Introdução
Vigaristas ganham dinheiro enganando as pessoas. As mentiras que eles contam
e as encenações que criam podem levar as pessoas - especialmente as mais
ingênuas e gananciosas - a pensar que estão fazendo um negócio da China, quando
na verdade estão é sendo passadas para trás. No Brasil, um dos apelidos do
vigarista é 171, referência ao artigo do Código Penal para o crime de
estelionato.
Mas qual é a aparência geral dos vigaristas? Ao contrário do que mostram
os desenhos animados, ele nem sempre é um personagem sombrio. Pelo contrário, é
esperto em assumir a aparência que a situação exige. Se a trapaça envolve bancos
ou investimentos, ele vestirá um belo terno. Se envolve enganações sobre
reformas na sua casa, ele se vestirá a caráter. Até a concepção básica de que o
vigarista é um homem é incorreta: há muitas vigaristas mulheres também.
Você pode achar que consegue identificar um vigarista, pois instintivamente
não confiará nessa pessoa. Mas isso contraria as próprias origens da palavra
vigarista, que em inglês, "con-artist" não é nada mais que a abreviação da
expressão artista da confiança: o que eles fazem de melhor é
conquistar a sua confiança, o suficiente para colocarem as mãos no seu dinheiro
- e para isso eles podem ser bastante charmosos e persuasivos. Em português,
"vigarista" vem de "conto do vigário", termo que descreve genericamente qualquer
golpe que consista em contar uma história que pareça verdadeira para arrancar
dinheiro de quem a ouve. Um bom vigarista pode até fazer você pensar que ele é
um antigo amigo que você não vê há anos.
Entretanto, os vigaristas têm algumas coisas em comum. Mesmo os melhores só
podem continuar até o momento em que as pessoas começarem a suspeitar. Por esse
motivo, os vigaristas tendem a se mudar com freqüência. Eles podem ter um
emprego que os permita fazer isso ou podem alegar ter tal emprego.
Trabalhador em ferrovias ou parques de diversões e vendedor ambulante são alguns
dos empregos que os vigaristas inventam para justificar suas constantes
mudanças. Vem do conto do vigário, um vigarista típico de antigamente se fazia
passar por padre.
A trapaça de um vigarista
Termos diferentes para vigaristas incluem:
embusteiro, trapaceiro, velhaco, charlatão, enganador, 171,
fraudador, trapaceiro, estelionatário e golpista.
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Seria impossível catalogar todos os vigaristas, pois eles são criativos.
Enquanto muitos fazem simples variações de truques centenários, as novas
tecnologias e leis dão aos vigaristas a oportunidade de criar golpes originais.
Muitos deles têm a tendência de cair em algumas categorias gerais, como
vigaristas de rua, de negócios, da Internet, de empréstimos e de reformas da
casa.
Vigaristas de rua
Essas trapaças acontecem rapidamente e em um local público. Em geral, elas
envolvem a perda de pequenas quantias de dinheiro, no máximo algumas centenas de
reais. Em geral, a vítima é abordada por um estranho que faz uma oferta, uma
aposta ou está reagindo a alguma coisa aparentemente ocasional e não
relacionada, que aconteceu próximo dali. É claro que esse acontecimento
"ocasional" é algo que o vigarista planejou pensando com bastante
antecedência.
- Cachorro de raça - um estranho entra em um bar com um
cachorro na coleira. Ele pergunta se o dono pode tomar conta do cachorro
enquanto faz uma aposta ou participa de uma negociação. Enquanto o estranho
não está, um segundo vigarista chega e observa o cachorro. Ele diz ser
especialista em criação de cachorros e que aquele cachorro vale muito
dinheiro. Pergunta ao dono se o cachorro está a venda, porque ele pagaria
muito dinheiro. A trapaça toda depende da ambição do dono do bar. Supõe-se
que ele verá a oportunidade de comprar o cachorro do dono inocente por um
preço baixo e depois revendê-lo para esse "conhecedor especializado". Ele
pede que o especialista volte mais tarde e tenta comprar o cachorro quando
seu dono volta. Ele compra o cachorro, mas o "especialista" nunca mais volta
para comprá-lo. Os dois vigaristas vão embora com uma boa quantia de
dinheiro e o dono do bar fica com um vira-lata. No romance de Neil Gaiman, "American
Gods", dois personagens dão esse golpe usando um violino em vez de um
cachorro.
