Introdução
Um dos fatores mais importantes para a sobrevivência das empresas na atual
economia global é a sua capacidade de continuamente buscar a aplicação de novas
tecnologias, novos mercados, novos métodos gerenciais e processos de negócio que
permitam uma operacionalização mais ágil e flexível. Existem porém dois fatores
determinantes para alavancar essas iniciativas de melhoramento contínuo do
negócio e aumento da competitividade dessas empresas. Trata-se do acesso e
obtenção de financiamentos e de um eficiente planejamento que permitam a
implementação dessas ações.
Com a atual crise econômica mundial e particularmente a situação brasileira,
a ausência desses fatores está, cada vez mais, determinando a falência e saída
do mercado de inúmeras empresas de diversos ramos de atuação, devido às altas
taxas de juros cobrados sobre o capital, sem falar na carga tributária excessiva
pela qual são submetidas essas empresas. Isso tudo vem culminando no aumento
contínuo do desemprego e levando inúmeros ex-empregados da indústria nacional a
tornarem-se pequenos empreendedores que se jogam, sem qualquer suporte ou
planejamento prévio, no sonho de vencer e ser dono do próprio negócio.
Em decorrência desse quadro, o número de MPEs (micro e pequenas empresas)
criadas no país vem aumentando a cada ano. Porém, em vez de significar uma
solução alternativa à crise econômica citada, isso tem trazido também outros
problemas econômicos e sociais ao país, haja vista o alto índice de mortalidade
dessas MPEs em seus primeiros anos de vida. Em pesquisa recente realizada pelo
SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) na região
metropolitana de São Paulo pôde-se ter um quadro claro a esse respeito.
Nota-se que mais de 50% das MPEs deixam de existir até o final do 3 ano de
vida. Ainda não se têm dados em nível nacional, mas segundo o próprio SEBRAE os
números são no mínimo iguais aos expostos acima ou maiores.
Uma iniciativa que vem proporcionando resultados animadores em todo mundo, e
também no Brasil, é a criação de incubadoras de empresas destinadas a amparar o
estágio inicial de empresas nascentes que se enquadram em determinadas áreas de
negócios. O principal objetivo de uma Incubadora de Empresas deve ser a produção
de empresas competitivas, que obtenham sucesso no seu mercado de atuação,
gerando benefícios econômicos e sociais. Este artigo trata de um aspecto ainda
pouco explorado pelas incubadoras de empresas e que envolve a sua própria
gestão: a capacitação dos seus gerentes na elaboração de planos de negócios.
O Gerente de Incubadora e o Plano de Negócios
No Estado de São Paulo já existem mais de 30 incubadoras de empresas ligadas
ao SEBRAE e à FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) atuando em
diversas áreas. Mesmo sendo uma iniciativa extremamente válida e, sem dúvida,
uma das melhores formas de auxílio às empresas nascentes, ainda existe uma
lacuna que não foi satisfatoriamente preenchida no tocante a assessoria das
incubadoras às micro e pequenas empresas: o auxílio na elaboração de planos de
negócios consistentes e que sirvam de base à gestão da micro e pequena empresa,
bem como na captação de recursos financeiros provenientes de linhas de crédito
como as do BNDES, bancos estatais e privados, fundos de investimento, venture
capitalists (capitalistas de risco) etc.
Em um estudo recente de avaliação das incubadoras do Estado de São Paulo,
publicado pelo SEBRAE-SP (SEBRAE, 1998), ficou constatada a falta de preparo e
conhecimento dos gerentes das incubadoras do Estado em disseminar a cultura do
plano de negócios junto às empresas incubadas e às próprias incubadoras. Essa
falta de cultura na utilização do plano de negócios por empresas brasileiras é
um problema sério que precisa ser focado com maior ênfase, pois o plano de
negócios é uma ferramenta extremamente eficaz e proporciona resultados
internacionalmente comprovados tanto na concepção do negócio, quanto na obtenção
de recursos financeiros e gerenciamento do dia-a-dia da empresa.
