Uma das principais dúvidas dos investidores em relação à
oferta de debêntures recentemente anunciada pelo BNDES diz respeito à
rentabilidade. Afinal de contas, se o perfil de risco do banco estatal de
fomento deixa a maioria dos investidores tranqüilos e a liquidez deixou de ser
um problema, é a rentabilidade que deve fazer a diferença.
O próprio BNDES anunciou que a rentabilidade, composta por três componentes,
deve ficar alinhada com o retorno dos títulos do Tesouro Nacional. Mas quão são
estes componentes e como cada um deles influencia na rentabilidade final?
Correção pela inflação medida pelo IPCA
O primeiro elemento que determina a rentabilidade é a correção pelo IPCA. O
valor nominal investido será atualizado desde a data de liquidação da oferta até
seu vencimento pela variação do índice de preços usado pelo Banco Central para
determinar as metas de inflação.
Assim, o valor investido será automaticamente protegido em termos de valor de
compra, ou seja, deve crescer em linha com a variação do IPCA no período de
investimento. Portanto, isso reduz o perfil de risco, já que existe uma proteção
automática contra possíveis sobressaltos na inflação, o que não acontece, por
exemplo, em um título pré-fixado.
Cupom de 6% ao ano
Além da proteção contra a inflação, a debênture oferece também uma taxa de juro
anual, ou cupom, de 6% sobre o valor nominal. Assim, quem investiu R$ 10 mil
receberá todos os anos R$ 600,00 a título de juros, sem contar a correção do
valor investido que será realizada para fazer frente à inflação medida pelo
IPCA.
Vale lembrar que o cupom de 6% não significa que a rentabilidade da operação
será de 6% ao ano, já que existe correção pela inflação e também uma taxa de
deságio, que permitirá que a taxa efetiva da debênture supere, provavelmente com
certa margem, este patamar de 6%.
Deságio em relação ao valor nominal
O terceiro componente da rentabilidade é o deságio que será oferecido em relação
ao valor nominal das debêntures, que será de R$ 1.000,00. Isso significa que,
além dos dois elementos descritos acima, o investidor também ganhará com o
desconto oferecido. E será este desconto que trará a diferença entre o cupom e a
taxa efetiva ao investidor.
Quanto maior o desconto, maior será o retorno. Simulações do BNDES indicam que
um desconto de 10,07%, ou seja, a oferta da debênture a um preço de R$ 899,27,
levará o rendimento a 8,5% ao ano acima da variação do IPCA. Caso o desconto
seja de 13,74%, o retorno anual será de 9,5% acima da inflação.
Comparando investimentos
Embora o desconto que será oferecido ainda não tenha sido anunciado e, portanto,
a rentabilidade seja ainda indefinida, é possível posicionar as expectativas de
retorno das debêntures em relação a outras opções de investimento.
Uma comparação natural é com as NTN-B (Nota do Tesouro Nacional - série B),
títulos emitidos pelo Tesouro que também pagam cupom e que têm seu valor nominal
corrigido pelo IPCA. De acordo com informações disponibilizadas no site do
Tesouro Direto, existe uma série de NTN-B com vencimento em 2011 com rendimento
atualmente na faixa de 8,6% acima da variação do IPCA.
Para quem quer comparar com títulos pré-fixados, o mercado aposta que a Selic
feche o ano de 2007 em um patamar em torno de 12% ao ano, o que indicaria uma
taxa Selic média na faixa de 12,6% para o ano que vem. Como as expectativas do
mercado para a inflação medida pelo IPCA, segundo o relatório Focus, fica em
torno de 4,1%, o retorno acima da inflação não ficaria muito distante de 8,5% ao
ano.
Desconto agressivo pode fazer a diferença
A expectativa, portanto, é de um desconto no mínimo na faixa de 10%, o que
alinharia a rentabilidade das debêntures, que vencem em 2012, com outros
investimentos. Dois fatores, porém, devem ser destacados. Apesar da
classificação de risco da BNDESPAR ser a mesma que o governo brasileiro, títulos
de agências governamentais tendem a pagar um pouco mais.
O segundo fator é o interesse do BNDES em utilizar esta transação para
popularizar o mercado de debêntures junto à base de investidores pessoa física.
Assim como ocorreu no caso do lançamento do fundo PIBB, que ofereceu
diferenciais interessantes em relação ao investimento direto em ações, a
expectativa é esta transação seja vantajosa frente a investimentos similares.
Portanto, na hora de decidir pela sua participação, decida qual desconto mínimo
você está disposto a receber, de forma que sua participação ficará condicionada
a uma taxa de juro que faça sentido para sua estratégia de investimento