- A queda do pombo - há muitas variações desta trapaça,
mas todas elas começam com a vítima e o vigarista localizando alguma coisa
valiosa nas redondezas. Normalmente é um envelope ou uma mala cheia de
dinheiro, mas também poderia ser um anel de diamantes. O vigarista tenta
fazer a vítima ver o envelope primeiro, fazendo-a não desconfiar de que
planejou isso. Um segundo vigarista pode se envolver quando a vítima e o
primeiro vigarista resolvem dividir o dinheiro encontrado, exigindo uma
divisão justa, uma vez que ele também viu o envelope.
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Nesse momento, os vigaristas vão sugerir que todos coloquem um pouco do
seu dinheiro dentro do envelope como um "dinheiro de boa fé", para mostrar
que eles são pessoas financeiramente responsáveis. Uma vez que o dinheiro
está todo no envelope, ele é dividido em três e devolvido à vítima e aos
dois vigaristas, porém através de um truque com as mãos e de uma distração,
a vítima pega um envelope cheio de recortes de papel.
No golpe do anel, o vigarista diz ser especialista em avaliação de jóias
e diz que o anel vale muito dinheiro, mas, não tendo tempo para vendê-lo ou
penhorá-lo, o vigarista sugere que a vítima o compre pela metade do preço.
Ela paga, então, o que pode para o vigarista e fica com o "valioso" anel,
que na verdade é uma imitação barata. A vítima dessa trapaça é geralmente
chamada de "pombo".
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- Monte de três cartas - nesta famosa trapaça de rua, o
vigarista tem uma mesa com três cartas na sua frente. Uma carta está virada
para cima para mostrar que é o ás de espadas (ou qualquer outra carta). A
vítima aposta que consegue prestar atenção nessa carta enquanto o vigarista
reorganiza-as rapidamente na mesa. Caso a carta certa seja escolhida, a
vítima ganha. Amigos do vigarista participam do jogo, ganhando e perdendo,
para dar à vítima a impressão de que se trata de um jogo leal e que ela
poderá vencer se tiver o olhar atento. Na verdade, o vigarista é um mestre
no truque com as mãos, capaz de trocar cartas sem que a vítima perceba. Não
importa quanta atenção ela preste, ela nunca vai escolher a carta certa ao
menos que o vigarista permita. Variações incluem o uso de conchas (um "jogo
de conchas" às vezes é usado em golpes ilusionistas) ou copos, com a vítima
tentando localizar uma moeda de 25 centavos ou uma bola.
Finanças e Internet
Golpes na bolsa de valores e esquemas de marketing são as principais trapaças no
mundo dos negócios. Elas normalmente tiram vantagem das misteriosas regras da
contabilidade de negócios e da comercialização de ações, além da ignorância das
pessoas quanto a essas regras. Outros golpes tiram vantagem da ambição e da
pouca habilidade matemática.
Golpes na bolsa de valores
Na trapaça "pump e dump" (algo como "inflar e descartar"), os vigaristas
fazem ofertas exageradas de ações. Eles usam duras táticas de vendas e dizem ter
informações de que as ações serão muito bem-sucedidas (o "inflar"). Os
vigaristas são proprietários de muitas dessas ações, mas elas não têm valor e
representam investimento em empresas-fantasma. Uma vez que um bom número de
investidores compre as ações, seu valor começa a aumentar. Quando o valor fica
alto o bastante, os vigaristas vendem todas as suas ações (o "descartar") e
desaparecem com os rendimentos, bem como com o dinheiro que os compradores
haviam investido.
Esquema de pirâmide
Essa trapaça continua a enganar pessoas ano após ano, mesmo sendo ilegais e
não funcionando. Embora o esquema de pirâmide anteceda os anos 20, quando foi
inventado por Charles Ponzi, ele ludibriou tanta gente, arrecadando tanto
dinheiro, que o seu nome se tornou sinônimo desse tipo de golpe.
Em todo esquema de pirâmide, os investidores são convocados a pagar ao dono
da empresa, que é o vigarista, no topo da pirâmide. Pode até haver um negócio
real - como a compra e revenda de cupons para tirar vantagem das taxas de câmbio
ou vender um determinado produto -, mas em geral é apenas uma simples pirâmide.
