Investimentos / Fundos - Calote: Como o aplicador pode se proteger de um calote?
A maioria dos investidores brasileiros possui títulos públicos federais. Não diretamente, mas por meio de fundos de investimento ou de previdência. Os fundos de investimento apresentaram resgates bem mais altos que o normal em agosto. Todos sabem que os títulos do governo remuneram a taxas altíssimas. Taxas elevadas de retorno em geral estão associadas a risco elevado.
Em finanças há um conceito chamado Valor em Risco (VaR) que estima a perda monetária em certos cenários, particularmente os mais adversos. Para a maioria dos investidores brasileiros, o cenário realmente devastador seria um calote do Tesouro. Por mais improvável e até ridículo que isto possa parecer no momento, não se deve esquecer que um governo que não oferece riscos significativos a seus credores não precisa pagar juros muito altos. Não sou daqueles que acreditam neste calote, pelo menos no horizonte mais próximo. Entretanto, a experiência dos poupadores argentinos que perderam grande parte de suas economias investidas em títulos públicos não deve ser ignorada. Qual é, então, o seu VaR?
Na defensiva
O investidor alarmado deve se perguntar o que poderia compor uma carteira de investimentos defensiva contra este evento extremo? Em primeiro lugar, deve-se admitir que, se o cenário catastrófico do calote do investidor pessimista viesse a ocorrer, não haveria onde se esconder no mercado nacional. Os efeitos colaterais no curto prazo seriam devastadores. O mercado acionário despencaria, os imóveis ficariam sem liquidez e teriam seus preços muito diminuídos e os preços dos títulos de dívida privada também cairiam porque os juros subiriam muito. Seria difícil não sofrer qualquer perda nos primeiros meses após o evento devastador. Ainda assim, vamos assumir, também, que o investidor quisesse ter alguma liquidez, isto é, ativos que possam ser facilmente transformados em dinheiro.
Ouro
Diante destas premissas, eu penso que o investidor temeroso em relação aos títulos do governo deve, naturalmente, reduzir sua exposição a estes títulos
pouco a pouco, na medida do aumento do seu temor. Entre as possíveis alternativas líquidas há o ouro, que pode ser adquirido na forma de certificados
e que tradicionalmente serve de reserva de valor. O valor do ouro também depende do valor do dólar. Eu suponho que este ativo continuará líquido. Para que se tenha algum dinheiro na mão, o investidor poderia ter alguma coisa em cadernetas de poupança, mas não muito, pois não se sabe o que aconteceria aos bancos no cenário extremo de que estamos falando.
Ações de companhias grandes, não financeiras, tradicionais pagadoras de dividendos e que sejam exportadoras poderiam oferecer alguma proteção no médio prazo após o temido desastre. Logo depois desse evento, é provável que estas ações viessem a se desvalorizar muito, podendo se recuperar e preservar as economias do investidor depois de algum tempo.
O PIBB ou fundos de ações também podem ser alternativas razoáveis. Ainda no mercado financeiro, há os fundos de renda fixa com títulos de empresas e
direitos creditícios e os fundos que misturam todos os tipos de títulos. Migrar para estes fundos com menor participação de títulos públicos também pode ser interessante para o nosso investidor pessimista.
Imóveis
Finalmente, há os imóveis. Evidentemente, após nosso suposto evento crítico, seria difícil vender imóveis por preços atraentes, mas eles poderiam funcionar como reserva, recuperando seu valor de mercado pré-crise depois de algum tempo. Naturalmente, os imóveis podem oferecer alguma renda que mantenha o padrão de vida do investidor. Porém, os imóveis também têm seus riscos, entre eles a falta de liquidez, que se tornaria crítica num cenário deste tipo. Portanto, acima de tudo, o investidor deve se preparar para não ter que vender ativos durante algum tempo, pelo menos até que o pior tenha passado. Difícil não?
O investidor, particularmente aqueles que são beneficiários de planos de previdência, pode até decidir deixar uma parte de seus investimentos em títulos
federais, uma vez que a remuneração é tão tentadora. A remuneração corrente, de fato, estimula tanto o investidor que muita gente prefere não pensar que deve haver uma razão para ela ser tão alta.
O melhor é que nada ocorra. Mas os fatos recentes no nosso país certamente estimularam alguns investidores a dar gradualmente uma forma mais defensiva a seus investimentos.
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