Na promoção e na tristeza, na transferência e na doença. O padre bem que
poderia incluir mais alguns itens no sermão de casamento, só para questões
profissionais. Afinal, o cônjuge e a família vêm tendo cada vez mais influência
nos rumos da carreira.
A crença de que problemas em casa e os do trabalho não se misturam tem sido
desmitificada por especialistas. "As pessoas são globais", explica Fernanda
Ramos, 28, pesquisadora do Laboratório de Psicologia do Trabalho da UnB
(Universidade de Brasília).
Para entender o grau de influência da família na vida profissional, deve-se
analisar a centralidade do trabalho na percepção do indivíduo. "Trata-se do que
pesa mais para ele em um certo momento", define Ione Vasques-Menezes, 47, também
da UnB. "A tendência é priorizar a carreira se ela está em seu início. Quando
nasce um filho, o foco muda para o lar", pondera.
Segundo estudo do Grupo Catho em 2001, entre as principais razões dos
profissionais para aceitar um emprego, estavam a melhor qualidade de vida, a
maior proximidade de casa e a intenção de ter mais tempo para a família.
Nem sempre, contudo, é possível conciliar plenamente os interesses. "Os
conflitos acontecem principalmente quando está em jogo uma mudança de cidade",
avalia Renata Filippi, 34, consultora da Mariaca & Associates.
Em tempo de crise, "o peso do trabalho acaba sendo mais poderoso, já que é daí
que vem o sustento da família", conta Fernanda Ramos. "Cônjuges e filhos acabam
tendo de se adaptar."
"Para mudar de emprego, atualmente, é preciso haver uma proposta muito boa. A
instabilidade no mercado de trabalho dificulta a mobilidade", argumenta Edison
Ianovale Gianetti, 52, sócio da consultoria Dobroy & Partners.
Os valores também exercem influência. "Uma família mais tradicional centra as
decisões no homem. Uma mudança originada pelo trabalho da mulher é mais
questionada", afirma Menezes.
Mas hoje a perspectiva de carreira da mulher é igualmente importante para o
projeto familiar. E isso pode dificultar as coisas. Foi o que aconteceu com o
administrador Roberto Constantino Miguel, 33. Em 1999, ele recebeu proposta para
atuar em Ribeirão Preto (SP). Só que os planos não deram tão certo. Sua mulher,
arquiteta, não conseguiu muitos clientes. Após três meses, ela voltou para a
capital.
Miguel ainda ficou em Ribeirão por mais de um ano, dividido entre o trabalho e
viagens para ver a família. De volta, há pouco mais de um ano, montou uma
consultoria e estruturou seu escritório ao lado do da mulher. "Almoçamos juntos.
Eu já vivenciara um casamento frustrado e não queria arruinar mais um", conclui.