As pessoas passam o dinheiro para quem está acima delas e esperam para receber
dinheiro de qualquer pessoa que esteja abaixo. Mesmo que seja um negócio real,
ele nunca renderá o bastante para pagar de volta todos os investidores.
Cartas-correntes instruindo pessoas a enviar de R$ 5,00 a R$ 10,00 para outras
pessoas em uma lista também são esquemas de pirâmide.
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Cada pessoa que entra na pirâmide envia dinheiro para alguém que está acima
dela e tem de convocar pessoas para ficar abaixo. Os novos convocados enviam seu
dinheiro para seus superiores na pirâmide. Como o número de pessoas convocadas
aumenta em cada nível, as pessoas que estão nos níveis mais altos irão ganhar
mais dinheiro. Uma simples pergunta de bom senso impediria qualquer pessoa de
entrar nesse esquema: se vamos ganhar tudo isso sem vender nada, de onde virá
esse dinheiro? A resposta: a maioria das pessoas na pirâmide vai perder seu
dinheiro. Só os dois ou três primeiros níveis ganharão alguma coisa (e a pessoa
que convocá-lo vai dizer que você está no topo, mesmo que esteja longe disso).
No final das contas, torna-se impossível convocar pessoas o bastante para
sustentar a pirâmide: se cada membro tiver de convocar cinco novas vítimas para
o nível abaixo, a pirâmide excederá e ultrapassará toda a população da Terra.
Empresas que hoje se intitulam firmas de "marketing de vários níveis" são
basicamente esquemas de pirâmide com um nome bonito. Existem empresas
legítimas de marketing de vários níveis. Elas normalmente
envolvem pessoas que vendem produtos como cosméticos, produtos para emagrecer ou
utensílios de cozinha. De qualquer forma, se uma empresa faz propaganda como
sendo uma oportunidade de franquia ou mercado de vários níveis e é vaga sobre o
produto que vende e/ou sobre sua margem de lucro, ou se ela dá muito enfoque à
cobrança de taxas de franquia em vez de realmente vender algo, trata-se de um
esquema de pirâmide.
A transferência de dinheiro para a Nigéria
A ampla utilização da Internet tem dado aos vigaristas novas possibilidades de
enganar as pessoas. Trapaças como a fraude de leilões pela Internet ou sites de
phishing, que tentam roubar números de cartões de crédito e de contas bancárias
são comuns, mas existem outras trapaças on-line.
Talvez o mais infame golpe na Internet seja a transferência de dinheiro para
a Nigéria ou fraude da taxa de adiantamento. Vários cidadãos
norte-americanos com um endereço de e-mail já receberam um convite para cair
nesse golpe alguma vez. Alguém da Nigéria (ou outro país africano), que se diz
parente de um governante recentemente destituído, informa que precisa da sua
ajuda com relação a algo muito sério. Parece que esse governante destituído tem
milhões guardados numa conta bancária segura, mas só pode ter acesso a esse
dinheiro se pagar certas taxas, subornos e multas para as autoridades
nigerianas. É aí que entra a vítima: ela fornecer o dinheiro para cobrir esses
custos, recebendo a "garantia" de que vai receber um retorno enorme pelo seu
investimento quando o governo liberar o dinheiro. Normalmente, o e-mail promete
uma grande porcentagem da soma total.
Não foi desta vez...
O autor desse artigo recebeu um e-mail sobre
"Transferência de dinheiro para a Nigéria" enquanto escrevia esse
artigo. Eis um fragmento:
"O VALOR ALEGADO FOI DE US$ 7,2 milhões (SETE MILHÕES E
DUZENTOS MIL DÓLARES AMERICANOS). COMO PODE SER DE SEU
INTERESSE, CONSEGUI INFORMAÇÕES IMPRESSIONANTES SOBRE VOCÊ NA
CÂMARA DE COMÉRCIO BUKINAB, NO SETOR DE RELAÇÕES COMERCIAIS
EXTERIORES, AQUI EM OUAGA, BURKINA-FASO. POR ENQUANTO, TODA A
ORGANIZAÇÃO PARA REQUERER ESSE DINHEIRO COMO DE BOA FÉ, SENDO
PARENTE PRÓXIMO DO FALECIDO, E CONSEGUIR A APROVAÇÃO NECESSÁRIA
PARA TRANSFERIR ESSE DINHEIRO PARA UMA CONTA ESTRANGEIRA, TEM
SIDO INVESTIGADA. DIRETRIZES E INFORMAÇÕES NECESSÁRIAS SERÃO
ENVIADAS PARA VOCÊ ASSIM QUE DEMONSTRAR INTERESSE E DISPOSIÇÃO
EM NOS AJUDAR E SE BENEFICIAR DESSA GRANDE OPORTUNIDADE
COMERCIAL."
