Domenico de Masi lançou, no final da última década, o conceito do 'ócio 
criativo', expressão que deu origem a um livro de mesmo nome. Segundo o 
sociólogo italiano, de 69 anos, é possível alcançar um nível de atividades que 
envolva diversão, trabalho e estudo ao mesmo tempo.
O escritor chega a elogiar o Brasil, pela cultura do equilíbrio entre trabalho e 
lazer. A obra é sucesso por aqui e tornou-se praticamente um mantra entre os 
menos adeptos do trabalho duro. Finalmente alguém entendeu o significado de 
todos aqueles dias na praia... 
Um exemplo recente da aplicação da teoria do filósofo pode ser o Google, eleita 
em 2006 a melhor empresa para trabalhar nos EUA pela revista Fortune. A 
companhia permite que 20% do tempo de seus funcionários seja dedicado a projetos 
pessoais. Seria um benefício ou o reconhecimento formal de que as pessoas já 
fazem isso, talvez até em maior proporção, no horário comercial? 
Algumas corporações tentam limitar o acesso à web, represando um rio com fluxo 
em crescimento exponencial. Uma pergunta aos profissionais de recursos humanos: 
haverá concreto suficiente para a represa, ou está na hora de preparar os 
surfistas para essa onda? Sim, há rios com ondas, e adivinha de quem é o recorde 
de permanência e distância do surfe em ondas de rio, com direito a Guinness e 
tudo? De um paranaense, na pororoca.
O Brasil está sempre na liderança de permanência na internet. São 21 horas e 44 
minutos mensais, 15,5% à frente dos Estados Unidos, o segundo colocado. Em solo 
tupiniquim, já são 42,5 milhões de pessoas com algum tipo de acesso à web, 
segundo estudo do Comitê Gestor da Internet no Brasil, uma parceria entre o 
Ibope e o IBGE. Somos líderes também em relação ao tempo gasto em sites de 
comunidades, com 20% do tempo. Os espanhóis, por exemplo, gastam 5,1%, enquanto 
os americanos, apenas 2,8%.
Enquanto isso, a Web 2.0 compete cada vez mais com o chamado tempo produtivo e 
criativo das pessoas durante o expediente. Ou a 'web social' (sinônimo de Web 
2.0) está finalmente se transformando no ambiente ideal para o que o sociólogo 
italiano chamou de atividades que envolvam lazer, trabalho e estudos ao mesmo 
tempo? Eu adicionaria transações à lista. 
Afinal, não estamos entrando na era em que o vínculo motivacional finalmente 
prevalecerá sobre o empregatício? Ele sempre foi o mais importante, certo? Ou, 
como gostam os publicitários, era do share of passion? No final das contas, o 
que mais importa é a capacidade de um projeto, marca, empresa, comunidade ou 
produto estimular nossa paixão em trabalhar, comunicar, ajudar, compartilhar, 
criticar ou consumir - ações cada vez mais presentes na plataforma web, em 
qualquer lugar, a qualquer hora. 
Motivação e paixão vão muito além do dinheiro, como bem definiu o psicólogo e 
consultor americano Abraham Maslow, por meio da hierarquia de necessidades, ou 
Pirâmide de Maslow. Esse campo nós conhecemos tão bem quanto aquele em que duas 
traves servem de extremidade. Sim, é isso mesmo: temos tudo para alçar o Brasil 
à condição de líder, expert mundial em share of passion, principal fator que 
transforma a Web 2.0 de opressiva em libertadora. De dispersiva para eficiente e 
produtiva. De competitiva para colaborativa. De fechada para transparente. De 
independente para interdependente. Para esse salto, o Brasil pode virar o jogo 
ser campeão e virar o jogo. O empreendedorismo pede imaginação. Temos que ser 
capazes de pensar fora do quadrado. Começar do zero hoje é um diferencial. 
Ganhar ou perder depende só da gente. Vamos ser os brasileiros que se apaixonam 
sempre e pensam grande, além daqueles que não desistem nunca!