Acordar cedo e enfrentar, muitas vezes, congestionamentos quilométricos que
consomem parte de um dia de trabalho. Quem não gostaria de ser ver livre de
situações similares, principalmente quando se vive numa movimentada região
metropolitana? Hoje, por exemplo, já existem trabalhadores que são privilegiados
e podem realizar esse sonho através do teletrabalho - a maior mudança nas
relações entre pessoas e empresas desde a revolução industrial - que permite ao
funcionário exercer suas atividades na própria residência.
E quem imagina que essa é apenas uma tendência das empresas privadas,
engana-se. Desde dezembro de 2005, por exemplo, o Serviço Federal de
Processamento de Dados (Serpro) implantou o projeto piloto "Teletrabalho
Serpro". A previsão é que o projeto tenha seu término em julho de 2006. Essa
iniciativa foi criada graças à apresentação de uma proposta da analista de
sistemas da organização e coordenadora da iniciativa, Joselma Oliveira Pinto.
"Por meio de uma dissertação de mestrado de minha autoria, a empresa avaliou a
viabilidade de se implantar essa modalidade de trabalho e fui convidada a criar
um programa específico para uma organização pública", explica Joselma. O "Teletrabalho
Serpro" é um projeto corporativo, onde todas as áreas da empresa estão
envolvidas e o mesmo tem à frente a diretoria de Recursos Humanos, a unidade de
alinhamento estratégico pessoas e a superintendência de pessoas.
O Serpro é a maior empresa pública de prestação de serviços em tecnologia da
informação do Brasil. Foi criado pela Lei nº 4.516, de 1º de dezembro de 1964,
para modernizar e dar agilidade aos setores estratégicos da administração
pública. É uma empresa vinculada ao Ministério da Fazenda. Situa-se,
fisicamente, em uma sede central (localizada em Brasília) e em dez regionais
distribuídas pelo território nacional. Conta com 8.976 funcionários alocados em
mais de 330 municípios brasileiros. Seu mercado de atuação está no segmento das
finanças públicas, constituído pelo Ministério da Fazenda com suas secretarias e
demais órgãos, correspondendo a 85,2% do volume de negócios da empresa. Atua,
também, no segmento das ações estruturadas e integradoras da Administração
Pública Federal, que é constituído pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e
Gestão e se estende a outros órgãos governamentais que venham a constituir ações
nesse segmento e que demandem serviços característicos da empresa.
Segundo Joselma Pinto, o projeto piloto tem como objetivos alcançar uma maior
produtividade para o cliente e possibilitar uma melhor qualidade de vida para os
colaboradores. Atualmente, 23 profissionais estão participando da iniciativa e
atuam nas cidades do Rio de Janeiro/RJ, Brasília/DF, São Paulo/SP e Campinas/SP.
Vale ressaltar que esse tipo de modalidade não é para qualquer profissional,
pois é preciso que o mesmo tenha algumas competências como, por exemplo, não ser
uma pessoa com tendência ao isolamento, ter disciplina (mesmo sem a presença do
superior ao lado), produzir dentro do esperado, não perder metas e prazos.
Para preparar os teletrabalhadores, a organização realizou uma capacitação
com vários cursos específicos para que eles pudessem resolver problemas sem o
auxílio da empresa. Na prática, cada participante do projeto piloto tem um
acordo detalhado com sua chefia imediata, onde estão registradas as datas em que
o teletrabalhador precisará estar na empresa e os dias em ele realizará suas
atividades fora da organização. Ou seja, não existe um afastamento definitivo do
funcionário, pois a iniciativa prevê que o colaborador compareça, no mínimo, uma
vez por semana ao Serpro. "O que avaliamos são as atividades passíveis de serem
teletrabalhadas e sabemos ser pouco provável que existam pessoas com 100% das
atividades passíveis de serem teletrabalhadas. Caso isso ocorra, mesmo assim o
funcionário terá que vir uma vez por semana à empresa", explica a coordenadora
do projeto piloto.
Mas, nem só a dedicação dos funcionários foi necessária para o sucesso do "Teletrabalho
Serpro". A empresa também precisou fazer investimentos e ofereceu aos
funcionários virtuais equipamentos como: notebook, celular, acesso à banda larga
e até mesmo mesa de trabalho. Os colaboradores também receberam treinamento de
informática e de segurança da informação com o objetivo de preservar os
equipamentos.
Para acompanhar o desempenho dos teletrabalhadores, a área de Recursos
Humanos realiza uma avaliação bimensal. E o que mais anima a empresa é o fato de
ter sido registrado um aumento de 1/3 da meta pretendida na primeira avaliação,
realizada após dois meses do início do projeto.
Sobre a receptividade dos funcionários do Serpro em relação ao projeto
piloto, Joselma Pinto comenta que os teletrabalhadores estão satisfeitos com a
qualidade de vida que eles conseguiram e a empresa está lucrando com o espaço
físico desses profissionais e com os resultados das atividades desempenhadas por
eles. "Fizemos uma seleção de quem deveria participar do projeto, mas o
fundamental é que a participação dos profissionais foi voluntária", ressalta, ao
acrescentar que o Serpro tem sido procurado por outros profissionais que acharam
pouca a quantidade de vagas e que eles estão ansiosos para a realização de um
novo processo de seleção.
Joselma Pinto também destaca que, no início do projeto piloto, alguns
gerentes apresentaram um pouco de resistência à proposta. No entanto, eles
entenderam que se o funcionário está satisfeito, ele irá produzir melhor.
"Pretendemos instituir essa modalidade no Serpro e poderemos abrir oportunidades
para mais funcionários serem teletrabalhadores na empresa", conclui a
coordenadora do projeto.