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Qualquer pessoa que realmente tenha enviado dinheiro para estes vigaristas
logo descobrirá que vai haver outras taxas. O dinheiro pode ficar retido na
fronteira e será preciso mais dinheiro para subornar os oficiais. Os vigaristas
normalmente pedem informações pessoais, como números da seguridade social e
cópias de passaportes. Isso vai longe, jogando-se com um dos mais perversos
aspectos dos golpes de longo prazo: uma vez que a vítima já gastou uma boa
quantia, ela acredita que, gastando apenas um pouco mais, receberá tudo de
volta. Com tanto dinheiro já investido, a maioria das pessoas sente muita
dificuldade de sair desse negócio. Algumas foram atraídas para o país de origem,
seqüestradas e mantidas lá em troca de um resgate. Existe até um assassinato
documentado (em inglês) relacionado a casos como esse. A Nigéria é famosa pela
combinação de pobreza e a aplicação ineficiente de leis, especialmente no que
diz respeito a golpes financeiros. A seção da lei nigeriana relacionada à fraude
é a 419, motivo pelo qual esses golpes são chamados de golpes 419,
ainda que eles possam ter origem em qualquer lugar, como mostra nosso exemplo
acima.
Outras versões desse golpe pedem dinheiro para supostas pessoas doentes,
crianças que precisa de operações especializadas e caras etc.
Golpes de vendas on-line
Outro tipo de golpe pela Internet atormenta pessoas que vendem produtos on-line,
principalmente nos Estados Unidos. Alguém responder a seu classificado,
oferecendo-se para comprar o item ou ganhando um leilão eBay, mas exige o uso de
uma empresa de remessa determinada ou diz que o regulamento do banco exige que
ele pague com um cheque pessoal de grande quantia. O cheque será de um valor que
excede muito o valor do item (por exemplo: um cheque de US$ 5 mil para um item
de US$ 100,00). O vigarista instrui o vendedor a descontar o cheque, ficar com o
valor do item e então enviar o restante de volta para ele. Se o vendedor não se
incomodar em esperar o cheque compensar (e muitos não se importam), o vigarista
ganhará US$ 4900 quando o cheque for retornado, deixando a vítima com um grande
prejuízo.
Continue lendo para aprender sobre mais trapaças, como evitá-las e o que
fazer se cair em uma delas.
Charles Ponzi
Charles Ponzi não tinha necessariamente a intenção
de criar um esquema de pirâmide, mas as coisas tomaram esse rumo.
Ele convencia as pessoas a investir na sua idéia comercial, mas,
quando os negócios não davam lucro o suficiente para pagar os
investidores de volta, conseguia novos investidores e usava seu
dinheiro para pagar os investidores originais. Esse processo se
repetiu várias vezes, até que os jornais e os investigadores de
polícia acabaram com seu plano. Bancos fraudulentos também usaram
esse esquema, oferecendo altas taxas de juros em contas-poupança
para atrair muitos clientes. Os depósitos dos novos investidores
eram usados para pagar os juros dos primeiros clientes e assim por
diante, até que o banco falisse ou os vigaristas sumissem com o
dinheiro de todo mundo. |
Golpes comuns no Brasil
Golpe dos cartões de celular pré-pago
Um golpe comum no Brasil nos últimos anos é o do celular pré-pago.
Normalmente, os vigaristas são pessoas que estão na cadeia ou são amigos de
pessoas que estão na cadeia. A pessoa liga para a casa da vítima, dizendo que é
da empresa telefônica. O vigarista convence a vítima de que foi sorteada e irá
ganhar um prêmio (um carro ou uma boa quantia de dinheiro). Para ganhar, a
pessoa precisa comprar uma quantidade de cartões para carregar celulares
pré-pagos. A vítima, então, compra os cartões e dá os números para a pessoa, que
os usa para carregar o próprio celular. Depois não volta mais a ligar.