Segundo o U.S. Small Business Administration (SBA,1998), uma das principais
razões de falência das micro e pequenas empresas americanas é a falta de
planejamento do negócio, exatamente como ocorre no Brasil. Quando se considera o
conceito de planejamento têm-se pelo menos três fatores críticos que podem ser
destacados:
- Toda empresa necessita de um planejamento do seu negócio para poder
gerenciá-lo e apresentar sua idéia a investidores, bancos, clientes etc;
- Toda entidade provedora de financiamento, fundos e outros recursos
financeiros necessita de um plano de negócios da empresa requisitante para
poder avaliar os riscos inerentes ao negócio;
- Poucos empresários sabem como escrever adequadamente um bom plano de
negócios. A maioria destes são micro e pequenos empresários e não têm
conceitos básicos de planejamento, vendas, marketing, fluxo de caixa, ponto
de equilíbrio, projeções de faturamento etc. Quando entendem o conceito,
geralmente não conseguem colocá-lo objetivamente em um plano de negócios.
Considerando-se o que foi exposto anteriormente nota-se a grande relevância
do tema e a urgente necessidade de se desenvolver no país um método para a
disseminação do conceito e uso do plano de negócios. E uma forma de se promover
a implantação desse método a ser desenvolvido, condizente com a situação
específica de empresas nacionais, promover sua validação bem como a medição de
resultados, certamente será através de projetos piloto em incubadoras de
empresas.Porém, existe uma etapa anterior a ser suplantada: a capacitação dos
gerentes das incubadoras de empresas na utilização do plano de negócios como
ferramenta de gestão nas próprias incubadoras e também junto às empresas
incubadas. É relevante que se promova então um levantamento detalhado da
situação atual das incubadoras de empresas do Estado de São Paulo para servir de
base ao estudo aqui proposto. Este levantamento deverá cobrir aspectos gerais da
gestão das incubadoras e seu relacionamento com as demais entidades com as quais
se relacionam: os empreendedores interessados em constituir uma empresa; as
empresas incubadas interessadas em promover o crescimento de seu negócio; as
empresas graduadas (que já saíram da incubadora) que mantêm contato com a
incubadora; os mantenedores das incubadoras e a comunidade de forma geral. A
figura 2 procura expressar graficamente esta situação.
Dessa forma, poderão se identificar as necessidades de melhoria (os pontos
fracos) das incubadoras e onde a utilização do plano de negócios como ferramenta
de gestão pode ser promovida de maneira eficaz. Assim, obter-se-á dados
concretos que devidamente tratados proporcionarão resultados relevantes e
cientificamente válidos.
Na figura 3 pode-se observar alguns obstáculos presentes na vida do
empresário brasileiro conforme ocorre a evolução do seu negócio: desde a fase da
idéia inicial até a inserção e manutenção no mercado. Nota-se que mesmo com a
presença da incubadora de empresas como um facilitador para a pequena empresa,
as barreiras existentes são muitas. Estas barreiras também se devem ao fato da
falta de preparo das próprias incubadoras em assessorar de forma adequada esses
empreendedores.
Naturalmente, para que um projeto deste porte tenha viabilidade de realização
há a necessidade de se obter o comprometimento dessas incubadoras e as entidades
que as mantêm. O SEBRAE-SP constituiu recentemente (fev/1999) a Rede SEBRAE-SP
de Incubadoras de Empresas do Estado de São Paulo e firmou parceria com a
Fundação Parque de Alta Tecnologia São Carlos para auxiliar na gestão dessa rede
de forma a avaliar e promover as melhorias necessárias junto às incubadoras de
empresas do Estado. O presente projeto insere-se dentro deste projeto maior
patrocinado pelo SEBRAE-SP.
