No ambiente esportivo, a expressão fair play é conhecida tanto pelos atletas,
como pelos fãs de esportes. O fair play pode ser entendido como espírito
esportivo, que abrange, além da ética, o respeito às regras, ao adversário, ao
colega, entre outros. Mas, fora dos campos, o conceito pode ser aplicado no
ambiente de trabalho?
Para a professora de Inovação e Competitividade Empresarial da Veris
Faculdades e consultora na área de ética profissional e empresarial, Vera Lúcia
Baroni, é possível aplicar o fair play dentro das empresas. “O fair play pode
ser entendido em dois níveis: o formal e o informal. O primeiro está relacionado
ao cumprimento das regras e o segundo aos valores morais”, explica.
Segundo a especialista, em ambos os níveis, ele deve ser aplicado tanto no
ambiente empresarial como no de trabalho. Ela acredita que tanto as empresas
como os colaboradores devem seguir normas. As empresas devem agir conforme as
regras estabelecidas pela sociedade, enquanto os trabalhadores devem agir
orientados pelos empregadores.
O fair play inclui ainda valores éticos e morais. “O fair play também é ética
e respeito. É possível ser aplicado pelo fortalecimento do espírito de equipe,
pelo respeito ao próximo”, diz.
Metas e pressão
Muitas vezes, dentro das organizações, o fair play pode ser quebrado pela
pressão em atingir metas e resultados positivos. “É a mesma pressão que existe
no esporte. A pressão por resultado, a qualquer custo, pode levar ao desrespeito
e à falta de ética”, acrescenta Vera.
A mesma opinião é compartilhada pelo Master Coach e autor do livro “A
Reinvenção do Profissional - Tendências Comportamentais do Profissional do
Futuro”, Alexandre Prates. Para o especialista, muitas vezes, isso ocorre porque
as pessoas, em vez de pensar no resultado da empresa, pensam somente no
resultado pessoal.
Prates acredita que a competição dentro das empresas é saudável, já que
estimula o crescimento tanto dos profissionais, como da organização. Mas para
que a competição seja positiva, é necessário que as empresas tenham o que ele
chama de cooperação sustentável.
“A competição deve ser regida por valores. Sem determinação dos valores, da
ética, o que prevalece é uma competição desonesta. Com a cooperação, o
profissional pensa nos outros, compartilha as estratégias. Você ganha, mas o
outro não pode perder. Se a empresa não ganhar, o resultado não vale
absolutamente nada”.
Crítica
O especialista acrescenta ainda que quando os atletas não seguem o conceito
de fair play no esporte, eles são altamente criticados, já nas empresas, quando
isso ocorre, muitas vezes não tem consequência. Isso acontece porque, no
esporte, o conceito está amplamente divulgado e é conhecido por todos, enquanto
nas empresas, a situação é oposta.
“Nós vemos reuniões para discutir resultados e metas, mas não sobre valores.
Muitos líderes preferem manter um profissional que não coopera, mas atinge
resultado. Isso é bom em curto prazo, mas a longo prazo pode acabar com uma
equipe”, ressalta.
Como implantar o fair play
Para Prates, é possível implantar o fair play de algumas maneiras dentro das
organizações. A primeira é conceituando os valores por meio de palestras e
treinamentos A segunda é por meio de conversas individuais, nas quais o líder
trabalha o conceito diretamente com o profissional.
Já a terceira é por estratégias de remuneração, em que o colaborador só é
premiado se o grupo conseguiu atingir a meta. Ele afirma ainda que o gestor
exerce papel fundamental, já que ele é o modelo. "Não adianta falar e agir de
maneira anti-ética com os pares, com os outros líderes”, finaliza.