Carreira / Emprego - Foi demitido? Saiba por onde começar e como dar a volta por cima
"Um brilhante executivo da área comercial de uma corporação internacional dá
instruções a uma estagiária e, na execução destas, surge um erro que compromete
a imagem da empresa. Aos 32 anos, com a carreira em crescimento, salário
elevado, excelentes perspectivas, o jovem é demitido. Entra no programa de
outplacement da empresa e é encaminhado à Manager, que vai assessorá-lo na busca
de uma nova colocação no mercado.
Altamente empregável em decorrência de seu histórico, perfil e qualificação, o
profissional tem apenas um problema: as feridas deixadas pelo impacto da
demissão. De modo consciente ou não, sente muita culpa: Por que deixei isso
acontecer?
Tem a sua auto-estima em frangalhos: Como posso ter dado essa derrapada? Ele tem
medo do futuro: O que ocorrerá agora se os outros souberem? Como vou viver com
essa marca? Ele sente vergonha. Tudo isso afeta decisivamente sua capacidade de
reconduzir sua carreira para o rumo certo.
O problema tem um ângulo objetivo: um erro que causou a demissão, um ponto a
menos para o titular. Mas, este é muito pequeno em relação ao problema percebido
- a mente do jovem executivo dá a ele dimensões dramáticas. É fundamental então
lidar, primeiro, com o lado subjetivo da situação para, depois, dimensionar
corretamente o problema objetivo e tratá-lo do modo adequado".
O impacto para o demitido e sua família
O trecho acima foi extraído do livro "Empreendedorismo e experiência em RH",
escrito por Hélio Terra, presidente da Ricardo Xavier Recursos Humanos, e
publicado pela Editora Gente. Na obra, ele aborda os impactos da demissão, tanto
para o demitido quanto para sua família.
"Pesquisas já demonstraram que a carga estressante que advém da demissão é
significativa, superada apenas pelos eventos mais dramáticos da vida humana,
como morte de cônjuge ou familiares próximos, divórcio, prisão. Perfeitamente
explicável, pois o emprego tem posição central na vida das pessoas, associa-se
com sua identidade, ocupa maior parcela do seu tempo e organiza suas relações
com os outros", diz o livro.
Assim, no âmbito psicológico, a pessoa tem uma súbita redução em sua
auto-estima, sente culpa, mágoa e ansiedade. No campo social, os relacionamentos
com familiares próximos se tornam mais sensíveis e sujeitos a atritos e
mal-entendidos. A pessoa tende a se isolar. Muitas vezes, a demissão é seguida
de divórcio. No âmbito profissional, a carreira sofre um abalo e precisa ser
colocada no eixo.
Para a família do demitido, a situação é igualmente negativa. Além da queda na
receita da casa, fica uma sensação de perda e insegurança para todos.
Por onde começar
Segundo Terra, após um evento de demissão, o profissional precisa se localizar,
fazer uma avaliação do episódio e de si mesmo - levando em consideração as
competências técnicas e comportamentais a serem melhoradas -, para depois
definir uma estratégia para dar continuidade à carreira, sem necessariamente
conseguir um novo emprego.
"E a pessoa não pode apenas ter em mente outro emprego. Ela poderá atuar como
autônoma, prestadora de serviços, ou ainda pode abrir o próprio negócio. As
empresas estão cada vez mais enxutas, o que abre oportunidade para autônomos",
garante.
A situação é um pouco mais delicada para quem passou anos a fio na mesma
empresa, período no qual se acomodou e não se preocupou em se atualizar
profissionalmente, segundo o presidente da Ricardo Xavier Recursos Humanos. "O
profissional fica sem chão, mas não adianta se apressar", explica ele.
Mesmo que ele se matricule em um curso após a demissão, não irá fazer muita
diferença, a não ser que seja um curso rápido de atualização. Por exemplo,
geralmente aprender um idioma demora anos. A recomendação de Terra é, então,
aceitar um emprego com salário menor ou posição inferior, para depois pensar no
que fazer em prol das mudanças e galgar novos caminhos.
O melhor caminho
Segundo Terra, mais de 70% dos empregos obtidos têm como pano de fundo a rede de
relacionamentos do contratado, sendo este o melhor caminho. Por isso, não se
pode ter vergonha de pedir ajuda. "Quando a pessoa está desempregada, sente
vergonha de sua situação, o que é uma tremenda besteira. As pessoas ajudam e têm
prazer em ajudar".
Além disso, o desempregado deve procurar agências de emprego, inclusive as
virtuais e consultorias. "Mas nada supera a rede de relacionamentos", afirma.
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