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Imóveis - Portarias de prédios: O ponto fraco da segurança: os porteiros 

Data: 30/05/2007

 
 

Os verdadeiros números são um mistério. Na estimativa de alguns policiais, pelo menos cinco prédios são invadidos por ladrões a cada mês em São Paulo. Oficialmente, a Secretaria da Segurança Pública não confirma nem desmente a informação. Apenas diz que os assaltos a apartamentos integram a estatística geral de roubos e estão pulverizados entre os milhares de casos registrados nos distritos policiais. Só no primeiro trimestre houve 31.328 roubos na capital.

Mas o consultor de uma entidade que representa administradoras de condomínios fez suas próprias contas e as considera bem próximas do número real – segundo ele, entre 10 e 15 prédios são alvo de ladrões por mês. Ele também calcula que os casos que chegam ao conhecimento da polícia não representam 30% dos ataques a condomínios que acontecem na cidade.

“Grande parte dos moradores dos prédios assaltados, principalmente os de maior poder aquisitivo, não faz o boletim de ocorrência. Ter o endereço do condomínio assaltado na imprensa compromete a imagem do prédio e desvaloriza os imóveis”, observa o consultor. E é exatamente para não despertar a ira de quem pagou em torno de R$ 1 milhão por um apartamento de luxo que ele prefere não ser identificado.

“Ninguém vai querer comprar um apartamento com esse valor se for divulgado que o condomínio já foi assaltado”, diz o representante da administradora. Além disso, segundo ele, a falta do registro formal na delegacia tem outro motivo: muitas vezes, o principal alvo dos ladrões são jóias e dólares – e a vítima nem sempre tem como comprovar a origem dos valores que mantém nos cofres de casa. “Há também casos em que a pessoa roubada tem uma atividade ilegal e, por isso, prefere arcar com o prejuízo do que levar o fato à polícia.”

A Coordenadoria de Análise e Planejamento (CAP), órgão diretamente ligado ao gabinete do secretário Saulo de Castro Abreu Filho, tem os números corretos. Mas a assessoria da SSP informa que, “em razão do grande número de solicitações dessas informações, o pedido do JT será atendido em breve”.

O delegado Edson Remigio de Santi, do Departamento Estadual de Investigação Sobre o Crime Organizado (Deic), acompanha há pelo menos dez anos a “carreira” de alguns assaltantes de condomínio. Os mais perigosos já estão na cadeia – como José Carlos Rabelo, o Pateta, Alexandre Pires Ferreira, o ET, e Daniel Maciel – e outros morreram, caso de Carlos Alberto de Andrade, o Carlinhos Body Glove, e Rodrigo Octávio Carmezim Cattapani, o Tiazinha.

Na fila de espera do delegado Santi, que investiga suas ações, estão Marcelo Ik Vidal Miranda, o Beco, Inacildo Lima Siqueira, o Cidão, e Marcos André Mafra. Alto, moreno, olhos verdes, Mafra tira proveito da boa aparência para enganar porteiros desatentos. Há pouco tempo, trajado de policial militar, entrou em um condomínio de classe média alta do bairro de Santana e causou um grande prejuízo.

O delegado do Deic conta que há os ladrões que agem “de zóia”, isto é, na base da observação das facilidades para o ataque. Detectam as falhas na segurança, como o tempo de fechamento da garagem, a desatenção dos moradores, que não fecham corretamente os portões, ou a falta de treinamento dos porteiros. “A quadrilha do Beco age dessa forma”, diz o policial.

Dispositivos impressionam, mas não intimidam ladrões
Outros grupos, no entanto, não se intimidam com equipamentos eletrônicos nem com a aparente segurança. “Quando o roubo está planejado, eles roubam mesmo”, diz o delegado. “Reúnem um bando bem armado e disposto a tudo.”

Esse tipo de quadrilha geralmente é integrada, no mínimo, por oito ladrões. Há o “olheiro” – esse fica na rua observando uma eventual aproximação da polícia –, o segundo assaltante fica na portaria, o terceiro permanece no hall e a outra parte se divide entre a garagem e o arrastão nos apartamentos.

“Já foi o tempo que o apartamento era um lugar seguro”, aponta o delegado. Mas alguns cuidados, segundo ele, podem afastar os ladrões oportunistas, que aproveitam as falhas explícitas de um prédio para dar o golpe. Uma das falhas mais comuns, encontradas tanto em prédio de classe média quanto nos condomínios de luxo, é a construção das guaritas perto dos portões. “De que adianta ter tanto equipamento de segurança se a guarita está perto do portão e com uma pessoa desarmada dentro dela?”, questiona o policial.

A entrega de encomendas, como pizzas, pacotes ou flores, deve ser feita através de compartimentos acoplados ao portão. É que um golpe freqüente aplicado nos porteiros é justamente o da entrega de encomendas. O delegado conta que entregadores de pizza podem ser dominados por ladrões, que tomam o lugar dos motoboys.

Edson de Santi aconselha, também, que os controles remotos dos portões da garagem nunca sejam deixados dentro dos carros. “O morador deve sempre levá-lo para casa ou para o trabalho”, explica. “Há ladrões que simulam o furto de um toca-fitas quando, na verdade, o alvo é o controle remoto.” Por isso, o delegado insiste: “Os condôminos têm de se reunir e discutir esses problemas. Por causa de uma pequena falha, a segurança de todos está em jogo.”
 



 
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