Se você é pai ou mãe com filhos em fase de aprendizado, certamente está
preocupado com a educação financeira deles. Segurança dos filhos, percepção de
que o caminho do enriquecimento é mais fácil quando iniciado desde cedo e
resignação quanto à indiferença do currículo escolar em relação a ensinamentos
sobre riqueza são provavelmente alguns dos motivos de sua preocupação.
Porém, reconheçamos os fatos. É muito provável que esta preocupação decorra de
uma constatação alarmada de que é possível levar a seus filhos um bom punhado de
orientações que, se estivessem a seu próprio alcance em sua infância ou
adolescência, sua situação financeira estaria bem melhor hoje.
Como seres racionais, aprendemos com ensinamentos e com reflexões sobre nossos
erros. E, durante o curso de sua vida até tornar-se pai ou mãe, é provável que
você tenha errado bastante em oportunidades de fazer escolhas de consumo, de
investimentos ou de financiamentos. Hoje, ciente dos erros que cometeu, sabe que
muitos destes erros foram cometidos por simples falta de referências, ou por
influência de amigos ou parentes que também erram, ou então por não saber a quem
recorrer para esclarecer dúvidas sobre dinheiro.
Não é culpa sua. Seus pais, avós de seus filhos, não tinham condições de lhe
ensinar muito sobre planejamento financeiro, pois viveram a maior parte de suas
vidas em um ambiente de inflação fora de controle, época em que um trabalhador
não tinha como prever qual seria seu salário no mês seguinte. Não podiam
ensiná-lo a confiar em bancos, pois o sistema financeiro brasileiro era muito
mais frágil do que hoje. Não contavam com as inúmeras alternativas de
investimentos que esse sistema oferece hoje à classe média. Nem mesmo com o
enorme volume de informações sobre dinheiro e investimentos que encontramos nos
jornais, revistas, televisão, rádio e internet. Obviamente, seus pais também não
tiveram na escola noções de economia doméstica e enriquecimento. Muitos avós de
hoje sequer tiveram a oportunidade de cursar uma escola!
Some a esta realidade o passado pobre do Brasil, que experimentou nas últimas
décadas um interessante enriquecimento e aumento do poder de consumo de boa
parte da classe média. Muitos pais de hoje tiveram uma infância repleta de
restrições financeiras. Mesmo que seus pais tenham tido a oportunidade de lhes
assegurar um nível mínimo de conforto em termos de alimentação, vestuário,
moradia e saúde, é inegável que nossa classe média teve sua infância e
adolescência menos consumista do que tem os jovens de hoje. Crescemos com uma
incômoda sensação de “falta” e limitações, apesar do esforço de nossos pais.
Muitas famílias de classe média de hoje ainda vivem uma vida simples e humilde.
Apesar de não faltar nada de que uma família precisa para estar bem, não há
grandes luxos como aqueles de que as famílias das novelas usufruem. Porém, uma
parcela muito grande de nossa classe média enriqueceu juntamente com o país,
aproveitando as oportunidades que surgiram com a abertura do mercado brasileiro
e com a estabilidade da economia da última década do século passado. E, ao
enriquecer, optou por rejeitar aquela vida simples de sua infância e decidiu
correr atrás de um padrão de vida melhor. Em outras palavras, decidiu batalhar
contra a sensação de “falta” que permeou seus primeiros anos de vida.
No passado, presentes eram menos freqüentes. Crianças de hoje esperam muito mais
do que celebrações de datas festivas. Esperam compensações, com presentes caros,
de todo o tempo que seus pais deixaram de dedicar à família em nome do trabalho.
Na cabeça das crianças, é o preço para ter muito dinheiro e poder comprar muitas
coisas.
A nova classe média quer satisfazer prazeres dos filhos, mas faz isso de forma
não planejada e sem medir as conseqüências. Itens de luxo do passado, que eram
consumidos apenas em eventos especiais, como refrigerantes, fast-food,
salgadinhos e um sem-número de produtos industrializados, tornaram-se
commodities de consumo cotidiano. As referências de consumo evoluíram. Presentes
não são mais justificados por datas especiais. Como o casal moderno trabalha,
sobram poucos minutos por semana com a família, e esses poucos minutos devem ser
transformados em celebração, preferencialmente com presentes. Já que trabalhamos
muito e ganhamos muito mais, podemos compensar nossa falta com a compra de bem
estar para os filhos.
A conseqüência está na mudança das necessidades dos filhos. No passado, as
crianças sentiam falta de mais luxos em sua família. As crianças de hoje,
rodeadas de luxos, sentem falta de sua família. O pior é que muitos pais
acreditam que suprem esta falta simplesmente por conseguir comprar tais luxos.
Talvez seja hora de rever valores, e buscar uma vida mais rica para a família.
Uma mudança de atitude dos adultos em relação ao consumo já é um primeiro passo
para a educação financeira de seus filhos. Eles certamente aprenderão se a
família tiver exemplos a serem seguidos.