Golpe da entrevista de emprego
A ansiedade da procura do emprego faz com que muitos brasileiros caíam nesse
golpe. Por e-mail ou telefone, o vigarista, dizendo-se de uma empresa de seleção
de pessoa, entra em contato com o desempregado e diz que seu currículo foi
selecionado para determinada vaga, Normalmente os golpistas usam nome de
empresas grandes, principalmente, multinacionais. O suposto candidato acaba
sendo convencido que terá que pagar uma taxa para continuar no processo de
seleção, que nunca vai acontecer.
Outras trapaças e como evitá-las
Golpe da reforma na casa
Normalmente um vigarista que esteja tentando dar este golpe, vai abordar o
proprietário da casa contando uma história parecida com esta:
"Estávamos trabalhando um pouco mais abaixo nesta rua e eu observei que você
precisa de um telhado novo. Temos alguns materiais que sobraram desse outro
trabalho e vamos ter de devolvê-los para o fornecedor de qualquer forma. Eu
posso usar essas sobras para fazer um teto novo por um preço bem bom."
Uma vez que o falso construtor estiver com o dinheiro em mãos, vai
desaparecer e não haverá nenhum telhado novo. Alguns vigaristas são empreiteiros
de verdade, mas dão golpes como parte de seus negócios. Eles podem até fazer
metade do telhado e pedir mais dinheiro. Quando uma pessoa tem um telhado pela
metade em sua casa, ela não está em posição favorável para discutir. O
construtor realmente pode concluir o trabalho, mas fazendo um serviço malfeito
ou usando materiais de segunda mão. Pior ainda, pode ter uma cláusula no
contrato que permita que ele penhore a casa e a execute através de hipoteca se o
dono não pagar. Se você se recusar a pagar pelo trabalho malfeito, pode acabar
perdendo a casa.
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Golpes de reforma da casa às vezes envolvem comissões para
outros vigaristas. Um empreiteiro aborda o proprietário de uma casa
oferecendo-se para trabalhar e o direciona para uma pessoa específica, que
ajudará a financiar o dinheiro necessário para o trabalho. Esse "amigo" deve
cobrar uma enorme taxa sobre o empréstimo do proprietário, enviando parte ao
empreiteiro. Em outros golpes, uma "inspetora de casas" aparece dizendo
representar a secretaria municipal de obras. Ela pode até ter uma identificação
que pareça real. Essa inspetora vai encontrar vários problemas que violam o
código e que resultariam em multas pesadíssimas. Como alternativa, ela direciona
o proprietário a um amigo que pode fazer o trabalho por um bom preço.
Normalmente não é um bom preço e o trabalho também nunca é bom: materiais
baratos, mão-de-obra desqualificada e reformas desnecessárias são as marcas
desses "especialistas em reformas de casa".
Trapaças em empréstimos
Hipotecas, refinanciamento de crédito e outros grandes empréstimos são um
mercado maior para os vigaristas. Atualmente, algumas empresas oferecem serviços
de "remoção de débito". Por um alto valor, eles vão fornecer um certificado que
invalida sua hipoteca ou outro débito, significando que você não tem mais de
pagar por eles, mas o documento fornecido não tem valor: não há escapatórias
legais que permitam que você se livre de uma dívida sem pagá-la.
Banqueiros vigaristas podem pular a página em um contrato de empréstimo que
diz que agora a casa pertence ao banco. As pilhas de papéis que o proprietário
da casa tem que assinar são de confundir a cabeça, e a pessoa pode não perceber
as letras pequenas. Algumas pessoas acabam dando suas casas a troco de nada.
Golpes de refinanciamento de hipoteca acontecem na mesma proporção. Esses
vigaristas roubam pessoas que já estão com problemas financeiros. A vítima
normalmente está tendo problemas em pagar sua hipoteca, aí o banqueiro vigarista
percebe que ela tem uma eqüidade na casa, muitas dívidas e não tem renda o
suficiente. Um empréstimo é oferecido, mesmo sendo óbvio que a vítima nunca irá
pagá-lo. Tudo bem para o vigarista: ele não quer os pagamentos, quer uma
execução hipotecária fácil.