A Metodologia proposta, e que vem sendo aplicada neste projeto, segue os
seguintes passos:
1. Capacitação dos Gerentes das Incubadoras de Empresas do Estado de São
Paulo na elaboração de Planos de Negócios;
2. Elaboração, pelos gerentes das incubadoras, dos Planos de Negócios das
Incubadoras de Empresas da Rede SEBRAE-SP de Incubadoras de Empresas do
Estado de São Paulo;
3. Assessorar as empresas incubadas na elaboração do seu Plano de Negócios
(tarefa do gerente da incubadora);
4. Requisitar o Plano de Negócios das empresas interessadas em se instalar
na incubadora (tarefa do Gerente da Incubadora);
5. Promover revisões dos Planos de Negócios periodicamente (tarefa do
gerente da incubadora e das empresas incubadas).
Cabe ressaltar que o simples fato de se requisitar o plano de negócios às
empresas interessadas em se instalarem na incubadora é algo que, de certo modo,
vem sendo feito pela maioria das incubadoras. No entanto, não é dada a devida
atenção na elaboração do plano de negócios, suas seções prioritárias, como
utilizá-lo no dia-a-dia da empresa e da própria incubadora. Mesmo porque, como
já citado, poucos gerentes de incubadoras e empresas incubadas têm o hábito de
elaborar planos de negócios e poucos são os casos em que esta ferramenta é
efetivamente utilizada. Na maioria das vezes o plano de negócios serve apenas
como um check list inicial que após a admissão da empresa pela incubadora é
deixado de lado. A equipe da Fundação Parqtec tem assessorado os gerentes das
incubadoras para um perfeito entendimento e eficiente utilização do plano de
negócios, através de treinamentos, visitas e esclarecimento de dúvidas.
O desafio desse projeto é justamente quebrar esse paradigma. Para isso,
acredita-se que a melhor forma de se cobrar do pequeno empresário a utilização e
aceitação do plano de negócios como algo imprescindível para a coerente gestão
de seu negócio, será através do convencimento inicial do gerente das incubadoras
onde estas empresas estão instaladas. Isso porque estes gerentes muitas vezes
são conselheiros, orientadores e auxiliam o pequeno empresário empreendedor no
esclarecimento de suas dúvidas.
A utilização do plano de negócios como ferramenta de gestão por parte das
incubadoras servirá de base para a avaliação de desempenho dessas incubadoras em
relação aos seus objetivos de negócio e metas empresariais. Sendo assim,
pretende-se obter modelos de planos de negócios aplicáveis no contexto da
administração de incubadoras de empresas brasileiras. Esses modelos deverão ser
desenvolvidos tendo-se como referência a bibliografia internacional e nacional
sobre o assunto. Sua validação será realizada com a utilização dos mesmos de
forma sistemática nas incubadoras de empresas participantes do projeto.
Espera-se então analisar a eficácia desta ferramenta neste contexto e quais os
resultados de melhoria de gestão provenientes de sua utilização.
Conclusões
Apesar do curto período de tempo decorrido desde a implementação do projeto,
o primeiro treinamento em capacitação na elaboração de planos de negócios
efetuado junto aos gerentes de incubadoras de empresas participantes do projeto
pode ser considerado um sucesso, já que a sensibilização desses gerentes deu-se
de forma unânime, havendo inclusive o comprometimento de todos em apresentar uma
versão preliminar do plano de negócios de sua incubadora em 2 a 3 meses. Após as
devidas revisões iniciais e eventuais correções, espera-se que até dezembro de
1999 todas as incubadoras de empresas pertencentes à Rede SEBRAE-SP de
Incubadoras de Empresas estejam efetivamente utilizando o plano de negócios como
ferramenta básica na sua gestão. Acredita-se assim que um grande passo foi dado
e juntamente com as diversas iniciativas sendo desenvolvidas em todo país, em
pouco tempo, a cultura e o paradigma de que o brasileiro não gosta e não sabe
planejar seja apenas um fato de seu passado histórico.