássico: a pessoa erra em uma atividade e, para sair ilesa de uma
bronca, acaba por inventar uma história dramática, em que acaba por ser alvo,
vítima, em vez de culpado. E o pior é que a pessoa acredita na história
piamente. A atitude pode ser agravada em um ambiente de competição acirrada.
Mas, será que quem tem mais poder nas mãos acaba por se sentir mais à vontade
para mentir? Na opinião do médico psiquiatra, cargo hierárquico e tendência à
mentira não estão diretamente ligados. "Na verdade, quanto maior a ambição da
pessoa maior a tentação para a mentira", afirmou.
Comportamentos
Tavares explicou que há três comportamentos de pessoas que mentem. O primeiro
deles diz respeito a alguém que não é paciente psiquiátrico e mente por má-fé,
para ter vantagem em alguma situação. "Quando se fala em ambiente de trabalho,
penso mais neste perfil de pessoa mentirosa", explicou.
Existem, também, aqueles que criam histórias e as sustentam com unhas e dentes.
Eles criam como escritores e mantêm um personagem como um ator ou atriz. "Ele
acredita nessas histórias, o que é necessário para mantê-las. A prática é
chamada de pseudologia fantástica: o mentiroso se prejudica mais que outras
pessoas e acaba se tornando uma figura folclórica". Neste caso, o médico
explicou que as pessoas vivem em uma fantasia que inviabiliza o dia-a-dia no
mundo corporativo.
O terceiro, e último, perfil é o da pessoa descontrolada. Ela tem muita vergonha
da perda de controle e mente para cobrir as atitudes. É o que acontece com o
jogador compulsivo, o drogado e o comprados compulsivo, por exemplo. "Ele sente
muita culpa e vergonha e a mentira acaba sendo um sintoma da compulsão". Num
ambiente corporativo competitivo, o quadro se agrava, já que deixa a pessoa
ainda mais estressada e suscetível à fuga da realidade.