Como evitar uma trapaça
Às vezes parece que o mundo está cheio de gente querendo colocar as mãos no seu
dinheiro, mas é preciso lembrar de algumas coisas que farão com que você resista
à maioria das trapaças:
- ninguém nunca ganha algo a troco de nada - há um velho
ditado que diz: "não se engana um homem honesto". A maioria das trapaças
baseia-se na ambição da própria vítima. Os vigaristas sabem que as pessoas
normalmente deixam de ser cuidadosas quando começam a ver sinais de dinheiro
e negociações que parecem boas demais para ser verdade - e normalmente não
são;
- proteja suas informações pessoais - principalmente o
seu número de cartão de crédito e de contas bancárias. Temos de usar esses
números em muitas das nossas transações diárias, mas se alguém solicitar uma
dessas informações, tenha certeza absoluta de que essa pessoa é alguém de
confiança ou trabalha em uma empresa respeitável;
- não aceite pedidos - se você receber uma ligação a
respeito de uma oportunidade de investimento ou se alguém bater na sua porta
oferecendo reformar a sua casa, desligue o telefone e feche a porta. Embora
existam empresas legais que vão de porta em porta ou que façam ligações para
encontrar clientes, elas são poucas;
- preste atenção nos sinais - os vigaristas normalmente
desistem se você fizer muitas perguntas. Peça um documento por escrito da
oferta, um endereço real e não uma caixa postal, a carteira de motorista e
tome nota das informações contidas nela. Anote os números da placa do carro
e certifique-se de que o vigarista veja que você está fazendo isso. Se for
uma oferta legítima, ele não irá se importar. Diga a ele que você precisa
pensar sobre o negócio por alguns dias antes de tomar a decisão. Um
vigarista normalmente irá pressioná-lo a tomar uma decisão na hora, usando
táticas de vendas como dizer que a oferta não irá durar. Eles podem ficar
nervosos quando você pedir algo por escrito e normalmente irão se recusar a
fornecê-lo. Quando uma oferta é legítima, a pessoa geralmente ainda estará
por perto na semana seguinte.
Se você foi trapaceado
Mesmo a pessoa mais esperta pode cair em uma trapaça. Se você foi vítima, o que
deve fazer?
Os vigaristas contam com o fato de que suas vítimas vão se sentir bobas e
com medo de denunciar o golpe, mas se você permanecer em silêncio sobre o
que aconteceu, irá permitir que o vigarista continue roubando outras
pessoas. Anote todos os detalhes o mais rápido possível, enquanto estiverem
frescos na sua memória. Reúna qualquer evidência documentada que você possa
ter, o que inclui recibos, contratos ou até gravações de telefonemas.
Agora é hora de entrar em contato com as autoridades. Você pode ter de
pesquisar um pouco para encontrar a agência certa ou alguém que queira ajudá-lo.
O departamento de polícia local talvez tenha uma divisão especial designada para
casos de fraude. Além disso, entre em contato com um advogado. Procure o
Fundação de Proteção e Defesa ao Consumidor (Procon) e
veja se há outras reclamações sobre esta mesma pessoa ou empresa: isso poderá
ajudar você e a polícia a pegá-lo. A Polícia de onde você mora também tem que
ser informada sobre isso. Se você realmente chegar a um "beco sem saída", tente
as emissoras de notícias das TVs locais. Muitas delas têm segmentos onde um
repórter rastreia um vigarista e exige respostas e os vigaristas detestam
holofotes.
No Brasil, a pena por crime de estelionato é de seis meses a seis anos, mais
multa.
Golpe violento
Um golpe, que tornou-se comum no Brasil, mistura
as táticas da vigarice com a violência psicológica. Vários
brasileiros já foram vítimas. O vigarista liga para o celular da
vítima (normalmente em horários em que a pessoa estaria
descansando), dizendo que determinado parente (eles normalmente têm
o nome) foi seqüestrado e exigem o valor do resgate. Ele ameaça
bater ou até mesmo matar o parente se a vítima tentar ligar para o
celular para checar. Depois de uma tensa negociação, quando
normalmente a vítima não pode desligar o seu próprio celular, os
vigaristas marcam um local para pegar o resgate e fogem. Além da
violência psicólogica, a vítima corre o perigo de também ser
realmente seqüestrada. Como no caso do golpe do cartão de celular
pré-pago, esses golpes têm a participação dos presos e de parentes e
comparsas do vigarista soltos. |